Eu sou você, e você sou eu

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Poliana estava deitada sobre o chão tentando se manter estável. Sua respiração era pesada e ela sentia muita dificuldade em respirar; seu corpo continuava a queimar, seu braço direito em específico era o que mais queimava; sua cabeça latejava e ela mal podia se pôr em pé. Tudo a sua volta girava e cada vez mais ela tinha certeza de que vomitaria. Manteve seus olhos fechados durante todo o tempo em que esteve deitada sobre o chão, pois cada vez que os abria, podia senti-los queimarem.
Quando ela já tinha certeza que desmaiaria ali mesmo, tudo que ela podia sentir antes já não podia sentir agora. Não tinha mais dor de cabeça, seu corpo não queimava, podia abrir seus olhos e não se sentia mais enjoada.
Se levantou com todo o cuidado que podia, ainda tinha a sensação de que poderia cair com qualquer movimento brusco que fizesse.
-O que foi isso? Eu pensei que nunca voltaria a sentir isso...
Se sentia diferente, algo nela estava fora do comum e ela não sabia dizer o que era exatamente. De todas as suas personalidades diferentes, nenhuma a fez sentir o que estava sentindo agora. E o mais estranho era que se sentia diferente de um modo bom, de um modo totalmente diferente do que algum dia já fora.
-O que acabou de acontecer comigo...?
Ao fazer essa pergunta a si mesma, a garota correu para o banheiro na esperança de que a resposta estivesse lá, bem na frente do espelho. E ela realmente estava. Seu cabelo não estava totalmente vermelho como o de Chama, mas havia ganhado leve mechas vermelhas. Seus olhos não eram mais como os de Luna ou Chama, agora ela carregava um olho de cada uma, um castanho e outro vermelho. Seus pulsos e tornozelos carregavam cicatrizes escuras, no mesmo lugar em que a escura camada começou a surgir. E o mais importante, sua marca estava de volta, mas não estava sozinha, logo acima dela havia uma meia lua e essa indicava tanto seu nome como Lua, quanto a segunda personalidade que já teve, Noturna.
-Eu acho que sempre vou carregar cada uma comigo, mesmo que seja dessa forma. Sempre serei obscura e ágil como a Luna.
O vermelho de seus cabelos desapareceu, seus dois olhos ficaram castanhos e a meia lua também se foi.
-Sempre serei simples e sarcástica como a Noturna.
Suas duas íris ficaram com as bordas vermelhas, a marca de escorpião se foi, e a lua reapareceu sobre seu braço
-E sempre serei vingativa e poderosa como a Chama
Qualquer marca em seu braço direito se foi, seu cabelo ficou vermelho por inteiro e seus olhos ficaram da mesma cor.
-E eu posso tentar qualquer uma dessas identidades, mas eu nunca vou conseguir tirar essas cicatrizes de meu corpo. - Poliana sorri. -Pois as três versões de mim carregam fortes dores, e essas sempre estarão marcadas em meu corpo por essas cicatrizes.
Essa sua nova versão não lhe fazia sentir mal, mas sim parecia que aquela era o seu lado mais verdadeiro do qual ela nunca soube que existia. Mesmo com suas raízes danificadas, aquela ainda era ela, e no momento, aquele eu tinha que salvar algumas pessoas.
-Eu ainda mato os Escorpiões Negros por não terem chamado a polícia! - Poliana ri. -Acho que nessa luta a minha melhor decisão é ir como Luna.
Seus olhos voltaram a ficar castanhos e sua marca de escorpião voltou a aparecer.
-Eu definitivamente preciso buscar ajuda. Essa luta eu não venço sozinha!
Poliana correu para por seu uniforme como Luna, por um instante achou que choraria só por estar vestida daquele jeito. Colocou sua máscara, gorro e luvas. Colocou as duas espadas em suas costas e duas armas totalmente carregadas na cintura. Aquela era Luna, a que carregava duas espadas em suas costas, uma marca de escorpião no braço direito, um colar de lua em seu pescoço e uma aliança no dedo. Só faltava uma única coisa...
