Faça as pazes

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Lauren ainda estava onde ela a tinha deixado,confusa com o fato de Camila ter realmente ido embora, quando ouviu a porta da frente se abrir e depois fechar-se atrás dela. O silêncio  pulsava pela velha casa como golpes de martelo. Não conseguia acreditar. Camila tinha ido embora.

Com a imagem dela ainda fresca em sua mente, ela via a dor nos olhos de Camila e fechou os próprios olhos em uma tentativa  vão de tentar fazer com que aquela visão desaparecesse. Mas, ao contrário, tornou-se mais clara.

-Droga - sussurrou ela dentro do quarto vazio, sentindo-se mais sozinha do que nunca.- Eu amaria você se conseguisse, Camila. Mas é tarde para nós duas.

De repente, um frio gélido apareceu no quarto como se uma nevasca invisível estivesse passando por ela. O vento assobiava em volta dela, esmurrando-a, levando-a em direção  à porta. O cabelo dela levantou com o vento, uma rajada de vento frio entrou e ela agarrou o umbral da porta e esperou.

Com a garganta e o coração palpitando, ela olhou ao redor do quarto sem acreditar. Um bramido veio junto com o vento e tornou-se um gemido de dor veemente e frenético. Fotos enquadradas desprenderam-se das paredes e voaram formando um círculo amplo e gelado.

A lâmpada do teto acendia e apagava em piscadas frenéticas como em uma discoteca. O espelho sobre a cômoda estilhaçou-se e cacos estalaram pelo quarto, caindo no chão e formando uma confusão de pedaços pontiagudos.

Lauren soltou o batente da porta e firmou os pés no chao, curvando-se no vento esmagador e determinada a vencer a fúria do fantasma. Ela olhou fixamente para a bagunça e gritou para ser escutada além do vento e sua respiração formou uma névoa em frente de seu rosto.

-Caia fora! Eu não devo nada a voce, você sabe disso!

O lamento veemente ficou ainda mais alto e deixou sua pele arrepiada. Seu estômago revirou e ela engoliu um nó de pura adrenalina que pulsava através dela. O gemido sofrido e vibrante parecia partir sua alma ao meio com uma agonia que era intensa demais para poder ser descrita.

E o vento continuava a soprar, as fotos rodopiavam em círculos cada vez menores e uma camada de gelo formou-se nas janelas de dentro.

-Ela foi embora e eu não posso impedi-lá!

Mais lamentos, com mais intensidade, mais frenéticos.
As janelas sacolejavam, e o vento gritava.

-Eu não recebo ordens de fantasmas - gritou ela, ainda tentando se fazer escutar. Mas mesmo quando aquelas palavras ressoavam com ela mesma.

Ela não recebia ordens de fantasmas?
Tudo oque fazia não era por causa do fantasma de Troy? Ou, pelo menos, as lembranças que tinha dele e do que aconteceu há tempos?

Ela ficou confusa e andou cambaleante contra a força do frio que a golpeava. Ela era realmente tão diferente assim do fantasma preso naquela casa?

Como ela, o fantasma não desistira de tudo por causa da própria dor? Ela não passara o resto de sua vida presa a sua dor? Mesmo na morte, ela estava determinada a afastar até mesmo o espírito do homem que ainda estava tentando alcança-la.

Estava tao agarrada na própria aflição que não era capaz de ver uma saida. Não via no passado. E não via agora.

E, de repente, o próprio futuro de Lauren estendeu-se a sua frente e aquilo, mais do que frio fantasmagórico, deixou até os osso de Lauren arrepiados.

-Não - murmurou ela, passando as duas mãos no cabelo e sentindo o gelo das pontas de seus dedos. Ela não era como o fantasma encurralado. A situação de Lauren era diferente.

Era mesmo?
Ela se isolara-se do amor para manter-se protegida da dor. Camila tinha tentado entrar, ultrapassar as barreiras que colocara em volta de seu coração e ela a deixara de fora. Esse fantasma não tinha feito exatamente a mesma coisa?

A força De Um OlharOnde histórias criam vida. Descubra agora