Número Dois

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Número Dois segurava um algodão doce de cor amarelo enquanto observava o carrocel trabalhar. Seu olhar era como o de um adulto que queria muito estar sobre um daqueles cavalos de madeira, mas que sentia vergonha por já não ser mais nenhuma criança. As vezes, ela até fechava os olhos e se deixava embalar pela melodia, tão doce quanto o algodão que estava segurando. 

— Está me seguindo? – Ela perguntou de repente, abrindo os olhos e levando o algodão doce à boca para tirar um pedaço. Não olhou na direção da pessoa a quem dirigira a pergunta, como se já soubesse quem era. E talvez sabia mesmo. 

— Não vou desistir até descobrir o que você anda planejando – admitiu ele, saindo das sombras para se apoiar na grade de ferro, bem ao lado dela.

Número Dois deu uma olhadela para Diego, não parecia interessada naquela conversa.

— Já disse mil vezes, meu nome é Maya, não Lila. O que mais quer de mim?

Diego a estudou com o cenho franzido e um olhar intrigado. Depois balançou a cabeça em negação.

— Você está mentindo, mas eu não vou cair em mais um de seus jogos.

Maya deu um sorriso cansado para o número dois da Umbrella e entregou-lhe o algodão doce que segurava, logo em seguida deu as costas para o carrocel e saiu caminhando pelo parque.

— Faça o que quiser, mas não garanto sua segurança se meus irmãos descobrirem que anda nos seguindo – ela alertou antes de partir.

Diego correu atrás de sua presa, passando a andar ao lado dela assim que a alcançou.

— Para onde está indo?

— Para casa, não devia estar aqui. Papai não gosta que a gente saia sozinho.

— E por que está? – ele perguntou, interessado.

— Porque eu gosto. A primeira vez que conheci um lugar como esse foi quando o Senhor Hypnose atacou algumas crianças. Spaceboy e ele lutaram na Roda Gigante, você precisava ter visto.

Diego se lembrava de um Senhor Hypnose, mas a história que conhecia não aconteceu em um parque de diversões, e também não foi com o mesmo Spaceboy de quem ela estava falando.

Maya prosseguiu:

— Eu fiquei fascinada, todos esses brinquedos, as crianças vivendo uma vida tão... diferente. Tinha sido ensinada a vida inteira que o ordinário era chato e digno de pena, mas o que vi pareceu o oposto disso. O pai nunca permitiu que a gente brincasse.

— O mundo pode ter virado de ponta-cabeça, mas parece que o senhor Reginald continuou sendo o mesmo... – ele comentou, terminando de comer o algodão doce.

— Vocês também... nunca?

— Não. Nunca fomos crianças. Mas saímos da influência dele há tempo para descobrir como nos tornar adultos.

Maya deu um sorriso entristecido para o número dois.

— Estou vendo como se tornaram. Agora, de Número Dois para Número Dois, fique longe da gente se quiser viver.

— Isso é uma ameaça? – Diego indagou, carregado de hostilidade.

— Não. É um aviso. De amiga – ela respondeu, deixando-o para trás e marchando em direção a sua casa.

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