Eu converso com a realeza.

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Eu fiquei com a imagem daquela velha senhora por toda a manhã em minha mente. Confesso que fiquei um pouco assustada. Mas eu tinha que afastar aqueles pensamentos.

– Se concentre, Merida. Se concentre no desfile. – disse à mim mesma.

Eu foquei meu olhar na Família Real, que estavam acenando para a multidão de Ludiana com um breve sorriso no rosto. Não pude deixar de notar a expressão de vergonha do príncipe.

– Ele é tão idiota! – disse minha irmã, que revirou os olhos.

– Fale mais alto para algum guarda escutar, sua tola! – repreendi

– O príncipe Thomas é um babaca! – ela gritou, mas ninguém ouviu com todo aquele barulho.

– Você não tem jeito. – dei uma breve risada.

– Nunca. – ela sorriu.

De tarde eu resolvi esfriar a minha cabeça. Fui para o meu lugar preferido em Ludiana: A praia de Santa Mônica. Era uma linda praia, perto de minha casa com ondas cristalinas onde se podia ver alguns peixes. Felizmente, quase sempre a praia ficava vazia. Quase sempre.

Eu avistei um homem, talvez um jovem. Ele tinha cabelos negros e de um belo corte. Sua pele era clara, sua feições me lembravam alguém. Foi quando eu percebi que na minha frente estava o príncipe.

Eu não queria incomodá-lo, ele parecia estar muito afundado em seus pensamentos. E eu também não queria ir falar com ele, na verdade eu queria ficar sozinha. Mas eu tinha que ir.

– Olá majestade. – disse fazendo uma reverência. – Feliz aniversário.

– Ah... sim... Oi. Obrigado. – disse ele com sua voz macia.

– Bom... se precisar de algo, eu estarei bem ali.

Eu não dei muitos passos até que ouço sua voz novamente.

– Não, espere! Fique, por favor.

– Mas... tudo bem. – disse me sentando ao seu lado.

– Como se chama? – disse ele olhando para as ondas.

– Hmm... Merida, majestade. Merida Watherfield.

– Por favor, não me chame de majestade. Eu te chamo de Merida, e você me chama de Thomas, tudo bem?

– Sim... tudo bem. – disse enquanto pegava um punhado de areia na palma de minha mão.

– Merida é um bonito nome. – Ele pronunciou meu nome como se nunca o escutasse na vida.

– Eu agradeço. – sorri.

–  Quantos anos você tem, Merida?

– 15 anos. – respondi.

– E eu 18, sabia? – ele riu de sua própria piada.

– Sim, claro. – dei uma breve risada, me soltando um pouco.

– É bom jogar conversa fora com alguém... é tão ruim não ter amigos. Tão, sem graça.

Eu senti pena de seu tom de voz. Será que para ter uma vida confortável você realmente deveria abrir mão de amigos de verdade?

– Olhe, não se preocupe. Você é o príncipe, você pode ter tudo o que quiser, inclusive amigos.

– Aí que está, Merida. Quando se tem status, as pessoas não te olham com olhos de verdade. Te olham com interesse. – ele suspirou.

– As ondas estão tão calmas hoje. – eu disse mudando de assunto.

– Sim. – ele sorriu – Eu adoro esse lugar. Tão tranquilo. É meu lugar preferido desde criança.

Lugar preferido desde criança? Eu sempre vinha aqui e nunca achei um príncipe no meio da areia.

– Você não se preocupa?

– Sobre o quê? – ele finalmente olhou para mim e eu pude ver cada detalhe de seu rosto. Inclusive seus olhos verdes.

– De eu te atacar ou sei lá o quê. Você não deveria estar com seus guardas? – perguntei, curiosa.

Ele sorriu e não respondeu nada por alguns segundos.

– Sabe, Merida. Eu gosto desse lugar pelo fato de não ter ninguém, e eu poder ficar tranquilo com meus pensamentos. Sem ninguém. Mas às vezes é bom poder dividir os pensamentos com alguém. Principalmente alguém que parece que não irá gritar ao me ver. Me diga, qual o motivo de você gostar desse lugar?

–  O mesmo que o seu. Quer dizer, não que eu seja alguém importante e que precise de guardas – sorri – mas é que o mar me deixa tranquila. Eu não entendo bem o motivo, mas só sei que o mar me acalma.

Ele sorriu e ficamos mais alguns minutos ali sentados olhando as ondas.

Voltei para casa por volta das seis horas. As ruas já estavam vazia, exceto por algumas crianças brincando de futebol. Cheguei em casa e avistei meu pai.

– Olá, papai. – sorri e lhe dei um abraço.

– Aonde esteve, Meri? – ele disse me dando um beijo na testa.

– Na praia.

Ao escutar, ele olhou para minha mãe com um olhar de medo e aviso. Um olhar estranho.

– Olhe, Meri. Você não deveria estar uma hora dessas na rua. É perigoso. Ainda mais na praia, aquela praia nunca tem ninguém.

Eu não iria contar que naquele dia havia alguém. Muito menos que era o príncipe.

– Ah, papai. Deixe de besteira. Eu estou muito bem.

– Merida, quantas vezes eu já lhe disse que não pode ir à praia sozinha?

Desde que eu comecei a frequentar a praia sem minha família, meu pai sempre dizia o mesmo sermão e eu nunca entendi o motivo.

– Tudo bem, papai. Como foi seu dia? disse mudando de assunto rapidamente.

– Cansativo... – disse ele suspirando e se sentando.

– O senhor precisa de algo?

– Não, Meri. Obrigado. Pode ir descansar. disse ele ligando a tv.

– Só não se esqueça de descer para jantar. – disse minha mãe da cozinha, finalmente se pronunciando.

Bom, eu vou contar um pouco sobre minha família. Minha mãe tem 35 anos. Ela é linda, loira como eu e tem belos olhos azuis. Ela teria uma bela carreira de modelo, mas conheceu o pai de Melissa e acabou engravidando da mesma. Meu pai conheceu minha mãe quando Melissa era pequena. Eles se casaram e eu nasci. Meu pai tem 38 anos e tem pele clara, ele tem cabelos pretos e olhos castanhos.

Tomei um banho, me deitei e comecei a pensar sobre o meu dia. Sobre a velha senhora e o príncipe Thomas. Mas o que eu não conseguia tirar da cabeça era: Por que aquela senhora me disse aquelas palavras?


A Filha de PoseidonOnde histórias criam vida. Descubra agora