Tom POV's
-Não acredito que conseguiu, pensei que ele fosse passar a noite toda acordado. –A garota dizia animada, parecia não acreditar no que eu havia acabado de dizer. –Conta, qual o segredo?
-Dei uma bebida quente pra ele, e pus um filme chato. Foi bem fácil, na verdade. –O difícil foi fazer ele ceder a beber, mas no fim das contas é bem manipulável, dá até vontade de brincar. –Deve ser por isso que ele tá dormindo até agora. –Desvio o olhar pro relógio da parede marcando onze e vinte.
-Ele gosta de dormir até tarde, e como não tem aula hoje não vi problema. Além disso você tem que ver quando ele acorda, é uma figura. –Se é irritante acordado, não quero nem ver quando acorda. –Não vai beber seu café? Já deve estar esfriando. –Ela diz mordendo a ponta da bolacha de água e sal.
-Eu gosto dele morno. –Peguei a caneca com as duas mãos, sentindo a temperatura da mesma enquanto bebericava tendo certeza de que estava na temperatura ideal. Logo sinto algo pesado tocando meu ombro direito me fazendo quase derramar o café no susto. –Mas que porr- Virei pra ver o que me tocava e a única visão que tinha era de cabelos castanhos claro completamente bagunçados e um rosto sonolento muito próximo ao meu.
-É fofo, né? –Nancy disse apertando o próprio rosto com as palmas. –Ele fica carinhoso quando acaba de acordar. -Ao dizer isso me fez pensar que quando o vi acordado na minha casa ele já devia estar desperto a muito tempo.
Jerry abriu levemente seus olhos piscando lento permanecendo a me observar. Revelou um sorriso ladino tendo sua bochecha espremida contra meu ombro ainda.
-Bom dia. –Sua boca tocou calmamente meu ombro e seus finos braços envolveram meu pescoço num abraço, permanecendo por trás de mim.
Eu poderia considerar achar isso fofo e até engraçadinho, se seu bafo não tivesse invadido certeiramente minhas narinas sensíveis.
-Quem vê nem pensa. –Ceci levantou-se da cadeira se aproximando e retirando os braços de Jerry de mim. –Vem, bonitinho. –Ele abraçou a irmã assim que me soltou, fazendo com que eu percebesse o pouco de diferença de altura que o deixava menor que ela. –Vai escovar os dentes e lavar o rosto que eu vou fazer seu café da manhã. –Nancy o acompanhou até o fim da cozinha soltando ele na porta. Jerry continuou seu caminho enquanto esfregava os olhos e mantinha uma postura ruim arrastando os pés.
Claramente uma criança.
-É assim sempre? –Abaixei a caneca me fazendo pensar que meu café já devia estar mais pra frio do que morno. Suspirei. –Quantos anos ele tem, nove?
-Dez a mais, é que mimar o Jerry é divertido. Além disso, quando eu fui adotada... nossos pais meio que deixaram ele de lado pra me dar o máximo de atenção possível, deve ser por isso que ele fica assim quando acorda. É o momento em que ele tá mais vulnerável e é meio que mais sincero, sabe? Foi assim que percebi que ele era um pouco carente, então o mimo pela manhã. Penso que é uma forma de compensar a atenção que tirei dele, entende?
-Entendi. –Resolvi arriscar e bebi o café de uma vez. No momento em que senti a temperatura meu corpo inteiro se arrepiou. –Urhg, gelado. –Nancy apena riu pegando o presunto e queijo na geladeira.
-Eu avisei. –Ela tomou a caneca de mim a enchendo com mais café. –Toma.
-Eu não quero mais.
-Não disse que tinha que trabalhar depois do almoço? Toma logo. –Bufei, pensando o por que de ter comentado que tinha turno depois do almoço.
-Tá, tanto faz. –Peguei a colher de metal que estava ao lado e comecei a mexer o café na tentativa de esfria-lo mais rápido.
