Cap.01: Ardência

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Inglaterra, 1820

Aquela sensação era pior do que tudo o que já tinha sido capaz de experimentar, pior do que os segredos e as mentiras.

A ardência sufocava e intoxicava minha alma, me fazendo perder o controle.

Era como se estivesse perdendo minha própria alma para aquela sensação desagradavel da ardência.

Corria sem parar, incapaz de me deter, a escuridão da noite estrelada estava me envolvendo e tudo o que podia fazer era continuar correndo, sem saber até onde conseguiria ir.

A maldita ardência em meu corpo era tão intensa que preferiria uma picada de cobra, pelo menos com isso eu sabia lidar, e seria mais fácil de suportar.

Ardência. Ardência e queimação.

Fogo, e a chuva gelada.

E, mesmo assim, eu tenho que continuar correndo. Não posso parar. Eu tenho que continuar.

Na minha tentativa desesperada de fugir, percebo que minha garganta está seca e o cansaço começa a se aproximar, junto com uma dor insuportável. Mas, não posso parar, não posso deixar que a ardência me vença.

Eu tenho que fugir.

Preciso fugir. Fugir. Não posso morrer.

Tenho que sobreviver.

Ardência. Preciso me livrar dessa ardência.

Mesmo com a mente gritando por socorro, sabia que não havia como escapar, minhas chances eram quase que mínimas. O som dos galhos quebrando e a respiração ofegante de meu perseguidor ecoavam pela floresta, como se soubesse que eu não teria nenhuma chance de escapar.

As lágrimas embaçam a minha visão, olho por cima do ombro no momento exato que escuto o som de um trovão cortando os céus, meus pés batem em algo grosso e escuro na minha frente, tropeço em um tronco me encontrando no chão, meu joelho machucado acaba batendo em algo duro. E sinto a dor.

A minha dor só aumenta, e me engasgo com um soluço reprimido. O sangue mancha o tecido que gruda no meu joelho, sinto o suor descendo pelas minhas costas, e fecho meus olhos fortes.

Arde tanto que desejo a morte.

Só que a morte também parece estar fugindo da mesma forma que fujo do meu perseguidor.

Abro meus olhos, mordo meus lábios reprimindo outro soluço, preciso ser mais forte. Não posso morrer sem antes tentar fugir a todo custo.

Com dificuldade, levantei e me apoiei na árvore mais próxima, ouvindo o barulho de galhos quebrando e a respiração ofegante do meu assassino cada vez mais próximo.

Eu estava perdida.

Isso é o suficiente para me esforçar a correr novamente, apesar da dor latejante do meu corpo, infelizmente, não tão rápido quanto antes, mas rápido o suficiente para escapar, ou melhor tentar.

Talvez, eu não consiga sair dessa. Argh, que droga de joelho estúpido.

Eu quero que isso acabe, preciso que isso acabe...

Agora, minha mente grita por socorro.

Mas, de nada adianta, não tem como fugir, nem sei do que eu estou fugindo. Consigo escutar os seus movimentos, as copas das árvores estão sendo balançadas violentamente, e não parece ser apenas por conta do vento.

Tenho que pensar em algo o mais rápido possível, mas infelizmente o cansaço começa a me vencer, me encostei novamente em outra árvore, buscando recuperar o fôlego e analisar minha maldita situação com clareza, se isso fosse possível...

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