IV - Presos

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Não pude esconder minha admiração tamanha a beleza do homem que estava a minha frente. Seus olhos eram de um azul claro quase cristalino, e os cabelos castanhos emolduravam o rosto de traços finos. Olhar para ele era como olhar para um verdadeiro deus! Seu tamanho impunha presença e importância, bem como suas vestes, que possuíam pedrarias que só mesmo os mais ricos, ou o Rei, usavam. Quem é ele?

Minhas pernas fraquejaram e senti que ia cair, mas o homem postado à minha frente fora mais rápido.

- Acho que deveria se sentar, senhorita. - senti seus braços fortes envolverem minha cintura. Estremeci. - Está com frio? Quer que eu providencie mais algumas cobertas?

Já sobre a pequena cama e travesseiros senti-me melhor e disse:

- Dristan. - o homem não pareceu entender.

- Desculpe, mas não sei quem...- não o deixei terminar.

- O homem a quem está mantendo preso, Dristan. Quero falar com ele!

Desta vez ele tinha entendido de quem eu falara, mas não esboçou reação nenhuma. Eu esperava a desconfiança, um interrogatório e o que eu mais temia, a morte. Aquele homem possui bens de alto valor, é poderoso! conclui.

Alheio aos meus pensamentos, o homem foi em direção a uma mesa com frutas e vinho sob ela, e sentou-se em uma cadeira, despreocupado.

- Então você o conhece? - indagou

- Sim, eu o conheço! - endireitei a coluna e me sentei mais ereta.

- E... - coçou o queixo como não quisesse nada - posso saber o que uma bela dama está fazendo aqui? No meio do nada?

Bela dama? Isso era algum tipo de piada?

- Estávamos indo para a ....- eu poderia mentir e dizer que era algum passeio, mas ele não era bobo.

- A fronteira. - ele não perguntou. Ele simplesmente sabia.

- É. A gente ia vender umas mercadorias pra garantir uma renda a mais.

- O lugar de onde você vem não garante uma boa renda? - perguntou.

- Não tanto. Quer dizer, a quantia que ganhamos nas trocas é para o básico do básico sabe?

- Isso é realmente ruim! E o seu Rei não faz nada?

- Acredito que ele faz o que está ao seu alcance. - dei de ombros - Quer dizer, eu nunca vi o Rei pessoalmente, ele é extremamente reservado. Pelo que me dizem no povoado, a morte do pai fora demais para ele.

O homem me olhava de forma curiosa, sempre tanto a qualquer movimento meu. Demorou alguns minutos até que ele voltasse a falar algo.

- Você acha que ele seja uma boa pessoa?

Eu achava? Eu não sabia! Meu povo não passava fome, tinham suas próprias casas e negócios, o alimento que obtínhamos era plantado por nós, tínhamos uma liberdade, mesma que limitada, educação garantido. Tudo era bom, não perfeito. Não havia mudanças, era sempre o mesmo do mesmo. Eu o achava uma boa pessoa?

- Eu não sei. Não reclamo do que tenho, do que nós temos, mas poderíamos ter mais? Ser mais? - abaixei a cabeça e dei um sorriso fraco. - As vezes acho que ele é como eu.

- Como assim? - ele pareceu curioso.

- Alguém que perdeu uma pessoa que amava e teve de assumir e encarar certos obstáculos. - ergui a cabeça e fitei os olhos azuis que me encaravam.

- E quem era o seu pai? - não sei o porque de tanta pergunta, ou interesse, mas mesmo assim respondi todas elas. Naquele momento contei sobre meu pai, sua importância na realeza. Contei que eu era a filha do general que morreu tentando salvar o Rei.

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- Por que não me avisou que estavam aqui? Se eu soubesse, nunca teria vindo. Ainda mais com a Catherine!

- Eu não sabia que estaríamos aqui, ele decidiu de última hora! Eu ainda tentei avisar, mandei um recado pela sua mãe, mas parece que não funcionou né? - Erskine disse de um modo debochado.

