A força De Um Olhar

Hora de acordar

Lauren segurou a mão dela e Camila sentiu a força do calor de seus dedos curvados em volta dela. Elas ficaram na sala de estar da velha casa vitoriana - não como estava agora, mas como tinha sido no passado.

Havia um piano no canto da sala e a luz do sol emanava da janela para dançar pelas teclas de marfim. Um xale de lã com um estampado vivo cobria a parte de cima reluzente do piano e acima dele havia uma dúzia ou mais de porta-retratos com fotografias em tom sépia. Um gato preto e branco estava enroscado sobre a cadeira estofada e havia uma mulher de pé na janela da frente.

Delineada por uma luz dourada, ela olhava para o lado de fora da janela além da estrada como se esperasse alguém. Com uma das mãos na boca, ela envolveu seu outro braço em volta de sua cintura como se tentasse confortar a si mesma, quando não havia conforto para ser encontrado.

Sua aflição silenciosa ecoava pela sala e suas lágrimas pareciam diamantes sob a luz. Ela permaneceu olhando, esperando pelo seu amor que prometera voltar. Ela caminhava de janela em janela, a esperança e o medo andando no mesmo ritmo, seus passos silenciados pelo carpete abaixo de seus pés. Em algum lugar, um relógio soava as horas e os ombros da mulher curvaram-se a cada suave alarme.

Camila sentia a aflição da mulher  como se fosse sua. A própria casa parecia pulsar com as pontadas  da agonia da mulher. O tempo nãp passava neste plano da memória. Durante décadas, a mulher estivera encurralada- por sua própria dor e desespero, e parecia que o fim não estava por vir.

Camila olhou para Lauren e viu seus olhos iluminarem-se de pena exatamente antes de uma persiana cair sobre elas, trancando-a do lado de fora.

Ela sentiu, assim como entendeu, o afastamento dela.

E em seu sono, Camila agarrou-se a ela , de alguma maneira com medo que ela fosse escapulir dela e ser deixada- como a mulher dos lamentos-esperando por um amor que nunca teria.

Lauren acordou primeiro, um tanto surpresa em saber que o sonho tinha acabado. Camila estava curvada contra seu corpo, sua pequena mão sobre o peito dela. Lauren cobriu-a com uma de suas mãos e logo depois a soltou com relutância.

Como tinham compartilhado aquele sonho?
Como tinha sido puxada para a dor do fantasma e sentido aquela dor com ela? E como ela poderia ter esquecido, mesmo que fosse por um segundo, as lições que aprendera há tanto tempo? Ver o fantasma como ela era no passado, uma mulher jovem e linda que perdera tudo porque se aventurara a amar fez com que Lauren se lembrasse de que o amor significava dor.

Franzindo a testa, ela saiu com cuidado da cama, deu uma topada com seu dedão na mesinha, e blasfemou irritada. Olhando fixamente para a mulher nua deitada na sua cama, alguma coisa dentro dela virou de cabeça para baixo e ela quase desejou que as coisas pudessem ser diferentes. Mas ela sabia, mais do que qualquer coisa, que não podiam.

Como se sentisse o olhar de Lauren nela, Camila acordou. Movimentando-se languidamente, ela abriu os olhos para encontrar as dela e lançou-lhe o projeto de um sorriso.

-Nós acabamos de.....

-Sonhar?-perguntou Lauren, depois balançou a cabeça com firmeza, inquieta com os sentimentos que surgiram novamente e que se moviam ruidosamente dentro dela.-Sim, a gente deve ter.....

-Mas como?

-Não sei - murmurou ela pegando sua calça jeans da cadeira que havia por perto. Ela tinha de sair daquele quarto. Tinha de evitar ficar olhando para Camila. Caso contrário, ela cometeria um erro. Ela se esqueceria das lições aprendidas, dos fantasmas e das velhas dores e se perderia nos braços de uma mulher que era, ela de repente percebeu, importante demais para ela. Não poderia deixar aquilo acontecer, disse ela severamente, pois  aprendera ainda bem nova que o amor só atraía desastre.

-Vou descer. Preparar um café.

-Lauren?

Ela balançou a cabeça e arriscou um rápido olhar na direção dela. Instantaneamente, percebeu o erro que cometera. O amor cintilava nos olhos de Camila e aquilo a apavorava.

O coração dela ficou duro e frio dentro de seu peito, e sua garganta ficou tão apertada que não tinha certeza se seria capaz de respirar.

Ela virou de costas, pois não conseguia olhar para ela e não deseja-la. Indo em direção a porta, ela agarrou a maçaneta, virou-se e parou com a porta parcialmente aberta.

-Vou fazer café para voce e talvez ovo. Acho que já está bem o suficiente para comer alguma coisa sólida.

-Tudo bem-disse ela, a voz dela repleta de perguntas que não podia responder..... e não responderia.-Mas Lauren, temos que conversar sobre.....

Lauren balançou a cabeça e deu um passo para fora do quarto.

-Não temos nada sobre o que conversar, Camila. O sonho acabou. Hora de acordar.

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Desculpem os erros

😆😆😆