VII - Entre Espirros e Mistérios

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Abriu os olhos e soergueu-se alarmada, apoiando-se nos braços.

Sentiu nas palmas das mãos a superfície peculiar de uma alcatifa nova.

- Onde estou?!

E cheirava a alcatifa nova. Estava num lugar acabado de estrear – decoração impecável, tinta fresca, móveis chegados da loja, peças exclusivas de design ultramoderno. Pelo menos foi o que conseguiu ver na penumbra. Não havia luz e as eventuais janelas, ocultadas por pesados reposteiros de veludo, estavam fechadas.

Voltou a cabeça de um lado para o outro.

- O que faço aqui? E porque está tudo às escuras? Masaka!!

Começava a irritar-se. E quando alguma coisa irritava Pan, a filha de Videl e de Gohan, a neta de Mr. Satan e de Son Goku, havia destruição pela certa.

Esfregou os olhos a afugentar os restos de sono que ainda lhe condicionava os movimentos e lhe encolhia o raciocínio. Precisava absolutamente de recuperar as suas funções vitais, o ânimo, as forças, pôr-se de pé e sair daquele sítio asséptico, um quarto de laboratório para experiências com cobaias humanas. Foi o que pensou do sítio, asséptico e cada vez mais assustador por ser tão perfeito!

Tinha muitos mistérios para desvendar.

Porque estava ali, era o principal. Mas também por que a tinham adormecido, por que a tinham largado naquele quarto desconhecido, qual era o objetivo, por que estava a pensar todas essas coisas no meio do escuro e se a porta que lhe devolveria a liberdade estaria trancada. E essa dúvida tornou-se, apesar de surgir no fim da lista de mistérios, a mais importante e a que urgia responder! Se saísse do quarto, pensaria melhor e poderia, livre e dominada pela irritação de ter despertado no meio de uma situação incómoda, vingar-se de quem tinha sido o engraçadinho que lhe quisera pregar uma tal partida.

E só podia ser aquele idiota do Trunks!, pensou Pan rangendo os dentes.

Ajeitou o lenço laranja na cabeça, puxando-o até às orelhas. Um gesto de indignação e de fúria. Oh, sim! Estava para lá de indignada e de furiosa, alguém iria pagar por aquilo que lhe tinham feito!

E o que lhe tinham feito? Pensando bem, ainda não sabia exatamente onde estava e o que significava aquele estado... Prisioneira? Desorientada? Cobaia humana?

Escutou um rumor algures naquela penumbra.

Não estava sozinha! Um arrepio congelou-lhe o corpo, ficou como uma estátua a simular um passo em frente.

Os olhos negros moveram-se lentamente para a esquerda, de onde tinha vindo o rumor. Viu um vulto esguio, coroado por uma cabeleira encaracolada e farta, mover-se rente à parede que apalpava com algum desespero, soltando pequenos gemidos de aflição. Semicerrou as pálpebras observando a mulher a esfregar-se pela parede, às apalpadelas mais ou menos aflitas, não desmanchando a sua pose petrificada.

Nisto, teve de fechar os olhos completamente. Uma luz intensa encheu todo o compartimento como um relâmpago súbito. As pupilas, habituadas à escuridão quase total, tiveram de se proteger. Escutou um aliviado:

- Ah!!...

Voltou a esfregar os olhos, desta vez para limpá-los de lágrimas e desanuviar as manchas brancas que lhe baralhavam a visão, por causa da luz que tinha aparecido sem ela estar à espera.

O vulto revelou-se. Era mesmo uma mulher, de cabelos fartos azuis apanhados por um laço vermelho, de rosto bondoso onde cintilavam uns olhos cor violeta, que lhe sorria com simpatia. Vestia uma blusa justa, de alças, e uns calções curtos, desfiados nas bainhas. Usava umas elegantes botas de cano alto, enfeitadas com atilhos brancos.

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