- Da próxima vez tente ser mais rápido! - digo entre dentes. - Não podemos correr riscos, você sabe.

- Não entendo o porque, que diferença faz?!

Erskine não entendia. Não entendia, ou não queria entender. Eu acreditava na segunda opção. Desde pequeno ele era assim, a opinião dele era a única que valia, suas observações eram as únicas a ser válidas e a sua vontade era a única de ser feita. Filho de Faing, um assassino cruel que morrera há muitos anos, Erskine tinha a quem puxar.

- Olha Dristan, eu vou tentar te titara dessa ok? Não se preocupe. Não vou deixar nenhuma outro guarda a cargo de você! - disse me dando um sorriso.

- Me sinto até mais tranquilo - disse virando os olhos - Quero que vá ver ela.

- Relaxa meu amigo, ele vai cuidar muito bem dela. - seu tom era sombrio e me dava arrepios.

- Não perguntei se ele vai cuidar bem dela ou não, eu disse pra você ir vê- la agora! - puxo minhas mãos presas por correntes.

- Essa sua paixonite por ela ainda vai te matar! Não vale a pena, não perca seu tempo. De qualquer maneira ela vai morrer logo, logo. - Erskine sai para fora da barraca antes que eu diga mais alguma coisa.

As vezes eu tinha medo dele, mesmo sendo meu amigo de longa data. Realizamos muitas missões durante esses anos. Como Rebeldes era nosso dever proteger o povoado e as pessoas que moravam ali. Era nosso dever proteger principalmente Catherine.

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- Impressionante! Seu pai deve ter sido um grande homem.

- Lembro-me muito pouco dele - baixei a cabeça e sorri em meios as lembranças que me vinham em mente.

- Sinto muito. - disse o homem.

- Obrigada! Essas lembranças, mesmo que poucas, são o suficiente para mim. Eu consigo senti-lo aqui - digo colocando minha mão sobre o coração e fechando os olhos.

- Você tem a sorte de ter boas lembranças de seu pai, Catherine. - ao dizer meu nome, abro os olhos em alerta. Eu não me lembrava de ter dito meu nome.

- Como sabe meu nome? - pergunto na defensiva.

- Você me disse. - franzo o cenho ao ouvi-lo.

- Não, eu não disse! - o medo na minha voz já era notável, eu não tentava disfarçar.

- Eu perguntei na hora em que a encontrei caída, porém você já estava fora de si. - ele podia estar dizendo a verdade, mas lembrei a mim mesma de ficar com um pé atrás.

- Certo...Ahn. Você sabe o meu nome, mas eu não sei o seu? - minha pergunta parece ter o pego de surpresa.

- Meu nome? Quer saber o meu nome? - seu sorriso é tão lindo que faz com que eu sorria também.

- Sim, isso é um p-problema? - ele maneia a cabeça em negativo e quando abre a boca pra dizer seu nome, um guarda aparece.

- Senhor, o prisioneiro está pronto para falar. Assim que quiser, eu o acompanharei! - percebi que o guarda me olhava furtivamente e não gostei disso.

O homem, cujo nome eu estava prestes a descobrir, se levanta e me faz um cumprimento formal:

- Senhorita perdoe-me, mas tenho que ir. Podemos continuar nossa conversa depois se assim desejar?

- Eu adoraria!

- Ótimo! Estarei aqui o mais rápido que puder para vê-la. Até mais. - minhas bochechas coram e me seguro para não dizer o quão ansiosa estou por sua visita.

Assim que o homem misterioso sai, o guarda se vira e me olha antes de acompanha-lo. Seus olhos cravam em mim, e eu a todo custo tento parecer calma. Ele dá um sorriso assustador me olhando de cima a baixo pela ultima vez, e então sai.

A sensação que eu tenho não é nada boa. Meu medo volta, e o temor de que algo ruim possa acontecer se torna cada vez maior.

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