-Eu só espero que isso não dê errado...
Poliana saiu correndo da base e pulou sobre sua moto. Agora era o momento da verdade, ela teria que desacelerar o tempo para chamar reforço e depois ir até a base dos Mascarados. Se concentrou bem, até que por fim, pode sentir a familiar dor de cabeça. Aquela sim era Luna. De acordo com seus antigos cálculos, demoraria cerca de cinco minutos para chegar até o lugar onde imaginava achar uma parceira para reforço.
O lugar do qual ela pretendia chegar era até a escola. Raquel não estava mais com os Escorpiões Negros e provavelmente havia ficado no colégio. Se ela não estava mais, teria que ir sozinha, não poderia se aproximar da casa de Raquel vestida como Luna.
Dito e feito, em tempo real Poliana demorou cerca de cinco minutos para chegar à escola. Ainda haviam muitas pessoas sendo levadas pela ambulância, e isso preocupou um pouco a garota. Deixou sua moto escondida em um lugar pouco visível, tirou sua máscara, gorro, armas e espadas para deixar tudo escondido junto a moto.
Correu até o lugar onde as ambulâncias se concentravam e começou a procurar por qualquer sinal de Raquel. Andou um tempo pelas ambulâncias e já estava por se convencer de que teria que ir ao ataque sozinha.
-Eu acho que terei que fazer isso sozinha...
-Qual o seu problema, Poliana?!
Poliana sentiu que mais de uma pessoa se aproximavam dela. No segundo seguinte pode sentir alguém a empurrar por trás. Como extinto, desacelerou o tempo e segurou nos pulsos de quem a empurrou, era Paola. Logo atrás dela estavam todos os Diabos do Sul e todas as Rosas de Fogo, com exceção de uma pessoa, Ester.
-Veio aqui para esfregar a traição na nossa cara?! - Luca se aproximou da garota. -É claro que sim, sempre egocêntrica, não é?
-Como mudou de visual tão rápido?! - questiona Malu
-Olha, eu não faço ideia do que vocês estão falando. Que traição?! - questiona Poliana. -E o visual não tem nada demais.
-Ela ainda pergunta que traição. - Jerry ironiza. -Vai dizer que não foi você que fez isso em mim?
O braço de Jerry estava completamente roxo e inchado, e ao olhar bem para ele, parecia ter total certeza do que estava dizendo.
-É claro que não! Eu nem estava aqui! - Poliana exclama soltando os pulsos de Paola.
-Poliana, onde você estava? - Paola engole em seco
-Na base dos escorpiões. - diz Poliana. -Eu nem deveria dizer isso a vocês. Mas eu estou indo ajudá-los agora. Me deem licença!
-Poliana, espera!! - chama Letícia. -A Ester, ela disse que vocês duas mudaram de lado e agora estavam os Escorpiões Negros. Ela nos disse que você havia a convencido disso, ela nos traiu e disse que foi por sua causa. Logo depois que ela saiu você apareceu, estava com o seu cabelo vermelho e olhos de mesma cor. Você riu da nossa cara,e derrubou o Jerry sem motivo alguns, e com isso foi embora junto da Ester para deter os Mascarados.
-Nos sentimos traídos, e foi exatamente isso que aconteceu. - diz Mavi. -Não fomos atrás deles para tentar atrapalhar. No final de tudo, a Ester sempre voltará correndo para nós.
-Gente, eu acho que vocês viram coisas ou algo do tipo. - diz Poliana. -Eu não estive aqui, não convenci a Ester a mudar de time e muito menos vim aqui para rir de vocês. Eu ia sumir, minha decisão de ir até a base foi repentina. E foi lá que eu vi a armadilha que os E.N estavam prestes a cair. Alguém estranho realmente os seguia, mas era apenas uma pessoa. Não tem como eu estar em dois lugares ao mesmo tempo e sendo alguém que a personalidade já deixou de existir a uma hora atrás. Eu só vim buscar reforços, no caso da Raquel.
