2. A VONTADE QUE EU SINTO

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Quando abri meus olhos ainda podia sentir o aperto no peito. Que sonho foi aquele? Quem era aquela pessoa com quem havia sonhado? Senti algo incomodar em seus olhos. Eram lágrimas! Me levantei em um sobressalto, enxuguei minhas furtivas lágrimas, pousei minhas mãos sobre o peito dando pequenas batidas tentando trazer a calma com o gesto.

Sentei novamente na cama e refleti sobre o sonho.

Eu estava na varanda do meu apartamento, minhas plantas estavam murchas. Como se fosse um sopro, senti uma presença atrás de mim, ao olhar vi seu sorriso, você trazia o regador consigo.


"Vamos cuidar delas? Você não as ama? Se você as ama, eu vou ama-las também."


Aquela pessoa me olhava com amor, com tanto amor, que eu estava em estado de hipnose, me tornei incapaz de piscar, eu não queria perder um segundo sequer daquele momento, era isso, era aquele amor que eu buscava. E comecei a rir, a pessoa a minha frente me acompanhou, e caímos em uma risada gostosa, sem um motivo aparente.


- Você está feliz? - a pessoa me perguntou.


- Claro que estou. Eu estou com você. - Eu disse, e me espantei com as palavras, elas saíram de meus lábios, mas não faziam sentido. Eu não conhecia aquela pessoa.



Naquele momento minha busca por você começou, seu olhar ficou gravado em meu coração, e eu iria ansiar por ele todos os dias, cada vez mais a partir dali. Todo meu mundo cinza se transformava em uma galeria, aonde eu expunha seus olhares e sorrisos. E contava os minutos, para lá, expor nossos momentos juntos.


Estava finalmente terminando a última tela da exposição, que ficou quase um mês parada, pincelada por pincelada, dia após dia, eu me transformava, assim como aquela pintura, que era uma caricatura de uma pessoa sozinha, que depois de uma guinada criativa se tornou alguém apaixonado por uma borboleta.

Após a última pincelada, dei dois passos para trás e julguei os detalhes, fechei os olhos, limpei a mente e os abri novamente, para ver o resultado de mente aberta. E sim. Era como deveria ser, intenso, puro, despretensioso. A melhor tela da coleção sem dúvidas.

Liguei para o curador da galeria, que parecia muito animado com a notícia de que finalmente eu havia terminado o último quadro. Eu não era um Van Gogh ou algo parecido, mas ele me tratava como tal. Uma pessoa de personalidade alegre. Sua animação sempre me contagiava, eu por vezes desejava aquele ânimo. Mas eu não era daquele jeito, e tudo bem.

- Quanto sentimento você pôs nessa coleção! Eu adorei! Sempre gosto não é mesmo? - ele me olhou sorrindo, vi em seus olhos a emoção de ter visto algo de puro deleite, e me senti plenamente contente.

Eu sempre pintei por amor, e ver alguém amar minhas obras era algo extremamente satisfatório para mim. Sempre ando pela exposição observando a leitura de cada pessoa, considero suas dúvidas, suas interpretações, e tomo nota. É realmente interessante como uma única tela pode ser um pequeno céu, com infinitas constelações.

- Não chamou ninguém do grupo para vir? - tive um leve sobressalto com a chegada repentina de uma amiga.

- Não, eu devia ter chamado? Eles acham exposições entediantes...

- Bem, talvez seja melhor os encontrar no bar então.

- Como você está? - Perguntei mais pelo hábito, do que curiosidade.

- Arrependida. Por que mesmo eu me casei? - Apesar das palavras ela dizia tudo sorrindo. Devia ter um lado positivo no final das contas.

- Lembro de você dizer algo sobre ter dedicado muito tempo nesse relacionamento, e que estava na idade de casar.

Rimos, pois, foi exatamente o que ela havia dito. Ela deixou muito dela para trás ao se casar com alguém tão diferente. Quando o relacionamento dela e do atual marido começou eles eram adolescentes, com futuros fantasiosos, mas com o passar dos anos, com o descobrir da vida, eles se viram ligados por um laço feito apenas de memórias. E tinham esse conhecimento, mas eram acomodados demais a ideia de já terem aquela certeza, que hoje vivem como casados, com vidas diferentes. Juntos em um barco aonde cada um rema para um lado diferente.

- Nos amamos. Isso deveria bastar, não é mesmo? - Ela me questionou enquanto andava até a última tela - Uau! Você se superou nessa! Já foi comprada? Se não foi, é minha!

- Então ela é sua! - suspirei pensando em sua pergunta sobre o amor.

O amor nunca foi o suficiente para mim.



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Nit:
Temos então o segundo capítulo! Apesar de mais curto, ele deu mais trabalho do que o primeiro. Kkkk

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Escutem a música do início ao lerem...
Beijos.

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