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Alysson Harley

Se tem algo que me pergunto todo dia é qual é o sentido da minha vida? Porque levanto todos os dias? Ainda não descobri a resposta pra isso. Talvez se a pergunta fosse, "o que eu faço de útil na minha vida?" A resposta seria mais difícil ainda porque eu, só vivo.

Dizem que as pessoas precisam de amigos, de família, mas eu nunca precisei de ninguém, sempre tive que me virar pra ter as minhas coisas e consegui, morar sozinha em uma cobertura enorme só realça a minha solidão, não que eu realmente me importe com isso mas acaba sendo muito monótono, acordar, ir até o escritório que fica do outro lado do corredor, trabalhar e ficar na sala.

Não que eu seja uma antipática de carteirinha mas é difícil ter amigos quando se está cercada de gente falsa, mesquinha e egoísta, ou quando essas pessoas te julgam pela aparência modo de falar e se vestir e meus negros cabelos curtos, meus piercings, tatuagens e a minha jaqueta preta indispensável, não são um bom atrativo.

Já eu, simpatizo muito com a imagem que vejo no espelho, me sinto bem comigo mesma, estou exatamte do jeito que quero ser. Fito uma última vez meus olhos verdes antes de abrir um sorriso forçado.

- Pra que dentes tão perfeitos se nem um sorriso sincero você consegue dar? - pergunto para o reflexo antes de lavar o rosto.

Volto para o quarto encontrando as minhas companhias noturnas, o nome? Não faço idéia, eu só queria me divertir um pouco e como tudo na minha vida é momentâneo acho que é hora de me livrar dos dois.

- Acho que é hora de levantar. - digo os sacudido.

Assim que ambos acordam os deixo no quarto e vou para a cozinha, preciso de café já que fui dormir tarde ontem e as minhas olheiras não negam, minha cabeça dói um pouco, culpa da tequila ou do uísque, talvez a mistura dos dois com a vodka, resultado? Dois seres na minha frente.

- A noite foi divertida. - diz o primeiro.

- Esse é meu número, me liga. - ela me entrega um cartão que tira de sua bolsa.

- Eu não tenho cartão, posso anotar em algum lugar? - pergunta.

- Não precisa, eu te acho se quiser.

- Então tchau né?

- Tchau foi bom te conhecer, me liga. - ela diz antes de saírem pela porta que eu segurava.

Agora sozinha de novo e com uma xícara de café vou para o escritório. Trabalho do dia, roubar arquivos do servidor da polícia local que incriminam um traficante, quem se importa se é errado quando se é bem pago pra isso? Ainda mas quanto se faz tudo com perfeição.

Não demora muito para que consiga descriptografar os níveis de segurança já que não é a primeira vez, e sem contar que eles usam programas péssimos pra isso, transfiro o arquivo para um servidor fantasma e de lá copio tudo pra um pen-drive, trabalho concluído.

Como combinado antes, irei me encontrar com o representante do meu cliente, pego minha jaqueta já que está frio, meus fones de ouvido e desço até o estacionamento, subo na moto e piloto até o local indicado, não demora muito para chegar em frete à um bistrô.

Tiro o capacete e entro no local bem harmonizado, vejo um homem de grande porte sentado em uma das mesas, é ele, faço o meu pedido e me sento de frete pra ele.

- Conseguiu?

- Não vai me oferecer um café?

- Não tenho tempo pra brincadeiras garota, você foi muito bem paga pra ficar de gracinha.

- Ainda sou um dama sabia? - meu pedido chega, abro a pequena caixinha fitando o cupcake azul. - Gosta de azul? - lhe entrego a caixa.

- Não estou com paciência. - diz abrindo a caixa.

- Espero que goste, é sabor chocolate.

Me levanto e saio do estabelecimento, ao atravessar a calçada acabo esbarrando em uma garota apressada.

- Desculpa, eu sou muito desastrada.

Seus olhos são grandes e negros, seu pequeno soriso tímido exibem dentes brancos e alinhados, as bochechas coradas indicam sua timidez, pequenos detalhes que vi nos dois segundos em que nos encaramos.

- Desculpa de novo.

- Não tem problema. - digo passando as mãos na cabeça. - É... tenha um bom dia. - forço um sorriso simpático.

- Pra você também. - sorri. - Tchau.

- Tchau.

Como é possível existir alguém tão perfeito assim?

Ela passa por mim seguindo seu caminho novamente apressada, não posso perde-la de vista, preciso descobrir pra onde vai, guardo as chaves da moto novamente no bolso e à procuro, entre o vai e vem de gente encontro o seu vestido azul, ganho proximidade e a acompanho, ela cumprimenta algumas pessoas enquanto anda, finalmente entra em um dos prédios, como as paredes do andar térreo são em vidro consigo vê-la cumprimentar o guarda e logo após subir pelo elevador, entro logo após e observo em qual andar ela vai parar, quinto!

- Posso ajudar?

- Eu é, qual o nome da moça que acabou de entrar mesmo?

- A senhoria Davis?

- Isso caiu da bolsa dela, gostaria de devolver. - mostro um cartão, o que a mulher que estava na minha casa me deu. - Talvez seja importante.

- Se quiser eu mesmo entrego.

- Ela trabalha aqui?

- Sim, é a nossa analista de sistema, uma ótima pessoa, quer entregar pessoalmente?

- Não, obrigado, tenha um bom dia. - digo lhe entregando o cartão e saio.

Analista de sistemas?

Agora ela conseguiu me chamar mais atenção ainda, senhorita Davis, qual será o seu primeiro nome? Será que tem namorado? Com aquele rosto não seria surpresa, melhor esquece-la logo. Vou até onde a minha moto está estacionada, dou partida e volto pra casa.

Srta. DavisOnde histórias criam vida. Descubra agora