Obstinada

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- P.O.V. Five -
A segui até uma pequena casa de cor azul no fim da rua; ela entrou e então perdi totalmente a visão que tinha dela. Andei até os fundos da casa e vi uma criança correndo no quintal, ela me parecia familiar.
- Agnes! Querida, seu lanche está pronto. - alguém gritou de dentro da casa, e a menina correu até lá.
- Mas que merda… É a Agnes da loja de donuts? - questiono a mim mesmo, indo até a porta onde tinham acabado de entrar.
Parecia com uma casa comum; dois andares não muito grande. Olhei para dentro da porta aberta e conseguia ver 'Anna' ali junto a uma outra mulher, conversavam e riam sobre alguma coisa que era impossível ouvir de onde eu estava.
Se eu entrasse certamente iriam me ver e estragaria todo o plano que já tinha criado, então me teletransportei para dentro do corredor no andar de cima, e passei a procurar pelo quarto que poderia ser dela. Era impossível ter certeza de qual deles era já que não a conhecia e todos eram praticamente iguais, mas fui pela minha intuição e entrei em um que tinha paredes amareladas e uma cama com lençóis da cor violeta.
Me sentei em uma poltrona perto da janela e aguardei, enquanto analisava os detalhes do pequeno cômodo; não era muito grande mas parecia bastante aconchegante, e pelos vários livros em sua estante posso supor que passava muito tempo aqui lendo; se eu fosse ela faria isso, já que a poltrona é extremamente confortável e não me incomodaria em passar horas sentado aqui lendo um bom livro.
Ouvi a porta ranger atrás de mim e seu grito assustado ao me ver ali.
- Quem é você? E por que está no meu quarto? - andava para trás de vagar. Respirei fundo e assim que ela se virou para correr, me teletransportei para a frente dela a segurando pelos braços. Sua feição foi de assustada para apavorada em uma fração de segundos.
Eu precisava de algum lugar para levá-la e colocar meu plano em prática, e o único lugar que eu conhecia no momento era a casa de Ellioti.
Me teletransportar com uma outra pessoa junto comigo era algo que eu ainda não tinha aperfeiçoado completamente, mas deu certo com ela e chegamos no apartamento sem sequelas e com todos os membros intactos.
Ela tentava se soltar de qualquer modo, e se sacudia para todos os lados; já estava perdendo a paciência quando finalmente a soltei no sofá. Ela me encarou com raiva e se levantou apressada, tentando ir até a saída. Que garota teimosa! Eu só tinha a sequestrado e a trazido para um lugar totalmente desconhecido sem seu consentimento, que mal tinha nisso?
Peguei uma corda e amarrei seus braços e pés e coloquei uma fita em sua boca. Precisava pensar por onde começaria, meus pensamentos voavam para longe e eu tinha que organizá-los rapidamente antes que se perdessem por aí.
Me afastei dela e comecei a andar de um lado para o outro com as mãos na cabeça.
Ellioti apareceu segurando um prato e quase o deixou cair quando viu a garota amarrada em seu sofá.
- Quem é ela? - perguntou.
- É o que eu pretendo descobrir. - me aproximo de Ellioti e ponho as mãos em seus ombros. - Tem algum lugar que eu possa deixá-la sem que ninguém a veja?
- Ahn… T-tem um quartinho que eu modifiquei para revelar filmes, ninguém vai lá. - apontou para o corredor.
- Certo. - peguei ela pelo braço e fomos até a tal sala, a coloquei lá dentro e saí trancando a porta. - Ninguém deve entrar aqui, está ouvindo? - balançou a cabeça concordando.
Eu precisava falar com os outros, então saí atrás de Luther.
~~~☆~~~
- P.O.V. Anna -
O ar dos meus pulmões estavam se esvaindo aos poucos e eu não sabia o que poderia fazer para sair de dentro daquela sala claustrofóbica. Precisava sair e encontrar Diana, ela deve estar preocupada a uma hora dessas.
Já fazia mais de uma hora que eu estava trancada ali tentando me soltar, a fita na minha boca já estava desgrudando e eu me vangloriava por ter conseguido ao menos isso.