-Em que tipo de armadilha eles se meteram? - pergunta Gabriela
-Eu acho que vocês não precisam saber. Eu nem sei o porquê de ter falado aquilo para vocês. - Poliana se desespera levemente. -Vocês são meus inimigos, e eu nem sei por que continuo aqui. Adeus!!
-Poliana, nós queremos ajudar!! - exclamam Carla, Jarry e Luca
-Por algum acaso... - Poliana se vira lentamente -...está escrito "idiota" na minha testa? Eu não caiu no joguinho de vocês!
-Poliana é sério! Estamos aqui como pessoas que não aguentam mais as mentiras da Ester. Como pessoas que não ligam mais para as ordens que a Ester dá. Entramos nisso por status e queremos sair como se nunca tivéssemos entrado. - diz Paola. -Um dos nossos piores erros foi de seguir esse caminho. Se pudermos pelo menos sair disso de uma forma que ajude as pessoas que seguem o bem. Não como vilões que permitiram a derrota dos E.N.
-Podem estar falando isso agora e me traindo mais tarde. - diz Poliana. -Como eu posso ter certeza disso?
-Poliana, acredita neles. Por favor. - Hugo se aproximou. -Eu causei o incêndio na escola e tenho vergonha de admitir isso. Fui manipulado pela Ester e eu definitivamente não queria fazer isso. Por favor, acredite em nós. Quase morremos hoje, fomos traídos duas vezes em um único dia. Acredite neles como já confiou em mim, não caminhe até a morte como eles caminharam.
Poliana olhou em nos olhos de cada um que estavam a sua frente. Nenhum deles aparentava estar mentindo. Podia sentir o desespero vindo de seus olhos junto de um forte medo. Sabia que se fosse sozinha acabaria perdendo, e talvez até com Raquel tinha alto risco de perderem. No momento, se eles realmente falavam a verdade, seriam de grande ajuda. Aquela era a Poliana, alguém que podia observar a verdade através dos mais sinceros olhos por perdão.
-Só estou com a minha moto. Tem algum veículo para irem? - pergunta Poliana. -E por algum acaso viram a Raquel?
-Temos o meu carro e o da Carla. - diz Jerry. -E a Raquel está do outro lado do colégio. Está falando com a irmã e seus amigos enquanto espera o pai chegar.
-Eu a chamo para vocês. - fala Hugo. -Eu sou péssimo de combate, ficarei por aqui. Agora vão logo terminar isso!!
Todos os presentes assentiram e correram até seus respectivos veículos. Carla, Gabriela, Paola, Mavi e Malu foram em um, enquanto Letícia, Bento, Jerry e Luca foram em outro. Poliana correu até sua moto e colocou tudo o que tirou novamente em seu corpo. Não havia entendido o que eles haviam falado sobre a terem visto indo junto de Ester, aquilo com toda certeza era muito estranho. Poliana notou a extrema confusão que eles pareciam ter ao ouvirem na falar que estivera na base e não com Ester.
-Poliana? O que aconteceu? - Raquel se aproxima da garota. -Hugo veio correndo até mim dizendo que você estava me esperando e precisava de ajuda. Ele ficou lá com a minha irmã.
-Raquel, os escorpiões caíram em uma armadilha! Os Mascarados montaram uma armadilha para eles, alguém estava os seguindo e eles foram para ataque com armas carregadas com apenas uma bala. - ela explica. -Precisamos ir ajudá-los!
-E nós vamos! Tem alguma arma para mim?
-Tenho. - Poliana entrega a arma a Raquel. -Não tenho uma máscara restando, terá que ir assim.
-Não tem problema. - Raquel diz. -Como vamos fazer isso?
-Me empresta seu celular.
Raquel tira seu celular de seu bolso e o entrega a Poliana que logo disca o número da polícia.

Policial: Alô 190.
Poliana: O lance é o seguinte. Aqui quem fala é a líder escorpiã e sabemos onde os Mascarados estão. Rua *************, o único galpão à vista, mais conhecida como meio do nada ao Norte. Temos cerca de onze reféns lá, então se puderem agilizar eu agradeço. Te vejo lá!

A Marca Negra - PoliericOnde histórias criam vida. Descubra agora