Capítulo 8: Situações

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Voltamos para a sala e percebi que fiz dois novos amigos. Durante as outras aulas, percebi também que Felipe e Elizabeth estavam se dando muito bem e que dali podiam sair sentimentos maiores, e até o que muitos chamam de “amor”. Quanto a Nicolas e eu, parecia uma boa amizade, só não entendia por que meu coração palpitava cada vez que ele sorria.

...

 Como era sexta-feira, nós só iríamos nos encontrar na segunda, então trocamos e-mails e telefones para nos falarmos durante o final de semana. Subimos no ônibus e nos despedimos quando cheguei a Confeitaria da vovó que se chama “Luiza’s Dream” em homenagem a mamãe. Tive que descer lá para ajudar vovó como garçonete, pois Sabrina, umas das empregadas de apenas 19 anos que trabalha forçada por seus pais, estava doente com suspeitas de gravidez. Me senti muito desconfortável, porque vovó com sua mania de deixar tudo fofo e adorável ao extremo faz suas empregadas usarem vestidos de empregada em estilo japonês. Apesar da vergonha, não podia deixar vovó “na mão”.

Me troquei. Vovó soltou meu cabelo e disse que cabelos “ao vento” atraem muita clientela, principalmente a masculina, acrescentou brincando e tirando sarro do meu rosto envergonhado. Com muito desconforto e vergonha fui atender o primeiro cliente, que para a minha grande surpresa era: o papai! Ele me encarou com olhos brilhantes e cheios de ciúme.

- Que roupa é essa Maria Luiza? – Gritou com raiva.

- Foi a vovó que pediu para eu substituir a irresponsável da Sabrina! Não grita comigo! – Disse em alto e bom tom.

Todos empregados e alguns dos poucos clientes presenciaram a fúria de um pai completamente ciumento e bobo, mas que apenas se preocupa com sua “pequena” filha.

Vovó saiu da cozinha e disse:

- Sim, foi eu quem pediu Fernando! Algum problema? Pare de ser ciumento, ora!

- Desculpe Cecília, desculpe Malu. É que você está tão linda... Fico com medo de fregueses “assanhadinhos” mexerem contigo. – Disse justificando todo aquele ataque de ciúmes.

- Papai eu não dou liberdade para esse tipo de pessoa. Sei muito bem me defender! E vovó está aqui para me “proteger” ou o que seja! – Respondi, interrompendo toda aquela bagunça.  

Ele tomou um café, comeu um Cupcake de amora, agradeceu e foi buscar Tavinho no Futebol.

...

Assim que papai saiu, meu telefone tocou, era Elizabeth:

- OIII MALU! – Me cumprimentou, feliz.

- OLÁ LIZ! Que surpresa! – Respondi, feliz.

- AAAH SUA VOZ É PERFEITA! É UMA HARMÔNIA PARA OS MEUS OUVIDOS! – Disse toda empolgada e com um certo tom de interesse, mas parecia mesmo ser verdade.

Depois de ter me elogiado, disse que ela e Nicolas estavam entediados e queriam fazer alguma coisa comigo sua “nova amiga”. Quando ela falou isso, me emocionei e fiquei em silêncio por alguns segundos. Acordei com um “Malu? Você tá ai?” de Elizabeth. Eu a agradeci e lamentavelmente respondi que estava trabalhando na confeitaria da vovó.

- Ué, não tem problema! Foi onde você desceu do ônibus hoje, não é? Sei onde é. Estamos indo para ai! – Respondeu rapidamente, e logo depois desligou o telefone.

Vovó, que estava passando por ali, perguntou quem era e ficou pulando de felicidade quando respondi que era minha “amiga”.

...

Estava tudo muito bonito, mas então lembrei: Nicolas também viria! Então pensei: E agora!? E se ele me ver assim? O que ele vai dizer? Antes que eu conseguisse me esconder, os dois chegaram e cumprimentaram vovó com um “Boa tarde Dona Cecília!”.

Eu corri e me escondi embaixo do Balcão de doces.

- Onde está a Malu!? – Perguntou Elizabeth enquanto Nicolas olhava para o balcão.

Nicolas se aproximou e olhou para de baixo do balcão onde me encontrou de olhos fechados. Ele entrou atrás do balcão enquanto vovó e Elizabeth conversavam, se agachou na minha frente e me olhou surpreso.

- O-oi... – disse sorrindo enquanto colocava meu cabelo atrás da minha orelha direita – por que está escondida aqui?

- Porque eu estou horrível com essa roupa de empregada! Não queria que você, quer dizer, vocês, me vissem assim ... – disse com as bochechas vermelhas de vergonha.

Quando Nicolas ia abrir a boca para falar algo, Elizabeth chegou e o interrompeu.

- Malu você tá muito linda! Você deveria se vestir assim mais vezes, ficou muito fofa, não é mesmo vovó? – gritou enquanto discutia minha aparência com a vovó.

Enquanto as duas conversavam sobre a minha aparência, fui buscar um Sundae para ela e outro para Nicolas. Chegando a cozinha, encontrei Nicolas conversando com Alessandro, um dos cozinheiros que teve que ir ao depósito buscar ingredientes para o prato do dia que era torta de nozes com chocolate. Quando Alessandro saiu, Nicolas se aproximou um pouco de mim, mas ele não disse nada. Me senti como se fossemos Tia Samy e o papai. Fui pegar a calda de caramelo que estava na prateleira de cima, então subi em um banquinho e acabei me desiquilibrando e quase cai. Só não cai, porque Nicolas me segurou e lentamente me colocou no chão. Foi muito vergonhoso! Mal consegui encará-lo para agradecer.

...

Elizabeth tomou o Sundae e notou o desconforto entre mim e seu irmão.

- Vocês dois estão meio estranhos ... Aconteceu alguma coisa? – perguntou com cara de quem já sabia a resposta.

- NÃO! – Respondemos ao mesmo tempo.

- Já que preferem assim ... –Respondeu com um sorriso vago.

...

Passamos quase a tarde toda na confeitaria, então quando deu quatro horas, vovó disse que eu estava liberada e que dava conta do recado, pois tinham poucos clientes.

Fui trocar de roupa, e quando estava tirando meu uniforme, reparei que havia algo dentro do bolso lateral. Era um guardanapo. O abri, e nele estava escrito assim:

“Não consegui falar

Como você estava linda

Espero que tenha gostado

Da minha tão recente vinda.

- N. H."

 “Ai meu Deus! Será se Nicolas está gostando de mim?” – Pensei. Meu coração acelerou, mas do que eu estava falando? Nunca me senti assim antes. Fiquei encantada com tanta melodia e doçura. 

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