Comecei a assoprar a fita e depois de um tempo finalmente me via livre daquela maldita coisa grudenta. Ouvi a porta ser destrancada e aquele homem estranho apareceu, me encarando com curiosidade.
- Por favor, me ajuda! - disse olhando em seus olhos.
- Vim apenas buscar algumas fitas, já estou de saída. Fique a vontade, se quiser posso lhe trazer um lanche. - espera, o que? Saiu novamente e me trancou ali. Que droga!
Tentava manter a calma enquanto sentia meu corpo cada vez mais quente, isso acontecia sempre que me sentia ameaçada ou em perigo. Não tinha a menor ideia do que aquele garoto com roupa esquisita queria comigo e nem o porquê de eu estar trancada aqui com aquele maluco lá fora.
Sentia minhas mãos pegarem fogo e as cordas estavam tão apertadas que era possível dizer que cortavam minha pele.
De repente senti minhas mãos completamente livres, olhei curiosa para trás e vi que as cordas estavam totalmente desintregradas, como se tivessem jogado algum ácido sobre ela; tinham virado apenas pó. Me concentrei em desamarrar meus pés e logo estava livre, só faltava arrumar uma forma de sair daquele quarto. Olhei para todos os lados e tinha apenas uma grade que possivelmente era a tubulação; era a minha única opção naquela hora, além da porta que estava trancada, mas não correria o risco de ir pelo caminho mais fácil. Subi na bancada e retirei as grades com facilidade, me apoiando nas pontas dos pés e me enfiando naquele buraco.
Minha claustrofobia ficou ainda mais intensa quando eu já tinha me arrastado por uns dois metros de onde estava, e não tinha a menor ideia de onde iria parar.
Depois de já ter perdido as esperanças e aceitado que passaria o resto da minha vida naquela droga de tubulação, vi finalmente a luz no fim do túnel. Minhas esperanças retornaram a tona e eu tentava ir o mais rápido possível. Tirei as grades e coloquei a cabeça para fora, respirando o ar livre. Vi que estava naquele mesmo beco de alguns anos atrás, e estava exatamente da mesma forma.
Eu poderia me jogar e cair no chão, possivelmente quebrar algum osso ou apenas deslocar devido a altura; ou voltar para aquela sala e aguardar a boa vontade de alguém ir me soltar. Creio que minhas opções não eram das mais variadas, mas se eu passasse um segundo a mais naquela sala sinto que poderia entrar num colapso nervoso.
- Ok, você consegue! - sussurro para mim mesma, tentando pensar em outras coisas que não sejam algum membro do meu corpo sendo deslocado.
Desliguei minha mente e apenas me joguei, caindo de qualquer jeito e sentindo uma dor enorme na perna esquerda. Merda!
Me levantei apoiada nas paredes e comecei a andar para fora, mancando devido a dor terrível que sentia.
Mas agora, para onde eu iria? Eu não podia voltar para casa pois ele poderia me encontrar lá novamente e é extremamente óbvio; o restaurante é o segundo lugar mais óbvio, ele já me viu trabalhando lá. Pense, Anna, pense!
Eu não conhecia mais ninguém na cidade e ficar na rua seria burrice, eu precisava de algum lugar para me esconder; de um garoto que tinha no máximo a minha idade.
Meu coração batia tão rápido que sentia que poderia ter um ataque cardíaco a qualquer momento; parei de correr por um segundo e me sentei um dos bancos que tinham nas calçadas. Fechei os olhos e respirei fundo, precisava me acalmar e reciocinar um plano de fuga.
Me lembro de ter visto um alojamento por aqui perto, e se não fosse muito caro daria para pagar pelo menos uma noite com os poucos dólares que tinha guardado no meu bolso. Agora me restava lembrar onde era o estabelecimento e como chegar até lá.
- Pensamentos positivos Anna, somente pensamentos positivos. - sussurrava para mim mesma enquanto me levantava e seguia meu caminho, dobrando a esquina.
