Capítulo 3

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19 de outubro de 2019

Felizmente ou não, o meu aniversário havia finalmente chegado. O forte sol estava presente desde cedo, fazendo um lindo dia e o cenário perfeito para uma pool party, justamente como eu e a Dora planejamos nos últimos dias.

Com muito esforço, meus amigos me convenceram a comemorar meus dezoito anos com uma festa na piscina da casa da Dora, requisitando apenas a presença dos nossos amigos mais próximos, apesar de eu ter tentado usar o fato de que estava preocupada demais em passar de ano como argumento para fazê-los desistir. 

No final acabei aceitando, por perceber estar precisando de uma distração e menos auto sabotagem.

Planejamos fazer um churrasco com muitas bebidas e alguns lanches, algo muito simples. Contando inicialmente com a presença de Dora, Omar e algumas amigas nossas, a festa começou às duas da tarde, enquanto os outros convidados chegavam.

Mesmo eu não concordando muito, adicionamos à lista o tão amado Eric. Até onde eu sabia, ele havia informado que não apareceria tão cedo, o que me daria tempo de aproveitar a festa antes de ter a atenção dos convidados roubada pelo garoto.

Prendi meu cabelo em um rabo de cavalo e me olhei no espelho pela última vez antes de voltar à festa. Ao som de uma música animada, pude ver meus amigos se cumprimentando, enquanto outros dançavam, bebiam, comiam ou estavam na piscina.

Falei com algumas pessoas que estavam chegando e me parabenizando, e depois me juntei a Dora e nossas amigas na piscina, a fim de me divertir sem perceber o tempo passar.

Um pouco mais que cinco da tarde, estávamos jogando um jogo qualquer, onde quem perdesse estaria mais bêbado que qualquer outra pessoa na rodinha, quando ouvimos algumas vozes vindo da entrada do lugar. Meu sorriso desmanchou-se assim que direcionei o olhar para onde a maioria olhava com surpresa e felicidade.

Quem caminhava em nossa direção era o meu ex namorado, Felipe Ferraz. Nos conhecemos através de Dora e Omar, começamos a ficar numa festa, conversamos por algumas semanas e logo depois já estávamos namorando. Ficamos juntos por onze meses.

Como em todo início de relacionamento, a paixão por ele era o que me movia. E com o passar do tempo, nossa comunicação começou a se desgastar, passamos a brigar sempre e eu me via desconfiada quando minhas mensagens não eram respondidas com a mesma frequência de antes, quando ele passava mais tempo com os seus amigos do que comigo, e quando parecia mais animado com uma notificação em seu celular do que com minha presença ao seu lado.

Quando finalmente tive coragem de perguntar o motivo de todo aquele distanciamento, me arrependi e passei a noite toda chorando em meu quarto. Ele disse que eu não era o que ele queria naquele momento, e que já não me suportava mais. Não exatamente com essas palavras, mas foi isso que ele quis dizer.

Doeu por muito tempo, além de me trazer de volta minha insegurança e me fazer descobrir problemas que eu jurava não ter.

Então decidi me manter longe, parando de ir nas festas que ele costumava estar e nos lugares que sempre íamos juntos. Passei a ir no psicólogo mais vezes do que precisava antes e me fechei para tudo e todos até estar bem novamente.

Não consegui voltar a ser sua amiga e agradeci muito quando fiquei sabendo da sua mudança de cidade, o que me deu a chance de me recuperar por completo.

E então após oito meses, ele simplesmente volta e aparece na minha festa de aniversário, me deixando completamente confusa sobre como me sentir ou agir. Claro que eu já estava bem, mas ainda não havia esquecido da forma que me senti.

— E aí, cara, tudo bem?! – Omar perguntou, indo em sua direção com um sorriso.

— Não acredito! Felipe, você voltou! – disse Dora em euforia. Eles sempre foram muito amigos, então imaginava o quanto ela estava feliz.

