Doze Majestosos

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- P.O.V Five -
Nos sentamos todos no sofá, Anna estava de cabeça baixa e as lágrimas - agora secas - continuavam marcadas em seu rosto com feição assustada. Ela mesma tinha feito um curativo em sua testa; chegara aqui afobada e seu corte sangrava horrores, além de diversas veias escuras estarem passando por debaixo de sua pele - algo que me contive à contar a ela.
Seu silêncio era desconfortável, queria saber o que se passava dentro de sua cabeça e porque ela estava no estado que se encontrava; como se tivesse cometido o pior crime do mundo.
Lila - namorada de Diego - não estava presente na sala por algum motivo até então desconhecido.  Ellioti preparava alguma coisa na cozinha e o único barulho audível era o bater de talheres e louças.
Ao meu lado Diego parecia pensativo, os cotovelos estavam apoiados em seus joelhos e os dedos cruzados e encostados na cabeça. Mas que diabos! Estava ficando agoniado com todo aquele mistério que rondava naquela sala.
- Então... - minha voz saiu extremamente alta, devido ao silêncio absurdo. Cocei a garganta e continuei, dessa vez com um tom mais baixo. - quer nos contar o que houve? - olhava para Anna esperançoso.
- Acho que encontrei a tal Handler que você havia mencionado. - disse baixo, enquanto enrolava uma mexa de cabelo entre os dedos. Me surpreendi com sua fala, não imaginava que Handler fosse atrás dela.
- E o que conversaram? - me mantive com expressões neutras.
Ouvi seu suspiro e ela ergueu os olhos, esses estavam vermelhos e inchados, com as pupilas dilatadas. Seu nariz estava igualmente vermelho e ela fungava vez ou outra.
- Ela me disse tantas coisas horríveis… - sua voz ainda estava embargada devido ao choro. - e mencionou um tal de Reginald, falou que ele era meu pai, mas eu não faço ideia de quem ele seja. - arregalei os olhos, então o velho a conhecia mesmo?
- O que exatamente ela disse sobre ele? - me inclinei para a frente. Anna fechou seus olhos com força, como se lembrasse de um pesadelo terrível. Vê-la daquele jeito me causava uma sensação ruim.
- Disse que ele fez experiências comigo, que ele tentava controlar meus poderes mas que era incapaz. Disse que tinha medo do que eu podia fazer, e que por isso eu era o maior segredo dele. - era possível ver lágrimas rolarem por seu rosto novamente. - Eu queria poder me lembrar disso, poder saber quem eu sou!
- Como é possível que Reginald seja seu pai, e nunca tenhamos visto você na academia? - indagou Diego.
- O que? - ela levantou o rosto, o encarando. - Academia? Do que está falando?
- No dia primeiro de outubro de 1989 ao meio dia, 43 mulheres ao redor do mundo deram a luz sem ao menos estarem grávidas. Reginald Hargreeves, um velho que odiava crianças mas amava fazer experiências, comprou e adotou sete dessas crianças que, por acaso, tinham poderes. Ele nos chamou de Umbrella Academy e nos deu nome de números. - falei calmamente, me levantando e colocando as mãos nos bolsos. - Ele nos treinou e nos fez super-heróis, éramos cobaias de um homem totalmente insensível e sem escrúpulos.
- 1989? Mas isso é… daqui a vinte e seis anos.
- Viajem no tempo, se esqueceu? - digo como se fosse óbvio. - O fato é, nenhum de nós sete jamais viu você na academia, estávamos todos sempre juntos mas nosso pai jamais mencionou um número oito. Exceto... - não, não era possível...
- Exceto o que, Five? - Diego se levantou e parou na minha frente, me encarando. - Do que você sabe?
Anna me olhava com os olhos arregalados, esperando que eu dissesse o que tinha para falar.