Diana havia me ajudado a controlar a minha ansiedade quando uma crise atacava, e era isso que ela sempre repetia para mim, "pensamentos positivos!". De certa forma aquilo me ajudava, mas o esforço mental para acreditar no que minha boca dizia e realmente praticar aquilo, era enorme.
As ruas estavam pouco movimentadas devido ao horário, algumas lojas já fechavam as portas e eu esperava que quando finalmente achasse meu destino ele estivesse aberto, ou eu estaria completamente desalentada.
Dobrei outra esquina e notei que havia um carro me seguindo furtivamente. Tentei ignorá-lo, mas estava começando a me incomodar e minha paciência não estava das melhores no momento.
Finalmente vi a placa onde dizia ser o alojamento, e sem esperar mais nenhum minuto entrei, parando na recepção onde uma senhora já idosa estava sentada.
- Como posso ajudá-la? - sorria de forma doce.
- Eu quero um quarto, para apenas uma noite. - respondo e olho para trás instantaneamente, vendo aquele mesmo carro parado do outro lado da rua.
- Certo, ficam doze dólares, quer incluir o café da manhã?
- Não, não precisa, obrigada. - entreguei o dinheiro e peguei a chave, subindo para o quarto. Não era uma suíte cinco estrelas, mas também não chegava a ser uma espelunca, estava perfeito para alguém que iria passar apenas uma noite.
Me amaldiçoei diversas vezes por não ter tirado aquela droga de uniforme de garçonete, teria que passar a noite com isso e nem ao menos tinha uma coberta decente por ali.
Retirei meus sapatos e me deitei, jogando o lençol fino sobre meu corpo; eu estava cansada e minha perna ainda doía muito, o que dificultava cair no sono.
Fiquei rolando na cama por horas, mas independente da posição nada fazia minha perna parar de latejar.
Bufei alto e me levantei, indo para a janela de frente para a cama, me sentando e observando a noite que aos poucos tomava forma lá fora, cobrindo a cidade com seu imenso breu.
- Noite bonita, não? - alguém falou atrás de mim.
- Jesus! - me levantei apressada, colocando a mão no peito e quase caindo devido ao susto. - Como me encontrou? - por algum motivo eu não estava surpresa por vê-lo ali.
- Digamos que você é bastante previsível, era óbvio que não iria para sua casa e nem para o restaurante onde trabalha, ali seriam os lugares mais óbvios para se procurar, então fui na sorte e supus que estaria aqui, que é a estalagem mais próxima. - se sentou na cama, observando tudo a sua volta. - Apenas precisei usar um pouco do meu cérebro, e tentar adivinhar em qual quarto você estaria.
Eu já ia me preparar para correr, quando ele se levantou e parou na minha frente.
- Sabe, eu fiquei muito curioso para saber como você conseguiu se livrar daquelas cordas, ainda mais por elas terem se tornado pó. - cerrou os olhos na minha direção, dando um sorriso cínico.
- Não sei do que está falando.
- É claro que não, como saberia? - disse com sarcasmo na voz. - Infelizmente eu terei que te levar de volta comigo, não posso correr o risco de te deixar aqui sabendo para quem você trabalha.
- Eu não irei a lugar algum com você! - bati o pé, quem ele pensava que era?
Num piscar de olhos senti ele me agarrar pelos braços e meu corpo todo pareceu flutuar por um momento, quando vi já estávamos naquele apartamento novamente, e ele ainda me segurava com força.
Tentava me soltar de qualquer modo mas ele não cedia, então tive que ir contra todos os meus princípios. Olhei para a cara dele e sem mais nem menos cuspi, recebendo um olhar de fúria em troca; nem eu acreditava que tinha feito aquilo, mas não iria baixar minha guarda, não agora.
Ele me soltou como previ, mas eu estava estática e não conseguia mexer um músculo se quer.
- Você é obstinada, gosto disso. - disse pegando um pano ao lado e limpando o rosto. - Você escolheu o caminho mais difícil, Anna, e tenho certeza que irá se arrepender. - saiu andando e pegou uma outra corda, dessa vez mais resistente, e me amarrou; não antes de eu me espernear e estapeá-lo inteiro.

Anomalia | Number FiveOnde histórias criam vida. Descubra agora