"Mamãe...".
"Está geladinha, olha". Mamãe diz isso segurando um garfo com um pedaço da fruta na ponta.
"Já é o suficiente".
"Melancia é basicamente água docinha".
"Mas eu não gosto".
"Faz bem para saúde". Ela aponta o garfo em minha direção, sua expressão é tranquila, mas seus movimentos com o garfo são ameaçadores. Me afasto até minhas costas tocarem o encosto da cadeira.
"Eu já estou totalmente recuperado".
"Mas pode ter uma recaída".
"Se isso acontecer eu prometo que aceito comer".
"Você estava tão obediente comendo todo tipo de refeição que eu preparava".
"Mamãe você está desejando que eu fique doente novamente só pra comer frutas?".
"Não, eu não". Ela não me convence.
"Então você já pode levar isso embora".
"Tudo bem, mamãe não vai mais insistir". Ela devolve o garfo à mesa com uma expressão triste.
Cheguei em casa bem depois da hora do almoço, mas mamãe ainda me esperava. Em parte porque ela não gosta de comer sozinha — mesmo que Fang esteja em casa, quando ela se enfia naquele quarto que transformou num laboratório de fotografias, é como se nem existisse — mas também pra continuar tentando me obrigar a comer o que ela quisesse, hábito que "alimentei" no esforço de me recuperar. Agora aparentemente ela decidiu usar o truque da tristeza pra me sensibilizar.
"Mamãe não vai me convencer com essa cara".
"Quando doutor Thara vem nos visitar? Quero pedir a ele pra te convencer a comer direito".
A menção de P'Thara faz meu coração ter um pequeno sobressalto, mas a felicidade de saber que em breve o verei é logo suplantada pelas lembranças do que está acontecendo entre Bohn e Duen. Principalmente Duen..
"Aconteceu alguma coisa com doutor Thara?". Minha mudança de humor foi notada por mamãe.
Não havia nada e nem ninguém nesse mundo capaz de fazer com que eu questionasse minha orientação sexual, a considerasse algo passageiro ou errado. Eu tinha plena consciência de quem sou e nenhuma vergonha disso. Mas o medo de ser olhado com nojo pela minha mãe fez meu estômago embrulhar e eu senti uma urgência enorme de me livrar dessa sensação.
"P'Thara? Hum.. não".
"Filho, está tudo bem".
"Hã?".
"Isso que você quer me contar, pode falar". Mamãe mantinha um sorriso suave em seu rosto.
Mas esse sorriso não foi capaz de acalmar as batidas do meu coração que chegavam a doer de tão fortes, quando as palavras finalmente saíram.
"Mamãe, eu sou gay".
"Então o doutor Thara é seu namorado?".
"Não, não é".
"Ele tem um coração maravilhoso". Ela comenta despreocupadamente.
"Mamãe...".
"Quando seu pai se foi, cada um de vocês reagiu de uma forma bem diferente. Seu irmão já era bastante responsável, mas ele tomou toda responsabilidade dos negócios e da casa pra si, mesmo que ná época ainda estivesse na faculdade. First será um marido maravilhoso, não acha?". Ela olhava para o nada, mas o sorriso em seu rosto se tornou triste.
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TharaFrong - Uma História de My Engineer
FanfictionO gosto amargo da rejeição mal havia abandonado os lábios de Frong e ele já o sentia novamente. Mas dessa vez numa intensidade tão grande que era como se estivesse doente.