Capítulo 14: Inconsciente

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Chegamos ao acampamento, já era noite, então rapidamente jantamos e nos dirigimos às nossas barracas.

Na hora de pegar nossas bagagens percebi que Paloma (a gêmea loira que era um dos capachos de Raquel, estava se oferendo para Nícolas. Toda tempo ela pedia a ajuda dele para carregar sua bagagem ou agarrava seu braço e gritava quando via algum inseto. Não sabia o por que, mas fiquei muito irritada com aquilo, como se tivessem sanguessugas rastejando por dentro da minha pele. Sentia vontade de abraçá-lo, de levá-lo para bem longe dela e apenas pra perto de mim.

Fomos dormir. Eu, graças a Deus, dividi minha barraca com Elizabeth. Quando estava prestes a me deitar, ela notou o meu desconforto.

- O que houve Malu? Você parece estar aborrecida com algo, está com uma cara… - Perguntou ela, curiosa.

- Bem, eu não sei por que, mas eu não suporto ver aquela peçonhenta da Paloma perto do Nícolas! É como se tivessem sanguessugas rastejando por dentro da minha pele, como se tivesse a quilômetros de distancia dele, como se eu não existisse mais pra ele. - Respondi deitando com a cabeça no aconchegante colo da minha única amiga.

- Isso é normal Malu. - Respondeu ela penteando meus cabelos. - E se chama ciúmes! Que fofa você com ciúmes daquele idiota do meu irmão! Mas fique tranquila, ele só deve estar ajudando ela por pena e respeito. E ele não gosta desse tipo de garota, ele só tem olhos… OPS! - Disse interrompendo sua própria frase.

- O que disse? - Perguntei confusa.

-Nada… Enfim, vamos dormir, amanhã temos que acordar cedo… - disse disfarçando.

Não consegui dormir, não parava de pensar em Nícolas e no que Elizabeth havia dito. O que ela quis dizer com “só tem olhos para…”? Essa pergunta ficou martelando na minha cabeça. E se ele já gostasse de outra garota que não fosse Paloma? Por um momento pensei em ser eu, mas logo descartei essa possibilidade. Vovó disse que amar é bom, mas até agora só tive ciúmes, insônia e saudade, e para mim, esses estados de espírito não parecem ser nada bons…

O dia amanheceu, estava ensolarado apesar de estarmos no começo do Outono. Primeiro fomos tomar banho no alojamento que ficava a uma distância que demorava cerca de 30 minutos a pé para chegar. No caminho, eu ia conversando com Liz e, infelizmente, Nícolas sendo arrastado por Paloma que gritava e agarrava o braço dele cada vez que via uma mosca. Eu estava morrendo de ciúmes, mas não podia fazer nada. Nícolas tentava se aproximar de mim e de Liz, mas…

- Vamos Níck, aquele caminho tem menos insetos. - dizia a “repetida” pegando no braço de Nícolas e o levando para longe enquanto me encarava.

Tomamos café e logo recebemos uma ordem do Lorde Bernardo que mandou que escolhêssemos uma espécie e fizéssemos um breve relatório sobre seu comportamento. Ele nos distribuiu em duplas. Eu fiquei junto de Nícolas para a infelicidade de Paloma que ficou junto de Raquel. Elizabeth ficou com Felipe e Guilherme com a outra gêmea Paola que era um pouco mais amável que a sua “cópia”.

Eu e Nícolas escolhemos um Bicho-folha para observar. Me diverti muito e fiquei impressionada com a forma que ele é muito semelhante a uma folha real. O peguei na mão e o olhei bem de perto, o que surpreendeu Nícolas.

- Que incrível Malu! Você deve ser a única garota que conheço que tem coragem de pegar um inseto assim. A maioria delas morre de nojo, ou simplesmente ficam com frescura.

- Realmente. Eu, quando era menor, também me comportava assim: tinha um medo inexplicável de insetos. Mas, Tavinho começou a colecioná-los e os usava para tentar me assustar. De tanto conviver com esses pequenos seres, perdi totalmente o medo e nojo inexplicável que sentia por eles. - Respondi enquanto colocava o bichinho sobre um arbusto.

Apesar de me divertir e estar com a pessoa que me causava “borboletas no estomago”, não pude deixar de pensar nele com a insuportável da Paloma. Logo fiquei cabisbaixa.

- O que foi Malu? Tudo bem? - disse meio preocupado interrompendo meus pensamentos.

- Não é nada.

Até o fim do relatório me mantive em silêncio e Nícolas respeitou minha decisão.

Já estava quase no fim da tarde, por isso Bernardo e Tatiane pediram que pegássemos galhos para acendermos uma fogueira. A noite seria fria, iríamos precisar. Fomos. Acabei indo procurar sozinha já que Elizabeth não desgrudava de Felipe, assim como Paloma não desgrudava de Nícolas e Raquel de Guilherme que encarava Liz sem parar.

Paloma se afastou com Nícolas. Não queria segui-los, mas meu coração ordenou que os seguissem e assim o fiz. Quando percebi não conseguia fazer meus pés pararem de correr. Eles estavam ali, conversando, tão próximos e eu igual a uma boba, parada atrás de uma árvore, observando enquanto meu coração era despedaçado. Estava com uma partícula de pânico, mas estava tudo bem, afinal, eles estavam apenas conversando, não era nada de mais. Por um instante me distraí com um pequeno esquilo e quando voltei a olha-los, vi algo que temia com todas as minhas forças: Paloma e Nícolas se abraçando. Eu queria sumir, meu coração estava dolorido, meus batimentos acelerados e dos meus olhos brotaram lágrimas incontroláveis. Me senti uma tola por pensar que Nícolas sentia algo por mim. Corri muito, meus joelhos estavam gastos e esfolados. Acabei por tropeçar em um tronco e despenquei barranco abaixo. Apaguei e a última coisa de que me lembrei foi de uma terrível dor em meu tornozelo direito.  Vovó estava certa: o perigo me aguardava.

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