02 - Fora do comum

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Jonathan é ignorado por ser queer, obviamente. Agora que alguns sabem da nossa história, vai sobrar pra ele que é o popular. Talvez sobre para mim também, mas eu já estou acostumado a ser alvo de bullying com o meu pequeno grupo.

Alice se levanta de sua cadeira. Nós não tínhamos tirado as nossas mochilas das costas, porque não daria tempo, senão a professora nos veria entrando escondidos. Eu a observo caminhando até o Jonathan, que estava travado.

— J-Jonathan... — a menina gagueja, pensando no que diria ao seu melhor amigo.

Eu me levanto e me aproximo dos dois. Alice coloca sua mão no ombro esquerdo de Jonathan, e eu no ombro direito, enquanto as pessoas continuam saindo da sala.

— Olha, Jonathan, eu--

— Não, não. Tá tudo bem — Jonathan interrompe a sua amiga.

— Tem certeza?

— Tenho.

Jonathan sai da sala. Sobramos apenas a Alice e eu. O silêncio toma conta do lugar, até que ela o quebra, nervosa.

— Por que você não disse nada?

— Hã?

— Por que você não tentou ajudar o Jonathan?

— O que v-você queria que eu dissesse?

— Olha, Shaman, eu--

— É Sherwin!

— Tanto faz, cabeça de fogo! — Ela se aproxima de mim. — Se você fizer algum mal ao Jonathan, você vai ter que se ver comigo, tá entendendo?

Eu começo a suar frio.

— JONATHAN!!!!! ME ESPERA, AMORZINHO! — Alice grita, saindo da sala correndo.

Nunca pensei que a amiga do Jonathan faria eu me sentir um monstro. Não é que eu queria ficar quieto, mas eu tenho certeza de que falaria besteiras se abrisse a boca, aí eu apanharia dos dois gigantes.


Estou no meio da aula de artes e não consigo parar de pensar no quão idiota fui por ter ficado calado. O Jonathan deve estar se sentindo um nojento na aula de geografia.

Nossas aulas são separadas na maior parte do tempo; eu odeio esse sistema maldito.

— Sherwin!

Eu sou uma péssima companhia para ele. Não sirvo para nada mesmo. Ele deve achar que eu não ligo para os seus sentimentos. É complicado perder os amigos por eles não aceitarem quem você é de verdade...

Será que o Jonathan vai, tipo, pegar todo mundo que se importe de verdade com ele? Digo, eu me importo bastante com ele, mas ele não deve saber disso. Sem contar que o garoto é o prodígio do Ensino Médio, então qualquer menino que ele queira pegar, ele pegará, né? Se eu tivesse aqueles olhos azuis, aquela altura, aquela voz--

— SHERWIN!

Eu desperto e arregalo os olhos.

— Sherwin, você me empresta a sua borracha? — diz Parlan.

— A-Ah, claro! Pega aqui.

Parlan é um amigo meu. Ele senta na mesma mesa que eu com mais duas meninas; juntos, somos um grupo fiel.

Eu tento dar a borracha ao piá, mas ela cai no chão porque eu não parava de tremer.

— Opa! — Parlan exclama, abaixando-se para juntar. — Ela não deve ter ido muito longe, né?

Sem nem ouvir o que Parlan disse, entro no mundo da lua, pois a boca do garoto brilha, o que atiça meus pensamentos involuntários pré-adolescentes. Seu cabelo também é lindo.

Minha cara começa a esquentar e eu fico vermelho.

— Cara, não tô achando a borracha aqui, não!

Ele volta a sua cadeira.

— Ah, t-tudo bem... A gente procura depois que a a-aula acabar, então! — Eu sorrio, desesperado e suando.

— Espera! Acho que tô vendo ela! — Parlan diz, voltando para debaixo da mesa. — Se não for a sua borracha, podemos pedir para outro grupo, né? Incrível como nenhum de nós quatro temos um material tão simples. Que saco.

Novamente, a sua boca se destacava em seu rosto. Isso é o paraíso? Se sim, eu quero morrer agora mesmo. E dando beijinhos.

Sem pensar, puxo a camisa de Parlan, seguro-lhe o pescoço e o beijo suavemente. A sala inteira parece chocada.

— Me beija de novo, Sherwin! Me beija de novo!

