capítulo 1

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Leia as notas finais, boa leitura.

𝐀𝐍𝐘💫

Dando o último trago no cigarro de cravo, encaro a fachada do prédio exageradamente alto e espelhado por um instante. Livro-me da bituca no lixo mais próximo e ajeito o envelope marrom debaixo do braço.


Sinto a brisa da tarde bater contra os meus cabelos, que estão num rosa desbotado porque estive ocupada (e com preguiça) demais para me preocupar em retocá-los. Minha combinação de calça estilo hippie dois números maiores e com estampas do deus Ganesha, rodeado por outros elementos indianos e igualmente chamativos no tecido vermelho e cinza, e camiseta folgada preta provavelmente faz de mim uma peculiaridade.


Não é o melhor dos visuais, principalmente para estar em Soho, uma das regiões da alta moda de Nova Iorque, mas é confortável e isso basta. Se bem que, eu não me importo de qualquer forma. Não nesse momento.

Depois de jogar um chiclete de morango na boca para amenizar o gosto do tabaco, empurro a grande porta de vidro giratória e vou direto para o balcão da recepção. Meus passos decididos contrastando com a minha aparência desleixada ganham alguns olhares pelo caminho, como sempre.

Assim que paro diante do lindo e largo guichê de mogno escuro, a conhecida moça de cabelos castanhos e presos num coque abre um sorriso.

— Oh, Any Gabrielly!

— Olá, Hylie. — sopro uma bola de chiclete para fora da boca, que demora alguns segundos para estourar, e sorrio — Tudo bem?

— Sim, sim. E você? A quanto tempo!
— Estou bem, obrigada. — sorrio mais uma vez, lançando a goma para a outra bochecha — Acho que faz cinco meses, desde a última vez.

— Tanto tempo?

Dou de ombros. Não lembro muito bem. Estive tão absorta no trabalho ultimamente, que não vi o tempo passar. Falando francamente, sequer recordo o que comi de manhã. Acredito seriamente que foi uma tigela de cereal e uma caneca de café. Nada muito distinto do que costume comer.

— Ele está livre agora? — pergunto, mudando de assunto.

— Claro. Deixou a recepção avisada de que você viria hoje. Só vou telefonar para anunciar que está subindo e...

— Não ligue. Vou fazer uma surpresa.

Um pouco desconcertada, Hylie me observa. São quase cinco da tarde e, embora todos na editora finjam, é de conhecimento geral o que acontece perto desse horário. Discrição não é muito o forte do editor chefe.

— Ah, eu não acho que...

— Ei, vamos lá! Deixe-me subir, sim?!

Encaro-a. Faço um sorriso sapeca brincar em meus lábios, assim como o chiclete. E em segundos, ganho a pobre moça. Sempre funciona.

Hylie suspira, possivelmente pedindo aos céus que o editor chefe não solicite a sua demissão por causa disso.

— Tudo bem. — diz, enfim — Pode subir.

Feliz por conseguir o que quero e ter a chance de surpreender o meu editor e amigo, caminho apressada para os elevadores antes que a recepcionista mude de ideia. E quase penso que tenha acontecido, quando a ouço me chamar.

À TRÊS ᵇᵉᵃᵘʳʳᵉᵃⁿʸOnde histórias criam vida. Descubra agora