- Eu me lembro de uma noite, quando já estávamos todos dormindo; eu não conseguia pegar no sono e me revirei por horas na cama até enfim me levantar e descer para a cozinha na intenção de pegar um copo de água, mas algo me fez parar. Papai estava sentado no sofá da sala sussurrando alguma coisa com Pogo, e então eles saíram sorrateiramente até os fundos da casa. Eu os segui até lá e vi ele descer as escadas do porão que jamais deixavam nós entrarmos. Pogo ficou do lado de fora, trancando as correntes e colocando uma barra da aço na porta, e saiu dali.
Eu estava muito curioso, então me teletransportei até lá embaixo e vi nosso pai descendo as escadas parando em frente à única porta que tinha ali; era uma escadaria extremamente grande e era completamente forrada com aqueles estofados a prova de som. Eu o vi entrar naquela sala e trancar a porta por dentro, mas consegui ver por alguns segundos o que tinha lá; uma garota estava deitada em uma cama e vestia uma camisa de força, não tive tempo de reparar muito bem nos seus traços, mas tenho certeza do que vi. Ela tinha veias escuras e seus olhos eram negros, e gritava desesperadamente por socorro. - dei uma pequena pausa e engoli em seco.
- Eu nunca comentei sobre isto com ninguém pois eu estava aterrorizado demais, aquela cena me perturbou por semanas até eu finalmente conseguir esquecê-la; depois daquele dia me recusava a levantar da cama para ir fazer qualquer coisa, por mais que estivesse totalmente sem sono. Saí daquele porão imediatamente e me tranquei no meu quarto, naquela noite eu não consegui pegar no sono pelo resto da noite. - respirei fundo e fechei os olhos, aquelas lembranças eram perturbadoras até mesmo para mim.
- Como ele foi capaz de esconder isso da gente? - perguntou Diego, chutando o sofá. - Eu tenho certeza de que aquele maluco estava fazendo experiências nela, como ele é capaz disso?
- V-vocês acham que era eu quem estava lá? - ouvi sua voz trêmula, e ela se aproximou de onde eu estava.
- Você ainda tem alguma dúvida sobre isso? - soo arrogante, e me arrependo logo após ver seu rosto assustado.
- Mas o mais importante agora é, como aquela mulher sabia sobre tudo isso? - Diego se intromete, chamando ambas as atenções.
- Ela me disse que Reginald tinha pedido sua ajuda porque nem mesmo ele conseguia me controlar. -
- Por que ele pediria a ajuda dela? - questiono para mim mesmo.
O silêncio voltou a predominar na sala, Ellioti entrou e pôs um prato na mesa com alguma coisa estranha a nojenta que havia preparado.
Anna se afastou e foi para perto de uma das janelas, parecia estar em êxtase; era muita coisa para processar em tão pouco tempo, eu a compreendia.
Me aproximei parando ao seu lado, seus braços estavam ao redor de si e seus cabelos caíam sobre seu rosto, me impossibilitando de observá-la.
Me sentia com uma enorme vontade de abraçá-la, seu corpo tremia levemente e suas mãos limpavam as lágrimas que desciam singelas por seu rosto; e assim eu o fiz. Envolvi meus braços em volta de seu pescoço e a senti ficar tensa; ela não correspondeu o abraço no mesmo segundo, mas, quando senti seus braços contornarem minha cintura, meu corpo todo se arrepiou e senti um leve tremor nas pernas; meu coração estava acelerado e a respiração falhou por um breve momento. Seu cheiro doce invadiu minhas narinas e sentia que poderia passar o resto dos meus dias naquele abraço.
Nos separamos após algum tempo.
Hoje a noite era a festa no Consulado do México onde Reginald e os Doze Majestosos estariam; era nossa chance de abordá-lo.
Diego ainda reclamava de dor devido a facada que o velho desferiu contra ele, mas concordou que deveríamos estar lá para observar de perto o que ele iria fazer. Ainda insistia em dizer que ele estava ligado ao assassinato de John F. Kennedy, então apenas desisti de contradizê-lo.
