II- Preocupações

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- E então? Sabe o que ela tem? - Lorél estava saindo do quarto após quarenta minutos. Eu já estava pensando o pior porque pela demora, só podia ser algo grave.

Lorél é amiga da nossa família há anos, muitos mesmo antes de eu existir. Segundo minha mãe, fora ela que ajudara na sua gravidez. Acho que devia ser por isso que eu gostava tanto dela! Muito simples e humilde, mas de uma generosidade impressionante.

Ela era muito diferente da minha mãe, seus cabelos eram ruivos, olhos verdes, o nariz era um pouco grande, mas se encaixava bem em seu rosto oval. Sua pele era branca, quase reluzia ao sol. Naquele momento ela estava mais branca do que o normal.

- Ela está bem, querida. Acho que a falta de comida a fez se sentir mal. - ela segurava seu vestido com força - Ela pediu para você ir vê-la.

Assenti para ela e entrei no quarto de minha mãe. A cor pálida de seu rosto havia ido embora dando lugar a um leve corado nas bochechas, seus olhos ainda estavam desfocados, distantes. Meu coração se acalmou um pouco ao ver minha mãe se estabilizando.

- Sente-se melhor mamãe? - perguntei me sentando ao seu lado na cama.

- Estou sim meu bem. Queria falar com você sobre o que aconteceu agora pouco.

- Lórel disse que era apenas um mal estar passageiro. É mais que isso, não é? - as lágrimas já se formavam em meus olhos.

- Não...não! Eu só preciso ficar de repouso por um tempo e preciso que tome conta de casa. Escute Catherine, você vai precisar ir até a fronteira vender nossos produtos ao comerciantes do sul. Eles darão um bom dinheiro pela nossa coleta.

- É claro! Posso chamar Dristan para ir comigo. - digo sorrindo.

- Você deve ter cuidado! Lembre-se de que nosso comércio com eles é ilegal! - ela diz séria.

- Não precisa se preocupar, serei bem discreta. - pego sua mão e sorrio - Você precisa descansar agora. Que tal um cozido?

Ela sorri para mim e assente. Quando saio do quarto vejo que Lórel se fora deixando apenas um bilhete com ervas que mamãe teria de tomar. Conhecia algumas pelo nome e sabia que custavam um bom dinheiro. Rezei mentalmente para que os comerciantes do sul nos dessem uma boa quantia!

A casa está silenciosa e o que se ouve são apenas os cantos dos pássaros do lado de fora. Me sinto um pouco nervosa pelo fato de ter que ir até a fronteira, nunca havia ido até lá, seria a primeira vez! Meu medo era que algum guarda real nos pegasse, isso traria consequências irreparáveis para mim é para Dristan. Eu não queria ser responsável por sua morte!

Vou para cozinha fazer o cozido. Sobrou um pouco da carne de coelho que eu matará, então, eu usaria aquela mesmo. O cozido era fácil de fazer, levava apenas carne e vegetais de preferência, mas a verdade é que o resultado final dependeria de como ele era feito e de quem. Acredite se quiser, mas isso faz uma diferença e tanta! Por isso meu cozido nunca chegaria ao da minha mãe.

Enquanto o cozido cozinhava, resolvi fazer uma torta de amoras (minha especialidade!). As amoras estavam fresquinhas, eu as havia colhido ontem de manhã. Terminei de fazer tudo e levei um pouco para minha e eu mãe comer no quarto.

Eu não queria sair de perto dela preocupada com o fato de que a qualquer momento ela desmaiaria de novo.

Assim que terminamos de comer, deixei-a descansar um pouco e fui atrás de Dristan na casa de seus pais. Não era muito longe da minha casa, assim como tudo lá, era uma caminhada rápida e tranqüila.

Dristan estava em frete de sua casa colocando os morangos em uma caixa de madeira, provavelmente seu pai os venderia na fronteira, assim como eu.

- Dristan! - gritei. Ele se virou assustado, mas assim que me viu, veio até mim correndo.

- Cath! Fiquei sabendo que sua mãe se sentiu mal. Ela está bem?

- Sim, ela esta bem agora graças a Lórel! Ela foi de muita ajuda, disse que não era nada grave.

- Que bom! - ele sorriu. - Você não veio falar da sua mãe, não é?

- Não. Na verdade, eu queria que você me acompanhasse até a fronteira. Preciso vender eles também - apontei para a caixa cheia de morangos

- Você? Indo até a fronteira? - concordei com a cabeça - Nem pensar. - disse dando as costas para mim e voltando até a colocar os morangos na caixa.

- Mas eu preciso ir até lá Dristan! Mamãe me pediu, preciso comprar as ervas que Lórel me passou e...- deixei as mãos cair pesadamente - Quer saber? Não precisa, eu vou sozinha! - ergui a cabeça e arrumei minha postura.

- Você não consegue segurar um cesta de morangos direito e quer levar uma caixa cheinha deles até a fronteira? De cavalo?

- Você falando assim parece difícil! - resmunguei.

- Porque é difícil - disse com um sorriso .

- Dristan...- olhei para ele carinhosamente.

- Tá! - riu - eu te levo. Partiremos amanhã. Arrume o que tiver que arrumar e então iremos.

Dei pulos de alegria e fui até ele, abraçando-o e agradecendo por sua gentileza.

Eu teria de deixar mamãe sozinha por três dias e por isso eu estava um pouco apreensiva. Por outro lado, seria a primeira vez que eu sairia de Tartan e estava ansiosa por isso!

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