I - Um Momento Inesquecível

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Do interior da casa vinha o som de uma canção murmurada. O cantarolar doce significava que ela estava sozinha e que se permitira a uns momentos de descontração, tão raros no seu quotidiano tão atarefado. Sempre a tinha conhecido assim – atarefada, rodeando-o de todas as atenções. Quando ele estava em casa, deveria acrescentar, e, se pensasse com cuidado, tinha havido anos prolongados de ausência por parte dele. O que o incomodava, mas na sua vida, por vezes, apareciam algumas surpresas que ele não dominava totalmente. Ou não queria dominar para aumentar a adrenalina...

Entrou devagar, para não perturbar o momento dela e também porque queria surpreendê-la. Empurrou a porta que estava apenas encostada, guardou as mãos nos bolsos das calças, encostou-se à ombreira e ficou a ver.

Ela tomava banho, numa enorme tina que colocara no centro do compartimento amplo que abria para a rua, a sala-de-estar da casa. Ele gostava de tomar banho no exterior, na mesma tina. Ela, recatada, fazia-o sempre entre paredes. O que era conveniente, concordou ele mentalmente. Não queria que mais ninguém visse a sua mulher naquela situação.

Uma perna esticava-se como um mastro de um navio, acima da linha alva de espuma. As mãos dela passavam pela pele, acariciando-a, esfregando-a, lavando-a. A respiração dele começou a alterar-se. Cerrou os punhos dentro dos bolsos. Cheirava a mirtilo e a maçã verde, o odor do gel de banho que a sua mulher estava a utilizar no banho e que passava para o corpo dela. Apetitoso e ele lambeu os lábios. Gostava de comer mirtilos e maçãs verdes.

Ela voltou a cabeça e descobriu-o. Os cabelos negros estavam soltos sobre os ombros, perdiam-se entre a espuma perfumada. Admirou-se, encolheu-se. Uma mão agarrou no rebordo da tina, escondeu o queixo entre as bolhas. Uniu os sobrolhos finos sobre os olhos e perguntou:

- Estás aí há muito tempo?

- Algum...

- Estás a observar-me?

- Gosto de te ver a tomar banho.

- Por onde tens andado?

- A reunir as bolas de dragão. Temos um novo kami-sama.

Ela sorriu-lhe, saindo do refúgio das bolhas, aligeirando a tensão no rosto. Ao se mexer dentro da água, libertou uma baforada de vapor. O cheiro era, deveras delicioso e ele voltou a lamber os lábios.

- Um novo kami-sama? Mas que boa notícia!

Depois, voltou a franzir os sobrolhos.

- Onde está Gohan-chan?

- Ficou no Palácio Celestial com o novo kami-sama. Conheceram-se quando estiveram em Namek e achei que seria bom para Gohan passar algum tempo com o amiguinho. Ficou bem, Piccolo também está lá.

- Hum...

Não era do agrado dela. Ele perguntou, por sua vez:

- E o teu pai?

- Foi passar uns dias à casa dele, ver como estão as coisas por lá... Deixar alguns assuntos organizados, resolver problemas.

- Hum... Quer dizer que estamos sozinhos?

- Vais ficar aí a olhar para mim?

Ele acenou que sim.

Ela mergulhou na tina, agitando ainda mais aquele perfume que o estava a perturbar. Ele despiu o blusão, chutou os sapatos, tirou as meias. Entrou, fechou a porta, enquanto ela se punha de pé na tina. Ele parou. O coração batia-lhe no peito.

A escultura do corpo da mulher era linda. Uns ombros pequenos, costas magras cobertos pelo tapete da cabeleira negra que lhe chegava à cintura estreita, ancas largas, coxas cheias, uns joelhos fortes. Ela sabia que ele continuava a observá-la e saiu da tina apressada. Estava cheia de vergonha e isso acendeu ainda mais o desejo dele. Cobriu-se desajeitadamente com uma toalha. Ele tirou a t-shirt, desapertou o cinto e o primeiro botão das calças.

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