Número Quatro

163 11 6
                                    


Uma semana havia se passado desde a última viagem no tempo. Uma semana desde que Klaus Hargreeves parou de ouvir voz de seu irmão Ben. Os outros irmãos enfrentaram essa perda há mais de uma década, ele só estava a conhecendo agora. A sensação de luto não lhe era estranha, a conhecera muito bem depois do que houve no Vietnã, mas agora era diferente, um vazio enlouquecedor ao invés de uma dor agoniante.

Ele que se acostumou a usar drogas para fugir dos murmúrios dos mortos, ansiava em desespero por ouvir a voz deles agora. De um especificamente. Mas ainda que tenha tentado de tudo nos últimos dias, Ben não o contactou. Viu-se, pela primeira vez, completamente sozinho. Enquanto os irmãos lidavam com a existência dos pardais, ele enfrentava seus próprios fantasmas.

O beco escuro e com forte odor de urina continuava o mesmo naquele mundo. Até os ratos eram, de alguma forma, iguais aos que ele conhecia. Antes Klaus se drogava para não ouvir os mortos, agora decidira que iria se render ao vício porque não suportava o silêncio pelo qual tanto lutara. Apresentou-se ao traficante Craig como se o conhecesse, mas recebeu do homem uma expressão raivosa.

— Por um acaso eu te conheço, seu maluco? – interrogou ele. Craig tinha quase um metro e noventa de altura, usava uma bandana vermelha na cabeça, era corpulento, tinha uma barba castanha e tatuagens nos braços... aparência clichê de motoqueiro. Ele empurrou Klaus violentamente para trás, tentando intimidá-lo.

— Qual é amigão, libera aí nosso lance – Klaus insistiu. Era difícil para ele lembrar que aquele lugar não era o mesmo de antes – Ah sim, sim, é verdade. Você não me conhece ainda, mas fui um bom amigo seu em outra vida.

O traficante se permitiu pensar por um instante, mas depois voltou a ficar impaciente.

— Escuta aqui seu saco de merda, não me vem com esses papos de maluco espiritista. Eu sei bem o que você é.

Klaus forçou um sorriso.

— Sabe? Isso é bom. Então, vai me dar o que eu procuro?

O que Craig deu a Klaus, porém, não foi nada do que ele procurava.

O soco acertou em cheio a cara do Número Quatro da Umbrella Academy. E então a escuridão o envolveu enquanto ele caía e caía. Ben costumava aparecer sempre que Klaus estava em perigo... será que ele irá aparecer agora? De alguma maneira, Klaus contava que isso iria acontecer.



Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.


Longe dali, numa área tão secreta da mansão que nenhum dos pardais estava autorizado a estar, uma porta estranha e metálica se abriu. Reginald Hargreeves saiu de dentro dela, batendo as mãos como se estivesse tentando se livrar de uma camada de pó.

Era um elevador fixado na extremidade da sala escura, conectado a uma parede que não dava a lugar algum na superfície.

Reginald não sabia, mas o Número Quatro da Sparrow Academy estava ali, observando-o escondido pela escuridão. Nour Hargreeves, como também era conhecido, andava inquieto nos últimos dias. Sempre foi uma criança curiosa, mas o que o levara até ali foi um estranha voz que martelava a sua cabeça sempre que ele se deitava para dormir. O que seria? Ele precisava saber.

Quando o pai foi embora, apagando a tímida fonte de luz do cômodo, Quatro atravessou lentamente a sala até a sua extremidade. Seus olhos brilharam em vermelho e ele conseguiu ver através da escuridão. "Televador", leu na parte de cima, achando o nome único e interessante.

Nour parou em frente a máquina e tateou a porta metálica com as palmas das mãos. Estava quente, apesar de tudo em volta ser frio. 

De repente, as portas se abriram. Dentro do elevador havia luminosidade, Quatro já não precisava de seus poderes para enxergar. Em passos cautelosos, ele entrou dentro do transporte. Começou a analisar o painel cheio de botões, quase que por instinto seu dedo foi até um deles, mas tomado por uma súbita onda de medo, de não saber para onde iria se o apertasse, ele parou antes de pressionar qualquer botão.

Foi então que, pensando no que fazer a seguir, ele olhou para baixo. Um pequeno cartão branco estava próximo de seu sapato, largado e esquecido no piso claro. Nour se agachou e o tomou para si. Tudo que conseguiu ler foi "Bem-Vindo ao Hotel Oblivion". 

A Sparrow AcademyOnde histórias criam vida. Descubra agora