— Por favor, nos diz que você voltou para ficar! – disse Raissa, uma das minhas amigas.

— Calma pessoal, eu nem fiquei tanto tempo longe assim! – sorriu. — Voltei apenas por alguns dias, vim resolver umas paradas e ver vocês. – disse, abraçando todos os que estavam em volta dele.

Tentei revirar os olhos de forma discreta e me levantei para ir cumprimentá-lo, mesmo não fazendo ideia de como fazer.

Ele parecia mais bonito e bem arrumado do que eu lembrava, provavelmente pela vida de modelo que ele estava tendo no Rio de Janeiro.

— Oi, Felipe. – falei sorrindo, ao me aproximar.

— Olá, Luísa! – retribuiu, parecendo me analisar com seus olhos escuros. — Parabéns! – ele disse, me envolvendo em um abraço.

— Obrigada! – falei, desvencilhando-me do seus braços ao sentir seu forte e inconfundível perfume, que me deixava enjoada e com dor de cabeça. — Você está bem?

— Estou ótimo, e você? Parece estar ainda mais bonita!

— Estou muito bem, é o meu aniversário! – respondi com ironia, mas não de forma perceptível. — E obrigada, você também não está nada mal! – falei em um tom descontraído, o fazendo rir.

Nossos amigos estavam próximos da gente, então ele foi aos poucos se juntando aos outros e eu me afastando, encerrando completamente nossa interação.

Antes que eu pudesse pensar em sair para tomar um ar e absorver o que havia acabado de acontecer, meu olhar foi de encontro com uns característicos olhos.

— Luísa!? – disse Eric ao caminhar em minha direção.

— Oi, sou eu. – dei um sorriso sem graça.

— Me desculpa pelo atraso, eu e os meninos tivemos que fazer algumas coisas. – disse, levando seu olhar ao relógio em seu pulso, enquanto eu desviei minha atenção aos garotos atrás dele.

— Tudo bem, não tem problema.

— Ok. – ele disse, ao passar uma de suas mãos por seus cabelos ondulados. — Bom, é, feliz aniversário! É um prazer conhecê-la. – sorriu, vindo em minha direção para um abraço um tanto desajeitado.

— Obrigada, prazer! – falei, enquanto ele lentamente ia embora com um sorriso.

Cumprimentei seus outros amigos, que até então não conhecia, mas sabia que tocavam com ele na banda. Os observei caminhar e suspirei.

— Atenção pessoal! Tá na hora de cantar parabéns para a nossa amiga e aniversariante do dia, Luísa! – disse Raissa animadamente, fazendo todos gritarem e suas atenções serem direcionadas para mim.

Sorri surpresa ao ver Dora caminhar em minha direção, segurando em suas mãos um bolo simples e ao mesmo tempo muito bonito e bem decorado.

Imaginei que a ideia da surpresa havia sido da Dora, enquanto o preparo do bolo pela Raissa, já que ela ama fazer diferentes receitas e sonha em cursar gastronomia.

Caminhei em direção à mesa para assoprar as velas em meu bolo, ao som de meus amigos cantando a constrangedora música de parabéns, e logo depois voltamos a curtir.

— E aí, galera! Vamos cantar juntos! – disse um dos garotos da banda. E então Eric começou a tocar e cantar o primeiro verso da música “Natasha”, uma das minhas favoritas.

Eu já havia escutado um de seus covers e músicas autorais no YouTube, e sabia do potencial de sua voz, mas ao vivo consegui entender o porquê das pessoas o elogiarem tanto.

— O que está achando? – perguntou Dora aproximando-se, enquanto eu bebia um gole de uma das bebidas.

— Ele manda bem! – falei, sorrindo em sua direção.

Ela concordou e me puxou para que eu me juntasse aos nossos amigos, incluindo o Felipe, cuja presença me deixava muito sem jeito e com mais vontade de beber. E quanto mais eu bebia, mais me sentia livre para dançar no ritmo da música.

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