O plano

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Hora de conhecer Jorginho e ver se ele mudou do prólogo pra cá...

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Jorge Campello arriscou.

O telefonema do RH da CDM/Calete provou que o risco foi pago de forma positiva.

- Eu não acho que Rebeca vá conduzir a entrevista... É uma vaga de engenheiro pleno, provavelmente vou tratar com o chefe do setor, nem vou passar perto da sala da diretoria – explicou ele para o irmão mais novo, Josué, que parou um instante com os exercícios de Cálculo 1 para ouvir o relato do engenheiro.

- Mas será que ela sabe que você é você...? Porque como diz nosso pai, quem bate esquece, quem apanha nunca esquece...

- Eu sei, moleque, mas isso foi há uns 12, 13 anos? A mulher é bilionária, deve comer dinheiro no café da manhã, vai guardar rancor de uma coisa de escola?

- Jorge... Apostar uma transa não é "coisa de escola"...

- Eu sei que fiz besteira e isso é algo que fodeu minha relação com os velhos... Mas eu mudei! Sou um cara tranquilo, de boas, bom profissional... CDM/Calete só quer contratar os melhores, tenho especialização, Josué! Eu consigo essa vaga, você vai ver!

Jorge arrumou a camisa social de botões na cor terra, o terno azul-marinho e calça social de mesma cor, fechando com o par de mocassins. Olhou-se no espelho de corpo inteiro – estava confiante: barba cerrada, cabelos crespos em um corte moderno, mais raspados embaixo e cheios em cima, o rosto limpo – a última sessão do dermatologista foi bem gasta. "Estou pronto", pensou confiante.

Buscou a pasta com a cópia do currículo e seus projetos e pediu sorte ao irmão, que respondeu fazendo um gesto obsceno de "tá fodido": a mão aberta bateu na mão em formato de punho, no formato vertical. Ele sabia o motivo da provocação de Josué, mas não se preocupava muito – duvidava de que Rebeca Cavalcante de Menezes o entrevistasse.

Os pais o abençoaram; e logo Jorge seguiu de carro pela via movimentada do bairro de Brotas, seguindo até o fim de linha do bairro, passando por uma última ladeira, onde chegava até a Avenida Antonio Carlos Magalhães, no sentido Rio Vermelho.

Pegou uma via marginal e chegou até o retorno, pegando a mesma avenida, agora no sentido Tancredo Neves, com destino certo: o envidraçado e imponente prédio onde ele sabia, teria a chance de ouro para uma carreira longa e proveitosa.

A CDM/Calete.

Sonho de qualquer profissional, fosse na área de Engenharia e Arquitetura, Administração, Economia e até mesmo Direito e Comunicação, trabalhar em uma das maiores construtoras do país, e uma das mais fortes da América Latina, era sinônimo de ter u...

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Sonho de qualquer profissional, fosse na área de Engenharia e Arquitetura, Administração, Economia e até mesmo Direito e Comunicação, trabalhar em uma das maiores construtoras do país, e uma das mais fortes da América Latina, era sinônimo de ter uma carreira a longo prazo e chances altas de subir na empresa até a posição de direção, fosse na Calete, CDM, Rede de Iniciativas ou no setor corporativo.

Os profissionais eram exigidos e respeitados na mesma medida, e ficaram conhecidas as medidas de apoio aos colaboradores, como descontos em faculdades e cursos de línguas, apoio a mães e pais de recém-nascidos e as ações de responsabilidade social que a empresa realizava nos bairros mais pobres da cidade. Por conta dos benefícios, as vagas para trabalho em todos os setores, além de recrutamento de novos estagiários, eram disputadas a tapa, graças a um processo de escolha feito junto ao RH, que fazia a primeira triagem, analisando currículo e fazendo atividades dinâmicas em busca do perfil do profissional, e chegando até a entrevista final, geralmente com o CEO da empresa.

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