Meu celular vibra em cima da mesa, cantarolando uma musiquinha de despertador.
Fim do expediente.
Inclino minhas costas para frente e ergo meus braços para cima, em um espreguiçar um tanto quanto exagerado. Mas quando eu não sou exagerada né?
Pego minha bolsa ao lado da minha cadeira e verifico pela milésima vez se minhas coisas estão ali. À algumas dias atrás acordei atrasada e tive que sair às pressas. No caminho eu acabei perdendo a chave do apartamento que estou morando e se não fosse para piorar, a chave reserva do condomínio tinha sumido. Resumindo, eu tive que dormir na casa do zelador. Não que ele seja má pessoa, mas nada é melhor que o aconchego do lar.
Saio da minha sala entrando no corredor de recepção. A sede onde trabalho, é a única do estado de Mato Grosso do Sul que une diversos especialistas em várias zonas de distúrbios mentais ou de personalidade. Sou uma dos cinco psicólogos mais renomados do Brasil, e tenho esse emblema por merecer.
Meu último trabalho foi no Espírito Santo, em uma prisão. Eu tive que lidar com estrupadodes, psicopatas, assassinos e não vou negar, não é fácil conviver com isso.
As pessoas olham para um psicólogo e pensam: Nossa mais seu trabalho é muito fácil, você só precisa sentar a bunda numa cadeira e escutar os problemas dos outros.
Sabe, dá uma vontade de olhar na cara da pessoa e falar: Quer ir no meu lugar? Eu deixo.
Ouvir é só a ponta do iceberg. Isso sem contar os anos de preparação psicológica na faculdade, ter um estômago de ferro, e ser um pacifista controlador de raiva e qualquer sentimento ruim ao extremo.
Eu fiquei de frente à estrupadodes, tanto de mulheres quanto de crianças, qualquer um se jogaria em seu pescoço para matá-lo. Quantas vezes eu quis fazer isso, mas eles são meus pacientes, e eu preciso ajudar.
Mesmo não tendo à fé que minha mãe tem, eu e todos os psicólogos do mundo, mesmo que de outras religiões temos um mandamento em uso. Amai ao próximo como a ti mesmo.
Mesmo eles não sendo meus irmãos de sangue, são meus irmãos de espírito, e se eu não pudesse mais cuidar de mim mesma, eu iria querer ajuda. E é isso que somos. Somos as bóias para os que não sabem nadar. Somos os professores da vida, e somos os amigos para os solitários e perigosos.
Entro no elevador e aperto o botão para a garagem. Olho minha caixa de mensagens, e vejo alguns emails de empresas famosas no país me oferecendo vagas de emprego. Depois que fiquei conhecida pelo meu trabalho na prisão, com a renovação de mais de quinhentos presos, meu celular não para de apitar. A porta do elevador se abre revelando meu colega de trabalho Felipe Baldez, psicólogo infantil.
- Oi Fê. Esqueceu alguma coisa?
- Oi Laurinha. Não, só os relatórios da semana que esqueci de entregar. A Cármen me barrou no portão acredita?
- Ela já vez o mesmo comigo.
Nos despedimos entre risadas e começo a andar na direção que estacionei meu carro. Dona Cármen, mesmo tendo sessenta e dois anos parece ter mais energia que todos os cinquenta funcionários da sede juntos. Isso sem contar a memória à longo prazo, ela é a melhor recepcionista e secretária do mundo, simpatia e diversão unidas no corpo de uma senhora.
Abro minha bolsa para procurar as chaves quando vejo meu Palio azul escuro no meio de duas enormes caminhonetes. Ao pegar as chaves sinto uma sensação estranha. Olho a minha volta e não vejo nada além de um mar de carros. Acelero meu passo e entro no carro utilizando à chave e não o controle. Meus instintos não param de piscar a palavra perigo diante dos meus olhos. Espero alguns segundos e nada. Minutos e nada. Começo a pensar que talvez seja besteira vindas da minha cabeça.
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Dark Nova Espécie
Fanfiction#1 Jamesmcavoy #1 Novaespecies #2 Pantera "Se minha vida fosse medir minha dor de um a dez, seria onze desde que eu me lembro. Todo mundo sofreu antes de estar aqui em segurança. Então porque eu ainda estou sofrendo? " Dark, ou 1306 como era chama...