Meu coração está por toda parte

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Poucas horas depois de conversar com Bohn eu já estava com febre alta novamente e sentia meu estômago dar voltas. Mas algo me diz que o enjoo não tem nada a ver com o fato de estar doente, já que acontece toda vez que me imagino chamando P' para sair.

As coisas estão tão estranhas que me sinto tentado a falar com aquele idiota novamente, mesmo sabendo que serei apenas alvo de suas gracinhas, de alguma forma ele me ajudou e sendo namorado de Duen é o único que tem alguma ideia do que estou passando. Mas eu não me odeio a esse ponto.

Um pensamento idiota passa pela minha cabeça. Se no futuro eu me casasse com P' e Bohn com Duen, isso nos faria parentes? Primos talvez. Seria engraçado, nós que não nos damos bem desde que nos conhecemos, acabamos na mesma família.

Eu nem sequer consigo falar com P' e já estou imaginando um casamento. Mais ridículo que isso impossível, eu sou patético.

TOC TOC!

"Pode entrar".

Mamãe aparece na porta com um enorme sorriso em seu rosto. "Você tem visita".

Ela se move para o canto da porta e P'Thara aparece.

Eu pensei que ficaria nervoso, que meu coração aceleraria, minhas mãos começariam a tremer e coisas do tipo. Mas sinceramente eu não sinto absolutamente nada, não estou com medo, não estou nervoso. Eu nem mesmo sinto meu corpo, minhas mãos, braços, pernas, nada. É como se estivesse anestesiado, não, não! É como se meu minha alma tivesse deixado o corpo e estivesse no canto do quarto observando enquanto P' sorri e vai em direção daquela pessoa que já fui eu. [NA: Acho que o Frong morreu, é isso].

"Nong me desculpe por não ter vindo antes. Eu precisei recuperar umas aulas, mas a sua mãe me deixou a par da sua condição. Você bebeu todo leite que N'Duen trouxe?" [NA: Não consigo ler a palavra "leite" sem pensar putaria, mesmo que eu quem tenha criado essa cena].

Ser trazido de volta por sua voz foi um processo apavorante. Eu podia sentir cada nervo enrijecido do meu corpo latejando, o sangue percorrendo os vasos com o dobro da velocidade e disparando pra dentro do meu coração até os ouvidos, cada batida era como um tambor ecoando do centro do meu corpo até as extremidades. Não sei quanto tempo se passou até eu conseguir tomar ar e respondê-lo, mas pela estranheza na expressão dele e de mamãe, foi o suficiente para assustá-los.

"Não, não tem problema, eu, eu estou bem". Respondo ainda tentando me ajustar à realidade.

"Como bem? Ele mal comeu durante todos esses dias. Ontem engoliu algumas bolachas e tomou apenas meio copo de leite que seus amigos trouxeram. Desde então não comeu nada". Mamãe se intrometeu e rapidamente me dedurou.

"Mamãe!".

"Ele é um péssimo paciente". P' meneou a cabeça enquanto sorria.

"Por favor doutor, coloque juízo na cabeça desse menino".

"Hoje eu não vim como doutor, mas como amigo". P' me presenteou com um olhar cheio de cumplicidade, então piscou e voltou-se para mamãe. "No entanto como eu também preciso comer, trouxe um lanche para nós". P' andou em direção a minha mesa de estudos enquanto pegava a mochila das costas e dela retirou uma bolsa térmica.

"Oh!". Mamãe parecia tão impressionada, o que me ajudou a monitorar minha própria expressão e fechar a boca que estava ligeiramente aberta.

"Se me dão licença, vou a cozinha servir".

"Eu posso fazer isso para vocês". Mamãe interveio.

"Não, a tia deve descansar, eu já volto". E assim ele foi, numa atitude não muito tailandesa, mexer na cozinha de mamãe e servir a comida que ele mesmo trouxe.

TharaFrong - Uma História de My EngineerOnde histórias criam vida. Descubra agora