Capítulo 10 - Par de copas.

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Deixara que Cinco escolhesse o filme. Primeiro porque não ia aguentar ele reclamando o filme inteiro e, segundo, porque de acordo com seus cálculos ele não devia saber o que era ir ao cinema há décadas. Talvez nunca. Também o deixara escolher os doces e o ouvira reclamar do porquê de um cinema não vender café quando ajudava a não dormir no meio do filme. Diego sorrira para aquilo. Só mesmo Cinco para ter uma ideia daquelas.

O filme começara logo em seguida. Devia ser uma das últimas sessões do dia, pois estava quase fazia a sala de cinema. Umas oito pessoas, talvez. Seus lugares eram os mais do fundo possível.

Diego esperava receber algum tipo de crítica a cada cinco minutos ou menos. Algo como "roteiro fraco", "enredo previsível", "nada verossímil" e coisas do tipo. O que não esperava, no entanto, era que Cinco ficasse completamente quieto. Quer dizer, não era sequer um filme bom. Estava cheio de furos, erros de continuidade e era uma narrativa bem previsível, mesmo assim seu irmão parecia entretido como nunca, com os grandes olhos moldados por cílios longos fixos na tela, enchendo a boca de doces ou pipoca vez ou outra, como se por reflexos automáticos.

Cinco já era lindo, mas vê-lo de uma forma tão... De guarda-baixa tinha um charme e tanto. Diego não negava que gostava do jeito furioso, arrogante e destemido dele, mas naquela noite, com Cinco distraído e iluminado por uma tela brilhante, parecia quase... Inocente. Inocente como ele jamais fora no corpo de 13 anos. Ele estava relaxado. Distraído com algo que não era o fim do mundo.

Ele estava estranhamente lindo.

Encantadoramente lindo.

Tentadoramente lindo.

E Diego precisara se segurar para não se inclinar e roubar-lhe um beijo. Não por causa da aposta, mas porque seu peito queria aquilo. De forma emocional e de forma sexual. O porquê estava longe de sua compreensão e aquele seu desejo conseguia fazer da situação ainda mais absurda e errada do que o lance da aposta. O que Diego esperava? Sexo casual com seu irmão gostoso?

Como é que o Klaus conseguia planejar aquele tipo de coisa sem sentir seu estômago pesar em culpa?!

De qualquer forma, Diego não cedera ao seu desejo, pois não havia forma de ter um resultado positivo daquilo. Acabaria o distraindo e afugentando. Tudo o que conseguiria seria pura rejeição.

Decidido a jogar de forma mais "segura", com um movimento de cada vez, fazendo aquele movimento tão antigo quanto os primórdios do flerte: um braço sendo preguiçosamente estendido pelo encosto da poltrona de Cinco, por detrás dos ombros dele. Assistira de forma cautelosa pelo canto dos olhos: nenhuma reação por parte do assassino mirim.

Diego liberara a respiração que não percebera estar prendendo ao ver Cinco não se mover.

Tudo indo bem.

O próximo passo fora um escorregar sutil para o ombro mais distante de Cinco, gentilmente esfregando a região com a ponta dos dedos, como se fosse um gesto automático, gentil e preguiçoso. Nada demais, poderia dizer. Algo de irmãos.

Por um momento os músculos de Cinco tensionaram. Os ombros elevando-se alguns centímetros por reflexo, os olhos ainda fixos na tela, isto até ele perceber que não se tratava de alguma ameaça iminente e relaxar os músculos de volta, sem nada a proferir.

Diego retomara o acarinhar suave, esfregando círculos com o polegar, desenhando o osso do ombro de Cinco durante alguns preguiçosos minutos.

Quando Cinco já estava relaxado o suficiente fora a hora do terceiro passo: subir a mão de forma cautelosa e premeditada, um pouquinho próximo da clavícula, então roçando de leve no queixo antes de empurrar de forma gentil para que ele deitasse no seu ombro perfeitamente posicionado.

Straight Flush - O Jeito Umbrella de Jogar PokerOnde histórias criam vida. Descubra agora