Faltavam algumas horas até o horário marcado no convite que peguei em seu escritório, e meu pescoço ainda doía devido ao arranhão que Pogo me deferira. Peguei mais uma gaze da caixa de primeiros socorros e pressionei contra o ferimento, enquanto via Anna ainda parada em frente àquela janela; ela não tremia mais e tinha parado de chorar.
Precisava me concentrar no que iríamos fazer essa noite, era de extrema importância que tudo saísse como o planejado, qualquer distração ou importunação acabaria com tudo.
- Oi, oi, cheguei! - Lila entrou pela porta da frente, chamando a atenção. - Fui comprar mais gaze na farmácia. - levantou a mão com um pacote transparente.
- Ótimo. - murmurei irônico revirando os olhos; eu não confiava naquela garota, ela estava sempre se metendo nas minhas conversas com Diego e fazia perguntas demais.
Me virei para a parede onde estava o mural com as fotos dos meus irmãos, mesmo não querendo admitir para mim mesmo eu sentia falta dos tempos na academia; Reginald pode não ter sido o pai do ano mas ainda assim era nosso pai, e eu o amava. Deveria tê-lo escutado quando me alertou para não viajar no tempo ser ter aperfeiçoado meus poderes ainda; caso tivesse o dado ouvidos talvez eu não teria ficado preso no pós - apocalíptico e ainda teria a companhia da minha família. Mas, por outro lado, foi por conta disso que consegui saber que o fim do mundo estava próximo e conseguir tentar impedi-lo.
Trazer a tona os segredos que o velho escondia de nós é algo que me dá náuseas, ele fora sempre tão frio e instável; não conseguia compreender o porquê de ter feito o que fez com Anna.
Balancei a cabeça e me concentrei no plano que criara, daqui a algumas horas estaria frente a frente com ele, e assim poderia tentar adivinhar o que se passa naquela mente perturbada.
~~~☆~~~
Deixamos Anna em sua casa e partimos para o local onde a festa ocorreria. Lila estava conosco, o que, admito, estava me dando nos nervos; preferiria que Anna estivesse aqui em seu lugar.
Entrar não foi tão difícil quanto imaginei, todos estavam entertidos com alguma coisa e rapidamente nos misturamos na multidão.
Enquanto Diego e Lila conversvam sobre algo que não me intressava nem um pouco, subi as escadas para o andar de cima, onde julguei estarem os Doze Majestosos.
O corredor era longo e iluminado, e os vi entrarem em uma das diversas salas e fecharem a porta. Me escondi um um dos quartos e, assim que vi que o caminho estava livre, me teletransportei para dentro do armário de casacos; a porta tinha pequenos espaços onde era possível ver e ouvir sobre tudo o que conversavam, mas era impossível me verem ali, o que de certa forma me dava uma pequena vantagem.
"- O presidente continua fazendo perguntas sobre Roswell e os outros locais das quedas, senhores." - disse um dos doze que estavam presentes naquela reunião. - "E como sabem, não podemos permitir que ele se envolva nos nossos negócios. Confirmei que a carreata virará à esquerda na rua Elm. Nosso pessoal estará a postos!" - concluiu.
"- Senhores, esse plano de vocês parece inoportuno." - ouço a voz de Reginald, e me aproximo mais da porta para escutar com mais clareza.
"- Será um alvo fácil!" - outro diz.
Acabo batendo em alguns cabides que estavam pendurados, chamando a atenção de Reginald para o armário, que merda! Ele se aproxima lentamente segurando uma vara que estava apoiada na lareira, como se quisesse ter certeza de que tinha escutado corretamente.
Estávamos frente a frente, com apenas a porta separando nosso contato; era tão estranho vê-lo tão de perto depois de mais de quarenta anos, mas não iria deixar que ele me visse ali. Antes de qualquer coisa, me teletransportei para o corredor novamente, e o escutei batendo contra a porta de madeira diversas vezes.
Me viro para trás pronto para encontrar Diego, dando de cara com um dos três malucos com armas que me perseguiram outro dia.
- Merda! - exclamo, e sinto suas mãos me pegaram pela camiseta, me jogando contra a parede.
