04 - Apoio mútuo

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— Que vergonha — Eu sussurro para o Jonathan, prestes a abrir a porta do refeitório. A gente dá risada.

— Eu que o diga — Yareli diz, de braços cruzados. Jonathan e eu tomamos um susto, olhando para trás e vendo nossos amigos ainda ali.

Eu fecho a porta do refeitório e volto para o corredor com o meu... namorado? Ficante? Amigo colorido? Ai, deixa pra lá!

— O que vocês tão fazendo aqui? — pergunto.

— Nós estávamos esperando pelo beijo, né? — Bria, descaradamente, diz. Jonathan abaixa a cabeça, envergonhado.

— Olha, vamos deixar vocês dois em paz — Parlan puxa as meninas para dentro do refeitório.

Parlan volta para o corredor.

— Juízo, meninos. — Ele pisca pra gente e começa a rir de sua própria piada, enquanto fecha a porta.

Eu olho para Jonathan, e começamos a rir juntos. Meus amigos são doidinhos.


Voltamos àquele matinho, onde nós interagimos pela primeira vez. Sentados na grama, conversamos sobre as nossas aulas.

— [...] aí, o professor Xzavier passou só três perguntas, mas eu não consegui responder à última, porque tava bem difícil. Eu odeio geografia...

Jonathan para de falar, encarando-me sorrindo. Eu estava viajando olhando para aquela carinha fofa.

— Sherwin?

Eu acordo.

— Hã? Ah! D-Desculpa, eu--

Jonathan segura meus braços.

— Calma, nego! Tá tudo bem — Ele ri. — Não sei por que fico com vergonha sempre que estamos perto. Sei lá, nunca tinha falado tanto com um menino. Não deste jeito, tipo, me abrindo e tal.

— Sério? E os seus amigos?

— Eles não são meus amigos de verdade. Na primeira aula, que você e eu estávamos juntos, alguns deles nem olharam na minha cara, lembra? Tudo por eu gostar de um piá, você. Na aula de geografia, os caras não falaram comigo. Na real, a gente nunca interagiu direito. Eu só andava com eles pra não ficar sozinho mesmo.

— Nossa... E-Eu sinto muito, Jonathan. Eu não fazia ideia.

— Valeu, foguinho — ele sorri.

...

— JONATHAN! — eu grito, do nada.

— Sherwin?!

— Eu tenho que... — Eu respiro fundo, determinado. — ...lhe pedir desculpas.

Jonathan me olha, confuso.

— Calma, eu posso explicar. No final da aula, um amigo seu te ignorou, aí eu não fiz nada, mas eu deveria, até porque-- — Sou interrompido por Jonathan pondo a sua mão em meu rosto.

— Sherwin, não tinha nada para ser feito lá. Relaxa. Eu também fiquei sem reação, mas agora nós temos um ao outro. Não preciso deles, e você não precisa se preocupar com isso, tá bom?

— Mas eu quero me preocupar! Sabe, eu fiquei pensando nisso o tempo todo durante a minha aula de artes. Na verdade, teve uma parte que eu olhei pra bunda do Parlan, aí só pensei nela, porém depois eu voltei a pensar na minha inutilidade. Eu só quero dizer que eu quero te ajudar, entende?

Jonathan sorri.

— Valeu, Sherwin. Você é tudo pra mim, cara — Ele me abraça, dando beijinhos em meu rosto. Eu nÃO CoNSiGo TirAr o SorRiSo aBobAdO dO mEu rOsTo e nEm tÔ mAiS rAcIOcINanDO dIrEitO dE nOVo.

O sinal bate. Hora de voltar para as aulas.

— V-Vamos? — eu pergunto, enquanto tento voltar para o mundo real. Eu viajei abraçando o Jonathan.

— E se esperássemos o segundo sinal? — ele sugere. — Daqui a cinco minutinhos ele toca. Mais cinco minutinhos com você.

Finalmente uma utilidade de dois sinais. Eu não consigo parar de sorrir.

— OWWWN!!!!! — Parlan, Bria e Yareli fazem um coral, numa moita atrás da gente, surtando com nosso momento fofo.

— A-Ah... Oi, gente — Eu me levanto, sem reação. — O que vocês... tão fazendo aqui?

— Hã... — Yareli tenta pensar em alguma desculpa.

— UM BOLO! — Bria grita, novamente, surgindo com uma vasilha com massa de bolo de chocolate e uma colher de pau.

— Um... bolo? — Eu olho para a vasilha.

— Menina, de onde você tirou isso? — Yareli pergunta.

— Sei lá. O roteirista que quis assim. Já te contei que quero ser confeiteira quando crescer? — Bria joga a vasilha no meio do mato.

— Amiga, que tudo! Amo sobremesas! Peraí, como assim "roteirista"?

— Quê?! — Bria se perde em suas próprias palavras.

— Hã? — Yareli fica ainda mais confusa.

— Ei, parem de quebrar a quarta parede, suas malucas! — Parlan dá bronca nas meninas.

Jonathan me puxa para um pouquinho mais longe dali, atrás de uma árvore.

— Sherwin, seus amigos são legais, mas... cê não acha que eles tão muito...

— ...intrometidos. É-é, eu também tô achando. O que você acha que eu devo fazer pra eles nos deixarem em--

— FALA AÍ, GALERA DA FOLIA! — Alice, a melhor amiga do Jonathan, chega do nada atrás de nós dois. — O que os pombinhos estão fazendo fora da sala de aula, posso saber?

— Alice! — Jonathan abraça a sua amiga. — A gente tá só esperando o segundo sinal.

— E namorando um pouquinho, né? Ô, coisa boa!

Os dois conversam e eu fico com medo de tentar interagir, já que a menina foi meio grossa comigo na última vez que conversamos. É melhor eu ficar quieto e continuar olhando pro chão. Queria ter coragem de dizer ao Jonathan que talvez meus amigos o incomodem, mas a Alice também não é flor que se cheire.


O segundo sinal bate.

— Falou aí, pombinhos! — Alice dá um tapinha leve em nossas costas. — E falou aí, povo esquisito atrás da moita. Tô vendo, hein. Tô de olho! — A menina entra na escola.

— Como ela conseguiu nos ver nesta moita? Ela é tão maior que a outra... — Yareli se decepciona com o esconderijo falho.

— Vocês ainda tão aqui?! — eu indago.

— Sherwin, vou pra aula de educação física. Te vejo mais tarde, neguinho! — Jonathan dá um selinho rápido em mim. Ambos coramos e ele vai à escola.

Eu olho pra trás, totalmente vermelho e surpreso, e meus amigos estavam de queixo caído.

— VOCÊ. PERDEU. O — Bria fala pausadamente.

— BV!!!!! — Os três fazem um coral.

— Gente, espera, eu acho que perder o bv é quando acontece mais que um selinho — Yareli defende a sua ideia.

— Hum... É, tem razão — Parlan fica com a cara emburrada.

— Droga — Bria fica triste.

— Gente, vamos pras nossas salas de aula. Estamos atrasados — Eu tento mudar de assunto rapidamente.

Bria e Yareli têm aula de matemática juntas neste horário, e Parlan e eu temos aula de história, todavia sempre acabamos dormindo no meio dela. No corredor, abrimos os nossos armários para pegarmos nossos materiais antes de entrarmos na sala.

De repente, avisto Gibson, o guri que eu achei que me bateria no início do intervalo, mas que só acabou passando reto. Ele parece triste.

Chateado, o garoto entra na sala de história também. Parlan e eu entramos em seguida. O que será que tá rolando?

Repentinamente (In a Heartbeat)Onde histórias criam vida. Descubra agora