Linhas Tênues | TAEKOOK

Quarta pintura

Na manhã seguinte, quando acordo, Taehyung está jogado na cama, tomando a maior parte do colchão para si e quase me deixando sem cobertor. Eu ficaria de mau humor se aquele dia não tivesse amanhecido já quente e o barulho do despertador não estivesse tomando essa parte do meu cérebro, estico a minha mão até a mesinha de cabeceira e pego meu celular, percebendo que, na verdade, não era um alarme fazendo todo aquele barulho, mas sim Jimin hyung me ligando e eu fico surpreso por Taehyung não ter acordado.

Sento na ponta da cama enquanto bocejo, coçando meus olhos e atendendo a ligação de qualquer jeito sem nem ao menos olhar que horas eram, mas, pelo calor que estava fazendo e o jeito que os raios solares invadiam o meu quarto, deveria estar quase no final da manhã.

— Jeongguk! Olha, eu 'tô meio atrasado, mas já 'tô indo, ok? O trânsito nessa cidade 'tá um inferno! — Jimin reclama com um sotaque forte de Busan preso em sua voz, eu sinto vontade de dizer que ainda estava dormindo, mesmo que tivesse atendido aquela ligação porque minha cabeça ainda estava nas nuvens, mas continuo ouvindo-o apertando a buzina de seu carro. — Vai me contar o que é que você tem de surpresa 'pra mim ou só vou descobrir mesmo quando chegar aí?

— Jimin hyung, vai prestar atenção no trânsito! — falo semicerrando meus olhos, tentando procurar meus chinelos pelo chão sem levantar da cama. — E eu espero que você tenha deixado seu dia inteiro livre.

Jimin reclamou, me chamou de chato e no fim das contas desligou na minha cara porque o sinal tinha ficado verde. Eu balanço a cabeça, me arrastando para fora da cama e levando meu celular comigo quando vou ao banheiro dar um jeito em meu rosto. Já é mais de onze horas.

Dou uma espiada em Taehyung de novo, este que ainda está esparramado pela cama, dormindo como se meu celular não tivesse enchido o saco alguns minutos atrás e me surpreendo sobre como seu sono é pesado. Bocejo pela milésima vez naquela manhã e sigo pelo pequeno corredor até a cozinha.

— Hyungs, por mais que essa também seja a sua casa, eu não acho que eu gosto de ver uma sessão de amassos tão cedo na manhã, — resmungo ao ver Seokjin e Hoseok trocando beijos enquanto sentados nas cadeiras da cozinha, estaria tudo bem se eles não estivessem trocando morangos no meio de tudo isso.

Seokjin apenas diz que eu tenho a alma amargurada demais, e que eu provavelmente deveria encontrar um namorado logo e deixar ele em paz. É engraçado ele pensar que, caso eu encontre alguém para namorar, eu vou parar de encher o saco dele. É óbvio que isso não vai acontecer.

— Deixa o menino em paz, Seokjin, — Hoseok fala, franzindo a testa e colocando a mão no braço do namorado, eu simplesmente sei que os dois estão usando apenas uma cueca por baixo daquela mesa. — Nem todo mundo sabe o que é o amor. Ele não tem culpa de ser assim.

Eu semicerro os olhos com um copo de achocolatado em minhas mãos. Os dois voltam a ficar falando coisas doces demais um para o outro na minha frente e eu reviro os olhos depois de tomar o líquido inteiro de uma vez só. Eles conseguem ser piores que meus pais no quesito perturbar a mente matutina de Jeongguk.

— Eu vou voltar 'pra Busan, — declaro, roubando a vasilha não tocada de ramén que estava em cima da mesa. — E vocês dois vão sentir falta de mim!

Os dois dão risada de minha fala dramática enquanto estou indo para a sala, sabendo que as chances de eu voltar para Busan são mínimas, mas eles não precisam saber disso quando estou fingindo ter sido traumatizado por aquilo.

Ligo a televisão para tentar me distrair até que Jimin chegue ou Taehyung acorde, mas as reprises de um drama que já assisti várias vezes é incapaz de fazer isso. Não sei muito bem o que me preocupa, talvez seja o futuro de minha profissão ou o que Jimin hyung possa falar depois de ver Taehyung pela primeira vez, ou a lembrança dos meus pais e o fato de que faz um tempão de que não os vejo.