Aquela não era uma luta justa, ele tinha o dobro do meu tamanho e esse corpo de criança não favorecia em nada.
Me teletransportei para suas costas, chutando o ligamento de seus joelhos e o fazendo cair no chão, me dando um pingo de vantagem. Rapidamente levei minhas mãos para seu pescoço na intenção de quebrá-lo, mas deve apenas ter lhe feito cócegas, já que se levantou comigo ainda em suas costas e me puxou pelo casaco, me jogando para frente.
Saí antes que recebesse um belo soco na cara e apareci atrás dele, que me olhava confuso. Tentei me teletransportar mais uma vez mas estava sem energia, não conseguia abir o portal. Ele se levantou e veio em minha direção e acertou, finalmente, o soco que estava aguardando.
Diego apareceu depois de alguns minutos que eu já estava levando uma bela surra, e um outro integrante do tripleto o agarrou com uma corda pela garganta, o estrangulando enquanto o outro lhe dava socos na barriga.
Aquele seria nosso fim, se uma luz forte não invadisse o local fazendo todos tapar os olhos devido a claridade, e em questão de segundos os três irmãos voaram pelas janelas, fazendo um barulho enorme de vidro se quebrando.
Anna apareceu em minha visão e sua pele brilhava, seus olhos estavam totalmente brancos e novamente as veias escuras tomaram conta de seu rosto. Aquele poder saía de suas mãos, seu nariz sangrava e era nítido o esforço que ela fazia para se manter de pé.
Depois de perceber que todos os alvos já tinham sido eliminados, seu corpo caiu contra o carpete, ela estava pálida e visivelmente fraca. Corri até ela, puxando sua cabeça para o meu colo,
- Anna! Ei, está me ouvindo? - batia contra seu rosto freneticamente, até ver seus olhos se abrirem minimamente.
- Está me devendo uma, garoto número! - deu um sorriso ladino e tombou a cabeça para o lado novamente; precisávamos sair dali imediatamente...
- P.O.V Five -
Nos sentamos todos no sofá, Anna estava de cabeça baixa e as lágrimas - agora secas - continuavam marcadas em seu rosto com feição assustada. Ela mesma tinha feito um curativo em sua testa; chegara aqui afobada e seu corte sangrava horrores, além de diversas veias escuras estarem passando por debaixo de sua pele - algo que me contive à contar a ela.
Seu silêncio era desconfortável, queria saber o que se passava dentro de sua cabeça e porque ela estava no estado que se encontrava; como se tivesse cometido o pior crime do mundo.
Lila - namorada de Diego - não estava presente na sala por algum motivo até então desconhecido.  Ellioti preparava alguma coisa na cozinha e o único barulho audível era o bater de talheres e louças.
Ao meu lado Diego parecia pensativo, os cotovelos estavam apoiados em seus joelhos e os dedos cruzados e encostados na cabeça. Mas que diabos! Estava ficando agoniado com todo aquele mistério que rondava naquela sala.
- Então... - minha voz saiu extremamente alta, devido ao silêncio absurdo. Cocei a garganta e continuei, dessa vez com um tom mais baixo. - quer nos contar o que houve? - olhava para Anna esperançoso.
- Acho que encontrei a tal Handler que você havia mencionado. - disse baixo, enquanto enrolava uma mexa de cabelo entre os dedos. Me surpreendi com sua fala, não imaginava que Handler fosse atrás dela.
- E o que conversaram? - me mantive com expressões neutras.
Ouvi seu suspiro e ela ergueu os olhos, esses estavam vermelhos e inchados, com as pupilas dilatadas. Seu nariz estava igualmente vermelho e ela fungava vez ou outra.
- Ela me disse tantas coisas horríveis… - sua voz ainda estava embargada devido ao choro. - e mencionou um tal de Reginald, falou que ele era meu pai, mas eu não faço ideia de quem ele seja. - arregalei os olhos, então o velho a conhecia mesmo?
