Capítulo 3

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Olho mais uma vez para a estante em minha frente.

Se eu comprar vc, eu não vou poder comprar meu cookie de baunilha. Não me olhe com esses olhinhos de cachorro abandonado, não é não!

Olho mais uma vez o preço do pote de Nutella em minha frente, pensando no meu próximo passo. 

As pessoas que estão passando por mim nesse momento, devem me achar uma doida por estar encarando um pote de Nutella com o ódio e desespero plantados na cara. Eu provavelmente riria da situação se fosse outra pessoa, o que não é o caso.

Sem ter outra escolha,  resolvo apelar para o universo. Senhor, se for da sua vontade me de um sinal. Qualquer um...

Meu celular começa a tocar, me fazendo pular de susto.  Olho ao meu redor, notando que ninguém presenciou essa vergonha e tiro meu celular do bolso da calça. Logo vejo o nome Maninha brilhar na tela. É senhor, essa foi rápida. Obrigada, Amém.

Atendo o celular enquanto coloco o pote no carrinho. Ainda bem que comprei morangos.

- Alô?

- Como assim alô?  Não olhou o número antes de atender?

Revirou os olhos enquanto empurro o carrinho até o caixa. Eduarda continua a mesma de sempre. Aproveito que tem uma pequena fila , e paro pra conversar.

- E como é que vai a divorciada mais gostosa do Brasil?

- Ah, você sabe né. Recusando ofertas de namoro, aproveitando a vida de solteira.  Mostrando os dotes, tudo indo conforme a vida leva.

- Queria eu ter tempo pra mostrar os dotes.

- Liguei pra sede e me falaram que está de férias.  O  Felipe me disse o que aconteceu.  Onde você está se escondendo, Laurinha?

- O Fê me entregou a chave da casa de praia aqui no Rio. Quando tudo estiver bem , eu volto pra Mato Grosso.

- Sabe que não pode ficar fugindo pra sempre né?

Suspiro fundo enquanto saio do mercado. Nunca consegui digerir a notícia que aquele cara estava solto.

Ele foi o único paciente que eu não consegui ajudar. Era escuro demais, acostumado desde de pequeno a matar. Não tinha solução. E esse foi meu erro, achar que podia ajudar. O que ganhei em troca foram ameaças de mortes tortuosas e pesadelos.

- É, eu sei. Vamos ver no que vai dar.

- Tem razão. Laurinha, eu vou ter que desligar agora, de noite eu ligo de novo. Beijos, te amo!

- Também te amo. Se cuida sua maluca.

Escuto sua risada antes do celular ficar mudo. Guardo-o no bolso e aceno com a mão. O táxi começa a diminuir a velocidade até parar na minha frente. O motorista me ajuda a colocar as compras no porta malas, simpático mas não falou muito.  Passo o endereço da casa , enquanto vejo a paisagem mudar, de prédios altos para baixos, depois para casas e depois apenas o asfalto e algumas árvores. Quarenta minutos depois, o táxi já não estava mais na minha vista.

Me viro e começo a subir os degraus da varanda. Ao abrir minha bolsa sinto um calafrio, que veio dos meus pés até os fios do meu cabelo. Tem alguma coisa errada. Olho ao meu redor,  a procura de algo estranho ou fora do lugar, mas não encontrei nada. Pego as chaves da casa e sinto um dejá'vu,  isso já aconteceu antes.

Balanço a cabeça para espantar esse pensamento, giro a chave e entro alguns passos na sala, antes de deixar as sacolas escorregarem pelos meus braços e me apoiar na porta para não cair.

Dark Nova EspécieOnde histórias criam vida. Descubra agora