... Eu poderia subir aqui e simplesmente fazer como em todos os outros discursos tradicionais, usar algumas palavras clichês e citar vários nomes importantes dessa instituição. Arrancar algumas lágrimas dos telespectadores e forçar as minhas. Ou poderia também me deixar consumir pela chance e profanar palavras exageradas de vingança. Mas não pretendo ir à nenhum desses caminhos extremos. Só venho aqui pra ser sincera, e dizer o que é verdade pra mim.
Em todos esses anos, que apesar da expressão, não foram muitos e nem longos. Por que os dias são os mesmos, desde sempre 24h. Todos passamos por alguma dificultadade alguma vez na vida, e houveram aqueles momentos em que ficamos completamente à sós com nossos medos. E é aí que definimos nossas vidas, nas escolhas diante dos nossos medos. A diferença como cada um lida com nossos próprios monstros, é que nos faz mais ou menos humanos.
Eu não chamaria de Bullyng, por que seria muito simples e um pouco estúpido dar nome à algo que conhecemos bem. Tantos nomes pra definir o que fazem as pessoas o tempo todo, à todas as idades. Vivemos num sistema capitalista, e apenas sobreviver é o que alguns fazem. A luta por dinheiro, influência, prioridade. O fato é que algumas pessoas simplesmente passam por cima das outras, o tempo todo, por puro egoísmo e medo.
Você é uma criança e tem medo do que vai encontrar hoje à noite quando chegar em casa, e o que você faz? Desconta sua raiva em alguém que parece ser mais feliz que você. O que não é tarefa difícil, você sabe bem o que deve fazer, pois já fizeram isso com você. A vítima é mero detalhe, já que a vida de todos parece ser melhor que a sua, não será difícil encontrar um final feliz para estragar. Começa aqui "um ciclo sem fim que nos guiará", uns querendo passar por cima dos outros, afinal quem não quer ganhar a corrida? E quem quer perder? Se alguém nota, dificilmente irá fazer algo, e de novo por medo. Medo de ser diferente, também por que "não é da sua conta".
Ser diferente é um risco, quase suicídio. Ser sincero é um suplício. Não te disseram que é crime dizer a verdade a quem não quer ouvir outro além de si próprio? Ser você mesmo, inovar é arriscar. O que é novo é estranho, gera medo e insegurança. Já passei madrugadas procurando pela curiosidade e pelo senso crítico. Mas a curiosidade matou o gato, e sabe a ironia? Ninguém sabe como o gato morreu e se foi mesmo a curiosidade que o matou. Ninguém sabe nem ao menos me provar se esse gato realmente está morto. Misturar a curiosidade e o senso crítico pode ser um tiro certeiro na própria cabeça. Será perigoso perguntar quem segura a arma?
Com um pouco menos de abstração, voltemos ao anos de escola. Alguma vez já sentiu que olhavam através de você e não para você. É impossível compreender uma pessoa por inteiro tão quanto é possível hoje delimitar cada espaço do universo. Mas é tão difícil tentar enxergar uma pessoa com corpo e alma? Eu gostaria de te contar um absurdo, eu não sou meu caro, uma média mal aproximada de notas em multidisciplinares testes de papel.
Sempre fui mediana em relação às notas, não mais do que o necessário, me sobressaía em algumas. Mas pra todos que me olhassem eu era quase invisível, neutra como um camaleão. Eu estava lá com minhas idéias, opiniões, sentimentos. Não tinha a prioridade que um nota 10 tinha, mas as vezes em alguns momentos, num surto de coragem quis participar, eles se calaram para teoricamente me "ouvir". Não era a resposta do livro, não eram palavras reformuladas do professor. Era eu e minhas idéias que falavam ali. E talvez só Deus saiba quantas vezes eu ouvi um "o que essa garota ta falando?". Apenas o professor entendia nessas situações, as vezes nem eles sabiam responder e ficava por isso mesmo.
A grande questão é que eu vejo isso e só consigo pensar que está tudo errado. Não sei como seria o certo, mas sei que está errado. Fofocas, grupinhos separados, pessoas passando por cima das outras, esse clima nojento que você encontra em toda sala de aula, nas salas de trabalho mundo à fora, só pode ter algo de errado. As vezes ir à aula todo dia mais parece trabalhar em uma ditadura em plena Guerra Fria. Claro que a culpa é de todos, inclusive minha.
Quero poder fazer algo sobre. Até hoje só consegui pensar em estudar mais e por conta própria, se possível ajudar quem precisar de ajuda. Pensar um pouco menos na minha sobrevivência de certo me fará bem. É preciso começar por si mesmo se pretende mudar as coisas ao seu redor. Quero um ambiente menos ostil e sangrento. Aprender as coisas o mais por inteiro possível, as migalhas que temos de engolir mal dão pra alimentar os pombos. Um conhecimento superficial para pessoas superficiais. Que não criticam esse sistema, que descobri recentemente ter influências diretas da educação para a guerra. É isso que eles querem, uma guerra, não sobrevive o mais inteligente, e sim o mais espertinho.
O melhor que se faz é trabalhar com sutileza, fácil cair nas tentações que consomem o ego. Humildade é que mantém o passo do andarilho. Quem faz barulho desperta a fúria dos cães. Mesmo que minha vontade seja de gritar o mais alto que eu posso, o quanto isso está errado. Mas só faria isso se não soubesse que ninguém iria me entender. Quem é cego precisa ver, mais fácil ver com os olhos que com os ouvidos. Atos tem que traduzir as palavras que digo.
Estava pensando como as pessoas julgam as outras pelas notas, e como mudam a visão de você quando é elogiado, quando se sobressai. Então que tal se eu simplesmente não visse minha nota na escola. Decidi que sempre que receber uma prova vou tampar a nota e só ver em casa, assim não vou poder contar a ninguém por que eu mesma não vou saber. Independe da nota ser boa ou ruim. Não quero julgar os outros nem quero que eles me julguem ou invejem. Se revelarem minha nota, sem pânico vou agir naturalmente e não tocar no assunto. Quando me perguntarem digo que não quero ver, ou que é uma dica que um professor me deu ou invento outra desculpa. É regra número um não se gabar de nada! Ver a nota sempre me fez mal, como não querer ver a correção, comparar minha prova com a de outra pessoa, me sentir mal ou estupidamente bem. E pra que? Por que? Por nada de especial.
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Canalizando sentimentos
PoesíaApenas uma coletânea de poemas que escrevo pra desabafar, espairecer, canalizar meus sentimentos, imortalizar momentos. Sem propósito nem público alvo, simplesmente deixo fluir. Sem previsão pra continuar ou terminar. Quem sabe o que te aguarda aqui...