- O que exatamente ela disse sobre ele? - me inclinei para a frente. Anna fechou seus olhos com força, como se lembrasse de um pesadelo terrível. Vê-la daquele jeito me causava uma sensação ruim.
- Disse que ele fez experiências comigo, que ele tentava controlar meus poderes mas que era incapaz. Disse que tinha medo do que eu podia fazer, e que por isso eu era o maior segredo dele. - era possível ver lágrimas rolarem por seu rosto novamente. - Eu queria poder me lembrar disso, poder saber quem eu sou!
- Como é possível que Reginald seja seu pai, e nunca tenhamos visto você na academia? - indagou Diego.
- O que? - ela levantou o rosto, o encarando. - Academia? Do que está falando?
- No dia primeiro de outubro de 1989 ao meio dia, 43 mulheres ao redor do mundo deram a luz sem ao menos estarem grávidas. Reginald Hargreeves, um velho que odiava crianças mas amava fazer experiências, comprou e adotou sete dessas crianças que, por acaso, tinham poderes. Ele nos chamou de Umbrella Academy e nos deu nome de números. - falei calmamente, me levantando e colocando as mãos nos bolsos. - Ele nos treinou e nos fez super-heróis, éramos cobaias de um homem totalmente insensível e sem escrúpulos.
- 1989? Mas isso é… daqui a vinte e seis anos.
- Viajem no tempo, se esqueceu? - digo como se fosse óbvio. - O fato é, nenhum de nós sete jamais viu você na academia, estávamos todos sempre juntos mas nosso pai jamais mencionou um número oito. Exceto... - não, não era possível...
- Exceto o que, Five? - Diego se levantou e parou na minha frente, me encarando. - Do que você sabe?
Anna me olhava com os olhos arregalados, esperando que eu dissesse o que tinha para falar.
- Eu me lembro de uma noite, quando já estávamos todos dormindo; eu não conseguia pegar no sono e me revirei por horas na cama até enfim me levantar e descer para a cozinha na intenção de pegar um copo de água, mas algo me fez parar. Papai estava sentado no sofá da sala sussurrando alguma coisa com Pogo, e então eles saíram sorrateiramente até os fundos da casa. Eu os segui até lá e vi ele descer as escadas do porão que jamais deixavam nós entrarmos. Pogo ficou do lado de fora, trancando as correntes e colocando uma barra da aço na porta, e saiu dali.
Eu estava muito curioso, então me teletransportei até lá embaixo e vi nosso pai descendo as escadas parando em frente à única porta que tinha ali; era uma escadaria extremamente grande e era completamente forrada com aqueles estofados a prova de som. Eu o vi entrar naquela sala e trancar a porta por dentro, mas consegui ver por alguns segundos o que tinha lá; uma garota estava deitada em uma cama e vestia uma camisa de força, não tive tempo de reparar muito bem nos seus traços, mas tenho certeza do que vi. Ela tinha veias escuras e seus olhos eram negros, e gritava desesperadamente por socorro. - dei uma pequena pausa e engoli em seco.
- Eu nunca comentei sobre isto com ninguém pois eu estava aterrorizado demais, aquela cena me perturbou por semanas até eu finalmente conseguir esquecê-la; depois daquele dia me recusava a levantar da cama para ir fazer qualquer coisa, por mais que estivesse totalmente sem sono. Saí daquele porão imediatamente e me tranquei no meu quarto, naquela noite eu não consegui pegar no sono pelo resto da noite. - respirei fundo e fechei os olhos, aquelas lembranças eram perturbadoras até mesmo para mim.
- Como ele foi capaz de esconder isso da gente? - perguntou Diego, chutando o sofá. - Eu tenho certeza de que aquele maluco estava fazendo experiências nela, como ele é capaz disso?
- V-vocês acham que era eu quem estava lá? - ouvi sua voz trêmula, e ela se aproximou de onde eu estava.
- Você ainda tem alguma dúvida sobre isso? - soo arrogante, e me arrependo logo após ver seu rosto assustado.
