• seis •

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Sabe qual é a sensação da morte?

Pra alguns, é pânico. Pra outros, é normal. Pra mim, é alívio.

Tem uma hora que se perde esperança de viver algo melhor, se desiste de tentar de novo. Se desiste de respirar. Eu nunca fui o tipo que desiste fácil e é por isso que eu estou me sentindo patética ao parar de tentar lutar contra Daniel. Tudo tem limite e meu limite é este. Aos poucos sinto o ar não passar pela garganta e é aqui que fecho meus olhos liberando algumas lágrimas quentes que saem molhando minhas bochechas. Daniel continua a apertar minha garganta além da falta de ar, sinto dor. Não temo pela minha vida porque não há nada de interessante aqui que me faça temer por perde-la. Não digo que sempre vivi momentos ruins, Daniel já foi muito bom pra mim. Ele era perfeito! Ele só... mudou. Muito.

Fecho os olhos.

Deixo a falta de ar me invadir por completo.

Tudo fica preto.

• • •

— Y aunque pensé que era feliz, todo iba bien. hasta que te vi... estás tan bella, ay ay ay... desordenaste mi cabeza — ouço uma voz baixa cantarolar.

Uma das coisas boas da faculdade são os cursos pra outras línguas, mesmo tonta sei que é ele e sei exatamente o que ele canta. Tento abrir os olhos mas é difícil. Além da minha garganta doer como se eu estivesse com a pior infecção do mundo.

— Você... canta... em... espanhol? — forço a voz pra sair. Ainda de olho fechado.

— Elly! ELLY! — ouço ele falar mais alto se agachando ao lado da cama.

Me esforço pra abrir o olho.

— Celular. — digo a ele.

Joel rapidamente pega meu celular e me entrega. Abro nas notas e começo a digitar.

"Dói quando falo. O que está fazendo aqui? Estou preocupada"

— Eu matei todo mundo e vim cuidar de você.

Eu rio mas logo paro porque tudo dói. Apago o que digitei e logo começo outra frase.

"É sério. Eu estou com medo. Porque você está aqui?"

— Eu... Bom, eu ouvi Daniel gritando "merda, merda" — ele diz fazendo aspas com as mãos — E decidi abrir a porta. Ele entrou em pânico e foi aí que vi você caída no chão. Empurrei Daniel pra trás e ele só sabia andar de um lado pra outro. Coloquei você na cama e vi que você estava respirando. Como já tive curso pra primeiros socorros sabia que iria ficar tudo bem... De qualquer forma acho importante você ir no médico porque sua garganta deve ter inflamado feio. Eu perdi minha cabeça... por você.

Joel se levanta, anda de um lado para outro com a mão na cabeça. Eu só consigo o observar. Eu observo esse homem que não tem defeitos.

— Daniel estava em pânico, falei que você iria ficar bem então pedi pra que ele saísse. De alguma forma muito estranha, ele aceitou. Complementou que seria melhor.

É incrível que ele não passou por aqui pra ver se eu estava bem. Ele quase me matou, passou de todos os limites e ainda assim age como se nada tivesse acontecido. Continuo olhando teto pensando como vou agir com Daniel depois de hoje. Alguém abre a porta, mas não suficiente pra eu veja quem é.

— Ela acordou. Não está conseguindo falar. — Joel diz e se levantando do chão.

A porta de abre. Daniel está chegando perto de mim. Daniel está do meu lado.

O medo me consome novamente.

Ele pega minha mão e a beija, começa a chorar e então tenta dizer algo que não entendo. Quando me olha estou franzindo o cenho.

BETRAYALS | JOEL PIMENTELOnde histórias criam vida. Descubra agora