Eu arregalo os olhos. O QUE FOI QUE EU FIZ? O QUE FOI QUE EU FIZ? O QUE FOI QUE EU FIZ? O QUE FOI QUE EU FIZ? O QUE FOI QUE EU FIZ? O QUE FOI QUE EU FIZ? O QUE FOI QUE EU FIZ? O QUE FOI QUE EU FIZ? O QUE FOI QUE EU FIZ? O QUE FOI QUE EU FIZ? O QUE FOI QUE EU FIZ? O QUE FOI QUE EU FIZ? O QUE FOI QUE EU FIZ? O QUE FOI QUE EU FIZ? O QUE FOI QUE EU FIZ? O QUE FOI QUE EU FIZ? O QUE FOI QUE EU FIZ? O QUE FOI QUE EU FIZ? O QUE FOI QUE EU FIZ? O QUE FOI QUE EU FIZ? O QUE FOI QUE EU FIZ? O QUE FOI QUE EU FIZ? O QUE FOI QUE EU FIZ? O QUE FOI QUE EU FIZ? O QUE FOI QUE EU FIZ? O QUE FOI QUE EU FIZ? O QUE FOI QUE EU FIZ? O QUE FOI QUE EU FIZ? O QUE FOI QUE EU FIZ? O QUE FOI QUE EU FIZ? O QUE FOI QUE EU FIZ? O QUE FOI QUE EU FIZ? O QUE FOI QUE EU FIZ? O QUE FOI QUE EU FIZ? O QUE FOI QUE EU FIZ? O QUE FOI QUE EU FIZ? O QUE FOI QUE EU FIZ? O QUE FOI QUE EU FIZ? O QUE FOI QUE EU FIZ? O QUE FOI QUE EU FIZ? O QUE FOI QUE EU FIZ? O QUE FOI QUE EU FIZ? O QUE FOI QUE EU FIZ? O QUE FOI QUE EU FIZ? O QUE FOI QUE EU FIZ? O QUE FOI QUE EU FIZ? O QUE FOI QUE EU FIZ? O QUE FOI QUE EU FIZ? O QUE FOI QUE EU FIZ? O QUE FOI QUE EU FIZ? O QUE FOI QUE EU FIZ? O QUE FOI QUE EU FIZ? O QUE FOI QUE EU FIZ? O QUE FOI QUE EU FIZ? O QUE FOI QUE EU FIZ? O QUE FOI QUE EU FIZ? O QUE FOI QUE EU FIZ? O QUE FOI QUE EU FIZ? O QUE FOI QUE EU FIZ? O QUE FOI QUE EU FIZ? O QUE FOI QUE EU FIZ? O QUE FOI QUE EU FIZ? O QUE FOI QUE EU FIZ? O QUE FOI QUE EU FIZ? O QUE FOI QUE EU FIZ? O QUE FOI QUE EU FIZ? O QUE FOI QUE EU FIZ? O QUE FOI QUE EU FIZ? O QUE FOI QUE EU FIZ? O QUE FOI QUE EU FIZ? O QUE FOI QUE EU FIZ? O QUE FOI QUE EU FIZ?

— Vai, Sherwin!!! Beija a minha boca!!! De língua, vai!!!

Ele me implora enquanto sacode seus cabelos; todos nos observam, assustados, sem entenderem nada e com olhares maldosos. Eu sou um bicho-do-mato e sem consideração nenhuma pelo coitado do Jonathan. Enquanto eu tô numa farra em sala de aula, ele tá lá chorando, sofrendo.

— SHERWIN! — Parlan grita, fazendo com que eu me jogue no encosto da cadeira com o susto; meu coração acelera. — A borracha, mano! Tô pedindo faz tempo!

Respirando ofegantemente, olho para a borracha em minha mão e depois para os lados. A borracha nunca caiu no chão, eu nunca beijei a boca do Parlan, e todos estão fazendo as suas atividades normalmente. Nnguém está olhando para mim, nem me julgando. Tudo que acabou de acontecer, na verdade, foi fruto da minha imaginação fértil.

— Sher-- Ah, quer saber?!! Esquece! — Parlan bufa enquanto vira os olhos, levantando-se da sua carteira e indo emprestar uma borracha de outra pessoa qualquer.

Eu fico com cara de... bunda.

Repentinamente (In a Heartbeat)Onde histórias criam vida. Descubra agora