- Mas o mais importante agora é, como aquela mulher sabia sobre tudo isso? - Diego se intromete, chamando ambas as atenções.
- Ela me disse que Reginald tinha pedido sua ajuda porque nem mesmo ele conseguia me controlar. -
- Por que ele pediria a ajuda dela? - questiono para mim mesmo.
O silêncio voltou a predominar na sala, Ellioti entrou e pôs um prato na mesa com alguma coisa estranha a nojenta que havia preparado.
Anna se afastou e foi para perto de uma das janelas, parecia estar em êxtase; era muita coisa para processar em tão pouco tempo, eu a compreendia.
Me aproximei parando ao seu lado, seus braços estavam ao redor de si e seus cabelos caíam sobre seu rosto, me impossibilitando de observá-la.
Me sentia com uma enorme vontade de abraçá-la, seu corpo tremia levemente e suas mãos limpavam as lágrimas que desciam singelas por seu rosto; e assim eu o fiz. Envolvi meus braços em volta de seu pescoço e a senti ficar tensa; ela não correspondeu o abraço no mesmo segundo, mas, quando senti seus braços contornarem minha cintura, meu corpo todo se arrepiou e senti um leve tremor nas pernas; meu coração estava acelerado e a respiração falhou por um breve momento. Seu cheiro doce invadiu minhas narinas e sentia que poderia passar o resto dos meus dias naquele abraço.
Nos separamos após algum tempo.
Hoje a noite era a festa no Consulado do México onde Reginald e os Doze Majestosos estariam; era nossa chance de abordá-lo.
Diego ainda reclamava de dor devido a facada que o velho desferiu contra ele, mas concordou que deveríamos estar lá para observar de perto o que ele iria fazer. Ainda insistia em dizer que ele estava ligado ao assassinato de John F. Kennedy, então apenas desisti de contradizê-lo.
Faltavam algumas horas até o horário marcado no convite que peguei em seu escritório, e meu pescoço ainda doía devido ao arranhão que Pogo me deferira. Peguei mais uma gaze da caixa de primeiros socorros e pressionei contra o ferimento, enquanto via Anna ainda parada em frente àquela janela; ela não tremia mais e tinha parado de chorar.
Precisava me concentrar no que iríamos fazer essa noite, era de extrema importância que tudo saísse como o planejado, qualquer distração ou importunação acabaria com tudo.
- Oi, oi, cheguei! - Lila entrou pela porta da frente, chamando a atenção. - Fui comprar mais gaze na farmácia. - levantou a mão com um pacote transparente.
- Ótimo. - murmurei irônico revirando os olhos; eu não confiava naquela garota, ela estava sempre se metendo nas minhas conversas com Diego e fazia perguntas demais.
Me virei para a parede onde estava o mural com as fotos dos meus irmãos, mesmo não querendo admitir para mim mesmo eu sentia falta dos tempos na academia; Reginald pode não ter sido o pai do ano mas ainda assim era nosso pai, e eu o amava. Deveria tê-lo escutado quando me alertou para não viajar no tempo ser ter aperfeiçoado meus poderes ainda; caso tivesse o dado ouvidos talvez eu não teria ficado preso no pós - apocalíptico e ainda teria a companhia da minha família. Mas, por outro lado, foi por conta disso que consegui saber que o fim do mundo estava próximo e conseguir tentar impedi-lo.
Trazer a tona os segredos que o velho escondia de nós é algo que me dá náuseas, ele fora sempre tão frio e instável; não conseguia compreender o porquê de ter feito o que fez com Anna.
Balancei a cabeça e me concentrei no plano que criara, daqui a algumas horas estaria frente a frente com ele, e assim poderia tentar adivinhar o que se passa naquela mente perturbada.
~~~☆~~~
Deixamos Anna em sua casa e partimos para o local onde a festa ocorreria. Lila estava conosco, o que, admito, estava me dando nos nervos; preferiria que Anna estivesse aqui em seu lugar.
Entrar não foi tão difícil quanto imaginei, todos estavam entertidos com alguma coisa e rapidamente nos misturamos na multidão.
