Capítulo 19

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Dark

Inacreditável, quase indescritível dizer o quanto uma simples pessoa pode prejudicar uma população inteira.

Sem me preocupar com a queda, pulo o muro pelo lado de dentro e paro alguns metros distante  da escada em um som oco e pesado, que para os outros foi abafado pelo barulho da chuva e pela adrenalina correndo nas veias, provavelmente alterando os sentidos de todos. Me aproximo do grupo de pessoas que se formou ao redor dos amontoados de ferros que a uns segundos atrás era chamado de portão. Gritos de dor e desespero daqueles que estão presos nas ferragens se misturam com o barulho dos pequenos riachos que agora formaram ondas ainda maiores e passaram para um pequeno rio enfurecido. Puxo a gola de uma das pessoas presas, com cuidado para não desmoronar ainda mais em cima dos outros.

As pessoas ainda confusas correndo de um lado para o outro sem saber o que fazer, pra onde ir, sem sinal algum de coordenação estão começando a me estressar. É bastante óbvio o que é preciso fazer agora.

Saio de perto do grupo de pessoas e me aproximo do único nova espécie que parece estar racional.

  - Fury, o quê vamos fazer?

Por um momento sinto um resquício de pânico girando ao redor de seu corpo, como se ele estivesse se forçando a se manter de pé.

  - O sinal foi cortado, não temos como nos comunicar com a base. Temos soldados feridos e isso inclui o paramédico que está conosco. Temos três carros fortes invasores, com no mínimo 15 pessoas em cada, totalizando 45 pessoas. Eles se espalharam pelas estradas,  indo em direção aos dormitórios, sede e zona de treinamento.

Contínuo insistindo em uma resposta, mas ele parece perdido em seus próprios pensamentos.

Em um movimento bruto, agarro seus ombros e começo a sacudi- lo com força o suficiente para fazer ele rosnar em protesto. Encho o peito de ar e grito a plenos pulmões.

- ACORDA PRA VIDA! SUA MULHER PODE ESTAR EM PERIGO!

Foi como um estalar de dedos ou o acender de uma lâmpada; o olhar oblíquo que antes estava em seus olhos,  foi expulso por um olhar cheio de determinação e raiva; ele está obstinado.

- Quantos soldados ainda temos no momento?

- Temos 6 feridos, 3 em estado moderado e 3 com ferimentos leves; 15 totalmente ilesos e aptos para a perseguição.

- Vamos nos dividir em três grupos e ir atrás dos invasores. Tiger, lidere para a zona de treinamento, eu vou para a sede e você lidera para os dormitórios.

Ele se aproxima de mim e segura nos meus ombros,  olhando tão fundo nos meus olhos que sinto como se pudesse ver através de mim.

  - Dark, estou contando com você,  não deixe ninguém machucar a minha Elle nem os moradores de homeland!

  - Pode contar comigo.

Rapidamente os grupos são divididos em três carros e seguimos pelo mesmo caminho que a alguns intantes foi invadido por carros de fora. Só espero que não seja tarde demais.

Laura

O barulho da chuva está cada vez mais forte,  ao ponto de fazer com que a Floquinho uive sem parar.

  - Calma garota, é só a chuva.

Afago sua cabeça por alguns minutos,  fazendo com que ela se acalme um pouco e volte a brincar com seu brinquedo novo. Um patinho de pelucia que ganhou de uma nova espécie; desde que ganhou não largou mais.

Lavo minhas mãos e continuo a cortar os legumes para a janta. Hoje eu não estou com muita fome, e está um pouco frio por conta da chuva. Uma sopa de legumes é a escolha perfeita para hoje.

Com a panela em fogo e todos os ingredientes já dentro dela, subo as escadas, afim de tomar um banho rápido. Passo pelo corredor já retirando minhas peças de roupa, parando apenas para pegar a minha toalha em cima da cabeceira da cama. 

Entro no banheiro e, por um momento,  todos os barulhos de chuva cessam, como se o mundo tivesse congelado no tempo.  Ligo o cronômetro do celular para sete minutos,  que é tempo suficiente para o banho e para a sopa ficar pronta. Com o cronômetro girando, começo meu banho, sem me preocupar com nada ao meu redor; apenas o barulho do chuveiro e o tic tac do celular se fazem presentes no ambiente.

Desligo o chuveiro e logo o alarme toca informando o tempo gasto.  Me envolvo na toalha e descalça mesmo, sigo em direção ao andar de baixo, mas ao chegar no meio da escada paro abruptamente. Sinto meu coração apertar e todos os pelos do meu corpo se arrepiarem. Meu sexto sentido começa a apitar como se fosse uma panela de pressão antiga, prestes a explodir.

Olho perto do sofá e vejo o patinho de pelucia, mas nenhum sinal da Floquinho. Fico parada por alguns segundos,  esperando ouvir algum som dentro da casa, e logo escuto passos na cozinha, passos que não são de cachorro. Pelo barulho,  parece estar próximo a porta de vidro com acesso à varanda dos fundos. Eu tenho uma chance.

Com esse pensamento em mente,  me agacho e termino de descer a escada, logo me escondendo atrás da estante de livros que fica do lado do vão entre a cozinha e a sala. A visão em seguida faz com que meus olhos encham de água. Um pequeno rastro de sangue se forma no frio chão de madeira, que antes parecia aconchegante e cheio de vida, agora parece sombrio e solitário. Um pequeno sobe e desce da sua pelagem clara, agora manchada de vermelho rubi, me mostra que o pequeno corpo peludo ainda está vivo, mas por pouco tempo.

Um estrondo na cozinha me faz lembrar da situação em que eu estou. Seco as lágrimas e me mantenho em silêncio, enquanto tento ouvir o que o invasor está resmungando. Não demoro a perceber que suas reclamações não são em inglês, mas sim em português, o quê está acontecendo?!

Com cuidado,  giro minha cabeça para frente,  afim de espiar a cozinha e dou de cara com um homem alto, de costas vestindo o uniforme dos nova espécies. Provavelmente um infiltrado de algum grupo anti-espécie que entrou escondido ou que já estava no meio de nós, apenas esperando o momento certo.

Mas porque ele estaria aqui; porque não  na sede ou no depósito de armas de homeland. Porque justo aqui, no meu apartamento?

Vejo ele se movimentar para a esquerda e logo me ponho em movimento, me escondendo um pouco mais para trás. Escuto um pequeno barulho oco seguido de um tilintar de metal, como se tivesse arrancando algo grudado na parede. Penso por um momento e recordo que nesse pequeno espaço da cozinha existe um interfone que dá acesso à base de comunicação de homeland. Então a base já foi dominada, sem comunicação com homeland sendo atacada, estou de mãos atadas.

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⏰ Última atualização: May 16 ⏰

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Dark Nova EspécieOnde histórias criam vida. Descubra agora