Capítulo 6 - Incômodo

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Yuta já havia se tornado uma companhia diária para Sicheng durante seu trajeto até a faculdade. Após o chinês ser pego de surpresa e demonstrado desconforto com o último incidente, o robô se tornou mais precavido com as próprias atitudes criando para si próprio uma espécie de controle, tentando não invadir o espaço do outro. Conviver com ele já estava de muito bom grado.

A convivência era de fato ótima. Todos os dias não faltavam novidades em sua rotina. A curiosidade de Yuta sobre os mais diversos assuntos e experiências fez Sicheng perceber o quão acomodado estava antes de conhecer o robô. Eles haviam se tornado ótimos amigos e compartilhavam quase tudo um com outro.

Quase tudo.

Yuta era bastante sociável. Até mais do que certos humanos. Sicheng pôde concluir isso quando percebeu o número de pessoas no campus que o conheciam. Era maior do que as que interagiam com ele próprio. Yuta até mesmo apresentava algumas delas para o chinês.

Um dia quando ele estava chegando na lanchonete avistou o robô conversando alegremente com outro garoto. Muito alegremente. Ele gargalhava tão alto que chamava a atenção até de quem não estava próximo. Uma gargalhada dessa altura ele jamais havia mostrado quando estava com Sicheng. O garoto não soube dizer porquê, mas se sentiu levemente incomodado. Apertando os passos até os dois, ele conseguiu chegar bem a tempo de separar um repentino abraço entre ambos.

– Com licença e desculpa, eu não quero atrapalhar nada. – ele foca-se no robô, evitando olhar para o garoto. – Nós estamos atrasados, vamos logo. – a essa altura ele já está arrastando Yuta pelos braços.

– O que houve? – Yuta pergunta confuso.

– Vai me dizer que você esqueceu. Nós temos aquele compromisso urgente, lembra? – Sicheng responde não parando de caminhar e arrastar o robô consigo.

Yuta vira-se para o garoto e acena despedindo-se.

Sicheng olha de canto.

– Seu namorado?

– O quê?! – o espanto do robô é evidente.

– Nada.

– Para onde estamos indo, afinal?

Sicheng nada responde. Apenas quando perdem a lanchonete de vista ele para de caminhar, deixando um robô nitidamente confuso o observando.

– Eu estou cansado. Vamos para casa.
– Sicheng responde ainda sem olhar para Yuta.

– Mas e o nosso compromisso?

– Err... acho que confundi as coisas.

– Você disse que era urgente.

Sicheng lhe lança um rápido e frio olhar. Foi apenas durante um segundo, mas o suficiente para congelar o clima, calando o robô. O garoto caminha sozinho na frente enquanto o outro o segue silenciosamente.

••••

– Quando você vai voltar a falar comigo?

Silêncio.

– Winko...

Sicheng repousa a xícara de café sobre a mesa. Ele respira fundo.

Yuta não ousa soltar uma palavra após esta pequena reação.

– Você não sabe mesmo por que eu estou assim?

O robô nega com a cabeça.

– Bem... você não pode estar tão próximo de outras pessoas. É estranho.

– Estranho como?

– Só estranho. Não é legal. Principalmente se você as abraça.

– O que tem de errado com abraços? Você gosta quando abraço você.

– Sim! Eu! – Sicheng recua após perceber que esta última fala havia soado um pouco mais alto do que o normal.

– Me desculpe se você não gostou. – Yuta diz esperando uma resposta do outro, mas não obtendo nenhuma. – Winko... – ele insiste.

– Está tudo bem. Não é nada grave de qualquer forma. Talvez eu tenha sido um pouco grosseiro com você.

– Não, você não foi. Meu Winko nunca é grosseiro. Não mesmo.

A mão do garoto congela na orelha da xícara.

– Do que você me chamou?

– Hm?

– Você disse algo antes do meu nome, não foi?

– Eu disse que você não foi grosseiro.

– Não isso, você disse... – ele não ousa continuar. Sicheng tinha certeza do que ouvira, então por que raios desejava que o robô repetisse? Não é como se ele tivesse gostado, de qualquer forma, então apenas decidiu deixar para lá.

– Meu Winko...

O garoto sente seu coração parar por um segundo antes de voltar a bater mais acelerado do que o normal. Ele move a cabeça na direção do outro e se depara com um sorriso lhe encarando. Não era um dos sorrisos rotineiros de Yuta. Geralmente esses sorrisos eram largos e convidativos, com os olhos do robô cerrando-se de modo que era quase impossível enxergar suas íris. O sorriso que Sicheng estava vendo naquele momento era curto, curvado apenas em um canto. As pálpebras caiam sobre os olhos do robô, porém não fechando-os totalmente, permitindo que ele observasse Sicheng com bastante atenção. Se o garoto pudesse descrever aquele sorriso, havia uma palavra que encaixaria-se perfeitamente: provocativo.

Mas Yuta não saberia o que era aquela atitude, não é? Ele não poderia provocar Sicheng sem entender o que de fato provocar alguém significa. Talvez Sicheng tenha apenas exagerado na quantidade de cafeína.
A fim de cortar o próprio pensamento, ele levanta da mesa e despede-se de Yuta, avisando-o para não esquecer de se recarregar enquanto ele dorme.

[Continua...]

Osaka Boy | yuwinOnde histórias criam vida. Descubra agora