-A propósito, me lembro do Jerry ter comentado que você saiu cedo pra trabalhar quando ele dormiu no seu apartamento.
-Geralmente eu vou de manhã, mas hoje é só pra cobrir um amigo.
-Hoje é sua folga?
-Meio que isso. Só que ele fez isso por mim uma vez, então não pude recusar. –Aproximei o rosto do café tendo o vapor tocando meu rosto. Ainda tá quente. –E outra, eu ia ficar o dia atoa mesmo.
-Descansar não é atoa, Tom. –Um voz soa atrás de mim. –Não trabalhou o dia todo ontem? Até perdeu o ônibus. –Jerry tinha uma toalha de rosto em seu pescoço e acho que trocou a camiseta, mas não tenho certeza.
-Não vou ficar até tão tarde hoje, obrigado pela preocupação. –Debochei.
-Não to preocupado, é só que, as vezes você é mais idiota do que parece. –Aparentemente ele voltou ao normal, tão chato.
-Eu prefiro quando você tá com sono. –Comentei não me importando se o café estivesse quente demais, apenas virei tudo. Muito quente, queimei a língua.
-Com sono? –Passou a toalha no maxilar olhando pra irmã que só segurava o riso, logo após direcionando a atenção pra mim. –Eu fiz alguma coisa? –Notei que ele parecia um pouco preocupado segundo sua entonação, só que a preguiça de explicar falava mais alto.
-Relaxa, Tom. Já já ele lembra. –Nancy disse ao mesmo tempo que entregava o sanduiche pro irmão.
-Acho que vou sair antes que isso aconteça. –Me ergui da cadeira fazendo o mínimo de barulho possível. –Obrigado pelo café, Nancy. –Ela sorri em resposta e assim que saio da cozinha ouço múrmuros de Jerry, provavelmente perguntando o que fez. Recolho minha mochila a pondo nas costas e retiro o pendrive da televisão o colocando no bolso maior misturando-se com algumas bolas de papel que haviam no fundo. Antes de colocar os pés pra fora da casa repasso na cabeça o meu dia todo, já pensando no cansaço que sentiria a noite.
Que droga.
Jerry POV's
-Não, eu não fiz! –Gritei, tendo em mente que o garoto de quem falava não estava mais ali. –Nancy, eu não to nesse estagio ainda.
-Quer perguntar pra ele? Eu posso descrever com mais detalhes se você quiser. –Ela parecia debochar de mim com esse sorriso idiota na cara.
-Não precisa, eu não quero me lembrar. –Dei a segunda mordida no sanduiche mantendo o teatrinho de que não me lembrava do que tinha acontecido.
-Espera, o que quer dizer com "não to nesse estagio ainda"?
-O que? –Indaguei, pedindo mentalmente pra que ela me dissesse "esquece".
-"Ainda", Jerry. Você disse ainda.
-Eu não disse, cê tá ficando é doida.
-Você sabe que pode me contar as coisas. –Ao fim dessa frase eu me lembrei da minha mãe, ela dizia isso sempre quando morava aqui, credo. –Gosta dele? Até rolou beijinho no ombro.
-Sai dessa. Eu só devo ter pensado que ele era você na hora, tu sabe como eu sou.
-Aham sei, se você diz.
-Eu não quero mais falar sobre isso. –Um silencio reinou por longos segundos deixando apenas o som do relógio soando. Respirei fundo sentindo o sanduiche descer seco pela garganta. –Ceci... –Ela soltou o celular que estava prestes a desbloquear e me olhou. –Faz leite quente com mel pra mim, por favor...?
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Metade de uma peça
Fiksi PenggemarNum fim de tarde de tempestade onde um par de gente esqueceram seus guarda chuvas, surge por impulso do destino uma oportunidade de conhecer o seu "companheiro destinado", acho que posso chamar assim, e dentro desse falso clichê é fácil notar a indi...