Preciso ver o Victor, afinal, não sou o único que saiu ferrado aqui. Os amigos dele — e do Jonathan — são uns malas; com certeza irão atormentá-lo por um bom tempo depois dessa, e o Jonathan não o defenderia. Que situação... Separo do abraço dos meus amigos.
— Vou procurar pelo Victor. E sozinho. — Limpo minhas lágrimas, mas ainda estou com voz chorosa.
— Tá maluco, Sherwin? — Yareli indaga.
— Não, não, não! Péssima ideia. Ele vai te bater até você não suportar mais! — Parlan me alerta.
— Eu... apoio?! — Bria lança, e todos nós olhamos para ela. — O que foi? Eu sou fanfiqueira, sei bem que isso pode dar em algo.
— E-Eu não sinto nada pelo Victor!
— Afe! — Ela cruza os braços.
Chego no outro bloco da escola e encontro o Victor no bebedouro.
— Victor? — Digo, enquanto ele vira para mim. Eu me assusto com seu rosto; ele está com várias manchas grandes e roxas por toda a sua cara, obviamente porque Jonathan o bateu.
— O que você quer aqui, cabeça de fogo? — Ele chora, brabo. — Suma daqui antes que eu te arrebente, moleque.
— Não quer conversar?
— Vá ver se eu tô na esquina!
— Ah, aí estão as menininhas — Gibson chega, acompanhado de Denver, Lawson, Shepherd e Chelsea. Todos eles sempre zoaram o meu pequeno grupinho. — Será que estamos atrapalhando? — Ele debocha de mim e Victor, colocando a mão no bolso.
— Cala a bo-- — Victor tenta se defender.
— Ei, abaixa a bola — Denver empurra Victor. — Quem é você pra falar assim com a gente?
Victor fica quieto.
— Mariquinhas! Mariquinhas! — Shepherd e Lawson cantam.
— Como a gente pôde andar tanto tempo com você? Que nojo — Chelsea sorri, orgulhosa do que acaba de dizer. Eu nunca fui com a cara dessa menina.
Gibson continua empurrando Victor, e eu me meto em sua frente para tentar protegê-lo. Denver ri, cospe na minha cara e me dá uma rasteira. Depois, dá um soco em Victor, derrubando-o. Os cinco idiotas vão embora, rindo das nossas caras.
Meu coração está acelerado; tudo o que eu quero fazer agora é chorar, mas preciso me manter forte. Como isso pode ter acontecido em tão pouco tempo? Eu ajudo Victor a levantar, enquanto ele olha para o chão, chorando baixinho. Tento dar um abraço nele.
— V-Victor, você não preci--
— Você... f-fica longe de mim! — Ele sai correndo daqui.
Eu começo a chorar, sozinho. Estraguei a vida do Victor, seus amigos jamais o aceitariam no grupo depois do nosso beijo, e ele nem fez nada de errado, não sei nem se ele gosta de meninos também, ou se ele só não consegue reagir direito às coisas assim como eu. Por que tudo tem que ser difícil? Não deveria ter feito aquilo de jeito nenhum. Até agora não sei o que rolou naquele refeitório.
Limpo as minhas lágrimas e respiro fundo.
Saio da escola com cara de choro e vejo Parlan encostado, de braços cruzados, no muro, olhando para baixo.
— Parlan? — Indago, e ele olha para mim, sorrindo.
— Demorou. Achei que você dormiria na escola — Ele brinca, e damos risada.
— Bom... Tem dormitório, então é uma possibilidade — Eu rio. — Por que me esperou?
— Não iria para casa sem meu melhor amigo.
Nós dois nos abraçamos e vamos ao caminho de nossas casas. Parlan e eu moramos na mesma rua, bem pertinho; a diferença é que ele mora no final dela.
— Dia pesado — Ele quebra o silêncio.
— Sim... Não entendi nem as aulas, nem o que aconteceu fora delas.
— Não fazia ideia de que você era gay. Por que nunca contou?
— Vergonha... Talvez medo também, e eu estava certo em guardar pra mim. Não viu o rolo que deu?
— Ô se vi! E também tem o meu rolo com a Alice...
— VOCÊS TÃO DE ROLO?
— Sim, só que ela ainda não sabe. Tá tudo na minha cabeça.
— Você é louco — Digo, fazendo nós dois rirmos. — Por que não tenta algo com ela?
— Não, melhor não. Gibson me mataria. Ele também gosta dela.
Eu suspiro fundo.
— Gibson bateu em mim e no Victor.
— Quê?
— É. Ele e aqueles outros insuportáveis do grupo dele... Mas foi mais pra cima do Victor.
— Que babacas.
— Eu sei. E... uau! Eu passei de garoto tímido e invisível para um boiolinha da escola, aí ganhei a fama de pegador e, por fim, traidor. Tudo em um dia.
— Dia pesado — Ele repete o que disse anteriormente e ri. — E "pegador"? Você só beijou uma pessoa até agora.
— Jonathan e Victor. Dois — Eu conto nos dedos e mostro pro Parlan.
— Tá se achando já, Sherwin! — Ele dá um soco no meu braço, rindo. — Mas fala aí, o Victor beija bem?
— Não lembro. Talvez eu deva experimentar de novo — Eu rio com ele sem parar, fungando.
Nós estamos quase chegando em nossas casas, enquanto fazemos palhaçadas andando na calçada.
Eu não deixo claro, porém estou preocupado com o que pode acontecer amanhã. Victor e eu apanharíamos de novo? Voltariam a encher o meu saco? Pois só não bateram no Jonathan porque ele é mais popular e mais forte, senão o arrebentariam também. Como será que ele tá agora? São tantas perguntas e pouquíssimas respostas.
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Repentinamente (In a Heartbeat)
FanfictionMais um dia se inicia e Sherwin, um garoto ruivo de quatorze anos, precisa chegar a tempo na escola para fazer o que sempre faz antes das aulas começarem. "In a Heartbeat", por Beth David e Esteban Bravo.