Enquanto Diego e Lila conversvam sobre algo que não me intressava nem um pouco, subi as escadas para o andar de cima, onde julguei estarem os Doze Majestosos.
O corredor era longo e iluminado, e os vi entrarem em uma das diversas salas e fecharem a porta. Me escondi um um dos quartos e, assim que vi que o caminho estava livre, me teletransportei para dentro do armário de casacos; a porta tinha pequenos espaços onde era possível ver e ouvir sobre tudo o que conversavam, mas era impossível me verem ali, o que de certa forma me dava uma pequena vantagem.
"- O presidente continua fazendo perguntas sobre Roswell e os outros locais das quedas, senhores." - disse um dos doze que estavam presentes naquela reunião. - "E como sabem, não podemos permitir que ele se envolva nos nossos negócios. Confirmei que a carreata virará à esquerda na rua Elm. Nosso pessoal estará a postos!" - concluiu.
"- Senhores, esse plano de vocês parece inoportuno." - ouço a voz de Reginald, e me aproximo mais da porta para escutar com mais clareza.
"- Será um alvo fácil!" - outro diz.
Acabo batendo em alguns cabides que estavam pendurados, chamando a atenção de Reginald para o armário, que merda! Ele se aproxima lentamente segurando uma vara que estava apoiada na lareira, como se quisesse ter certeza de que tinha escutado corretamente.
Estávamos frente a frente, com apenas a porta separando nosso contato; era tão estranho vê-lo tão de perto depois de mais de quarenta anos, mas não iria deixar que ele me visse ali. Antes de qualquer coisa, me teletransportei para o corredor novamente, e o escutei batendo contra a porta de madeira diversas vezes.
Me viro para trás pronto para encontrar Diego, dando de cara com um dos três malucos com armas que me perseguiram outro dia.
- Merda! - exclamo, e sinto suas mãos me pegaram pela camiseta, me jogando contra a parede.
Aquela não era uma luta justa, ele tinha o dobro do meu tamanho e esse corpo de criança não favorecia em nada.
Me teletransportei para suas costas, chutando o ligamento de seus joelhos e o fazendo cair no chão, me dando um pingo de vantagem. Rapidamente levei minhas mãos para seu pescoço na intenção de quebrá-lo, mas deve apenas ter lhe feito cócegas, já que se levantou comigo ainda em suas costas e me puxou pelo casaco, me jogando para frente.
Saí antes que recebesse um belo soco na cara e apareci atrás dele, que me olhava confuso. Tentei me teletransportar mais uma vez mas estava sem energia, não conseguia abir o portal. Ele se levantou e veio em minha direção e acertou, finalmente, o soco que estava aguardando.
Diego apareceu depois de alguns minutos que eu já estava levando uma bela surra, e um outro integrante do tripleto o agarrou com uma corda pela garganta, o estrangulando enquanto o outro lhe dava socos na barriga.
Aquele seria nosso fim, se uma luz forte não invadisse o local fazendo todos tapar os olhos devido a claridade, e em questão de segundos os três irmãos voaram pelas janelas, fazendo um barulho enorme de vidro se quebrando.
Anna apareceu em minha visão e sua pele brilhava, seus olhos estavam totalmente brancos e novamente as veias escuras tomaram conta de seu rosto. Aquele poder saía de suas mãos, seu nariz sangrava e era nítido o esforço que ela fazia para se manter de pé.
Depois de perceber que todos os alvos já tinham sido eliminados, seu corpo caiu contra o carpete, ela estava pálida e visivelmente fraca. Corri até ela, puxando sua cabeça para o meu colo,
- Anna! Ei, está me ouvindo? - batia contra seu rosto freneticamente, até ver seus olhos se abrirem minimamente.
- Está me devendo uma, garoto número! - deu um sorriso ladino e tombou a cabeça para o lado novamente; precisávamos sair dali imediatamente...

Anomalia | Number FiveOnde histórias criam vida. Descubra agora