Ruan

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Hoje é dia de correria. O morro já está bastante movimentado, os canas devem subir mais tarde para tentar invadir. Mas só tentar mesmo porque eles sabem que é impossível

Estou aqui na boca, onde chamamos de Caixa forte. Demos esse nome porque fica em um lugar isolado do resto das casas do morro e é muito bem protegido. Temos vários homens armados espelhados por todo o lugar e não estou falando de simples vapores, estou falando dos mais brabos atiradores do exército brasileiro que hoje trabalham com o "chefe".

Chefe é o dono do morro, meu melhor amigo, Nathan. Conheço ele desde moleque e sempre fomos aliados, até que seu pai morreu e deixou de herança para ele o morro.

Agora ele está na minha frente terminando de dar as ordens de como vamos reagir a invasão. Ele sempre muito inteligente, criando planos e fazendo estratégias, enquanto eu... Sou o que faz as coisas acontecerem, sempre sem medo da morte, que mata simplesmente por não ir com a cara de alguém.

Tenho fama de impiedoso e confesso que gosto. Ver o medo no olhar das pessoas que trombam comigo acidentalmente é satisfatório.

Chefe acabou de dar as ordens e uma delas e que não haja morte. Pelo menos não de moradores, vapores ou atiradores. Os policiais? Que morram. Eu simplesmente não ligo nem um pouco.

— Ruan, preciso que você busque minha mãe e faça ela vim para Caixa forte mesmo contra sua vontade - diz Nathan

A mãe dele não concorda que ele tenha assumido o lugar do pai dele de dono do morro e não gosta do fato de ser sustentada por dinheiro "sujo"

— eu vou tentar, mas você sabe como a coroa é irmão, ela não vai querer vim nem fodendo

— ela não tem que querer nada, eu não posso deixar ela lá naquele barraco sem proteção, aqui é o melhor lugar pra ela ficar por enquanto

— suave, vô descendo

Pego minha BMW e desço até perto da entrada do morro onde mora a tia mily, paro na rua onde há garotos soltando pipa e umas meninas sentadas na calçada, dentre elas está Jenifer, a última com quem transei, ela realmente acha que vai me fazer gostar dela 

Haha essa é iludida

Só em falar nela...

— E aí mo – diz me abraçando, mas logo me afasto

— qual foi?

— tô com saudades poxa – faz biquinho

— é mesmo? – ela balança a cabeça positivamente e eu dou corda — quem sabe um dia eu não te assumo gata – passo o dedo no seu queixo e seu sorriso aumenta

— sério? – pergunta como se tivesse ganhado na loteria

— Não mesmo.

Viro as costas e entro na casa da tia mily

— Oi tia – falo pedindo a bença com a mão

— Oi meu filho, o que está fazendo aqui em? – coloca o pano de prato no ombro

— vim te buscar pra te levar pra Caixa forte

— não vou!

— a coe tia – coço a cabeça — Nathan te quer lá em cima

— eu não tô nem aí, fala para aquele meu filho desnaturado que não quero nenhum envolvimento com essas coisas que ele faz

— a tia, sabe como seu filho é né, se a senhora não for comigo ele vai vim aqui pessoalmente te pegar pelo braço e arrasta-la a força – ela balança a cabeça negativamente com semblante de decepção

— pode pelo menos me dizer o porquê dele me querer lá?

— hoje vai ter invasão tlgd? Aí ele não quer que tu fique aqui sozinha, além do mais lá é muito mais seguro

— eu não quero vocês nessa vida meu filho, não quero meus dois filhos arriscando suas vidas por um mísero dinheiro

— mas não estamos só pelo dinheiro – falo lembrando de tudo que passamos para reerguer os negócios do pai do Nathan que estava falido

Lembro muito bem de cada amigo que perdemos ao longo dessa caminha e lembro também que a cada amigo ou parente que eu perdia, ia me afastando mais da minha humanidade

E por isso sou como sou.

— será que a senhora pode vir comigo logo? Não quero escutar sermão do seu filho, a senhora sabe como ele é chato – dessa vez não dou chance dela sequer responder, apenas pego sua mão, a levo até a moto e subo com ela na garupa

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