Capítulo 9 - Retorno

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– Nunca pensei que as veria tão de perto. – Yuta comenta com brilho nos olhos enquanto observa as nuvens pela janela do avião.

"Tripulação, preparar para o pouso."

Yuta estava tão encantado que, após o avião finalmente pousar, ele hesita em sair, mas se anima novamente quase que imediato quando percebe um sorriso enorme iluminando o rosto de Sicheng. Ele lembrara das diversas vezes que o companheiro havia comentado sobre a saudade que sentia de estar em casa. E aquele sorriso valia para ele mais do que mil passeios sobre as nuvens.

– Estou ansioso para te apresentar meus amigos. Você vai gostar deles.

– Tenho certeza que sim. Afinal, são seus amigos. Eles devem ser tão maravilhosos quanto você.

– Não sei se eu continuaria com esse otimismo todo. Alguns são bem diferentes de mim. – Sicheng responde quase que em uma gargalhada.

– Sicheng!!! – uma voz estridente e animada soa ao fundo.

O chinês vira-se sorrindo para recebê-lo.

– Uau! Você está mais bonito. Aconteceu alguma coisa enquanto estava no Japão? – Ten é surpreendido quando percebe que o garoto caminhando atrás do amigo também para ao seu lado quando eles o alcançam. Não era apenas uma pessoa aleatória no aeroporto. Ele viera com Sicheng. – Err... acho que estou certo, não é? – ele sorri com o rosto cheio de dúvidas.

Sicheng sorri também ao notar sua expressão.

– Ten, esse é o Yuta. Ele é meu...

– Namorado. – Yuta completa.

– Isso. – Sicheng afirma sorrindo sem desviar os olhos do robô. Ele não via o amigo há mais de um ano, mas naquele instante, assim como nos últimos meses, ele só conseguia dedicar sua atenção a uma coisa. Ou, mais especificamente, alguém.

••••

Ten encarava o robô com bastante concentração. Dava para contar em apenas uma mão o número total de vezes que ele havia piscado durante esse tempo.

Yuta não se sentia encabulado, mas olhava repetidamente para Sicheng na esperança de obter uma resposta sobre o que fazer.

– Ten? – Sicheng o chama finalmente atendendo ao pedido de socorro de Yuta.

O garoto apenas faz um movimento com a mão, sinalizando para o outro esperar. Ele ainda estava analisando para chegar a uma conclusão se Sicheng estava mesmo dizendo a verdade ou se era apenas uma brincadeira. Aquele não poderia ser um robô de verdade, certo? Ele definitivamente era um humano.

Os namorados-robô também já estavam circulando na China havia algum tempo, embora em um período bastante curto se comparado com seu país de origem. Entretanto, talvez por seu pouco tempo no mercado chinês ou pelo pequeno número em circulação, Ten não havia tido contato com um até então. Ou pelo menos era o que ele achava antes de conhecer Yuta. Após reparar em como seus traços pareciam demasiadamente humanos, ele começou a se questionar se já não havia visto ou até interagido com algum sem perceber.

– Você pode provar que é um robô? – ele finalmente abre a boca depois de um longo período sem falar absolutamente nada.

Yuta olha para Sicheng como se pedisse permissão.

Sicheng assente.

O robô começa então a desabotoar a camisa.

Primeiro botão.

Segundo botão.

Ten o interrompe. – Uou! Espera! O que você pensa que está fazendo? – ele pergunta espantado.

Yuta desabotoa o terceiro botão.

Uma espécie de círculo estava piscando exatamente no local em que deveria estar seu coração. Ten chega mais perto para analisar o objeto.

– O que...

– É meu processador.

Ten olha de relance para o robô e volta novamente seus olhos para o processador.

– Uau! Isso é...

– Incrível, não é? – Sicheng completa.

Ten apenas assente com a cabeça.

Quando finalmente se convence que Yuta não é humano, ele ajeita a postura na cadeira e pega o copo de refrigerante, tomando um gole.

– Mas você disse que... bem, você disse que vocês... como?

– Há muitas coisas que você não entenderia se eu apenas comentasse aqui nessa mesa. Você ainda vai demorar muito para terminar de comer? Eu estou cansado. – Sicheng espreguiça-se.

– Certo, certo. – Ten levanta e pega a mala de Sicheng ao seu lado. – Vamos, vou te deixar em casa.

– Qual casa?

– A sua?

– Resposta errada.

Ten franze as sobrancelhas.

– Eu não piso naquele apartamento há mais de um ano. Você sabe que ele deve estar cheirando a mofo por passar tanto tempo fechado e ainda assim quer que seu melhor amigo vá dormir lá após chegar de uma viagem cansativa? – Sicheng movimenta a cabeça em sinal negativo.

– Você deve estar de brincadeira. – Ten revira os olhos. – Okay, você venceu. Vamos logo antes que eu me arrependa.

••••

O combinado era de apenas três dias, tempo suficiente para que Sicheng organizasse as coisas em seu apartamento. Isso incluía reformá-lo todo para acomodar duas "pessoas". Entretanto, três dias transformaram-se em uma semana, que logo transformaram-se em um mês. Quando finalmente o casal resolveu que seria hora de dar adeus ao lar momentâneo, Ten despediu-se com tristeza. Ele havia se acostumado com a presença deles.

Durante o mês inteiro Sicheng tentara convencer o amigo a adquirir um namorado-robô para si. Ele sabia que as chances eram mínimas, pois não era muito do estilo de Ten. Ainda assim ele insistia, alegando que o amigo passava muito tempo sozinho e que aquilo não fazia bem para sua saúde mental. Especialmente quando ele tinha dias estressantes e não havia ninguém o esperando para confortá-lo quando chegasse em casa. Ten recusou firmemente, em todas as tentativas do garoto. Embora isso não impedisse Sicheng de deixar um catálogo estrategicamente posicionado em cima de sua escrivaninha antes de ele sair dali com Yuta.

Era sua última tentativa e ele não ousaria tentar novamente caso falhasse de novo mesmo que não tivesse muitas esperanças. Por este motivo, quando soube que o amigo havia cedido às suas insistências, Sicheng quase parte dessa para uma melhor. Literalmente. O chinês tomava café quando recebeu a mensagem do outro e quase se afoga. Não fosse Yuta estar ali para acudi-lo, ele certamente havia deixado este mundo mais cedo do que deveria.

[Continua...]

Osaka Boy | yuwinOnde histórias criam vida. Descubra agora