Black Swan • Jikook

Você gosta de jogos, Jeon Jungkook?

Pela primeira vez em vários dias eu havia finalmente descansado. Não lembrava muito bem da madrugada anterior, porque apaguei depois de tomar algum remédio muito amargo que Jungkook colocou na minha língua. Acredito que um dos efeitos dele tenha sido me fazer ficar com a memória um pouco oscilante, e é claro que o controlado que eu tomei inconsequentemente também contribuiu para isto. Jungkook era um dos alvos e missões mais complexos de cumprir, porque precisava conviver com ele durante um tempo e já havia percebido a sua tendência de cuidar do grupo, cumprindo o papel de líder.

Ele não tinha obrigação alguma de me ajudar durante a madrugada, mas ainda assim o fez, e é claro que eu estava repleto de gratidão. Eu também não sou um monstro, e a experiência de visitar a casa dos meus avós, descobrir que o meu avô faleceu um dia antes da minha ida e conversar com a governanta me deixaram um pouco sensível. Ainda sentia como se fosse chorsr a qualquer momento. Bom, a parte boa é que naquele momento eu estava finalmente descansado, graças à atenção que Jeon Jungkook teve comigo.

Pensar nisso me fez repensar em como e por quê alguém, que conviveu durante anos ao seu lado, poderia o querer morto. Depois de depositar tamanha confiança, receber devoção, parceria e irmandade, como e por quê Kim Namjoon quer Jungkook morto? Eu precisava forçar a barra com Kim Seokjin para descobrir o motivo, e faria isto o mais rápido possível. Eu estava curioso, e se Jungkook estivesse envolvido em algum podre imperdoável, seria mais fácil matá-lo. Sim, isto ficaria complicado em algum momento, e eu não poderia dar para trás, ou a minha cabeça que seria cortada.

Ao contrário do que eu gostaria, não acordei com o silêncio do meu quarto. Eu estava na sala e a luz do Sol incomodava os meus olhos com tamanha claridade, já que a casa não tinha cortinas. O silêncio, que eu mencionei antes, tinha dado lugar às vozes do pessoal da casa, que, curiosamente, falava sobre mim. Permaneci quieto e com os olhos fechados, mantendo os ouvidos atentos para a conversa.

— Ontem, depois da missão, ele me avisou que ficaria fora por um tempo, enquanto eu descansava. Quando nos encontramos, ele já estava meio estranho, mas não quis dizer o que foi. — A voz de Agust é calma e meio rouca, um pouco entediado, mas havia preocupação.

— Jungkook comentou que ele tem problemas para dormir. Toma remédios. — Taehyung comentou e eu só consegui pensar em como eles são fofoqueiros.

— Sabia que ele seria um estorvo em algum momento. Não sei que ideia de merda foi essa que o Namjoon teve de contratar alguém da gangue rival. — Sunmi estava estressada, e não falava num tom de voz baixo, fazendo com que alguém a repreendesse. Sinceramente, não consegui entender o conceito de falar de alguém estando perto desse alguém.

— Ele é muito bom no que faz, um dos melhores. A decisão de Namjoon foi sábia, e eu aprovo. — Jungkook estava calmo, com a voz rouca, tanto que precisou clarear a garganta para continuar: — Vou tentar me aproximar um pouco mais e entender o que está acontecendo. Seja lá o que for, não pode interferir no resultado das missões.

— Acho difícil ele se abrir com alguém daqui. Eu demorei três anos, e mesmo assim nem falo tanto. — Lalisa disse. — O Agust é a mesma coisa.

Comecei a me sentir incomodado com aquela situação. Eles não estavam sequer se esforçando para falar baixo ou não atrair algum tipo de ouvinte extra para a conversa. Era mais do que óbvio que eu não me abriria com ninguém dali, o meu papel não era este. Eu estava na casa dos Dogsuli para concluir um serviço: matar o líder. Não estava ali para fazer amizades ou conquistar a simpatia de alguém, muito menos para falar sobre a minha vida.

Respirei fundo, sem fazer nenhum barulho, e me levantei do sofá, atraindo o olhar arregalado de Taehyung. Todos estavam sentados à mesa, usando roupas arrumadas, como se estivessem prestes a sair para algum lugar. Assim que Taehyung me viu, todos perceberam o seu olhar suspeito e um pouco culpado, e então me encararam, criando um clima desconfortável entre si mesmos. Eu estava pouco me lixando.