Perdi todo o sentido da vida, não ouvia, não lia, não entendia nada. Tentava me manter viva, mas o que seria isso? A dor crescente não parece algo bom para se viver, o grito entalado na garganta não me mantinha mais viva, apenas mais quebrada e destruída. Talvez viver seja além de tudo o que estava sentindo naquele momento, então porque não acabar com uma alma já morta?
Foi em um momento de lucidez que entendi, quando estava a um centímetro de cortar a minha artéria carótida que vi minha vida passando entre meus olhos, o filme era lento. Eu enxerguei a primeira vez que cai de bicicleta, do meu primeiro choro ao me sentir esquecida na creche, do sorriso que dava toda vez que era abraçada pela minha mãe, da sensação gostosa de proteção que sentia. Eram flashes de momentos que vivi na minha infância e adolescência, era a vontade de me manter viva.
Eu consegui visualizar o meu primeiro amor, a primeira vez que disse "eu te amo" para uma outra pessoa, de quando ganhei o campeonato em Lins, do abraço que dei e recebi naquele dia. Eu conseguia visualizar tudo, e todos os meus momentos estavam acompanhados da tristeza e da mais bela alegria.
Foi em um momento de lucidez que larguei a faca mais afiada que tinha, que sentei em meio ao sangue que pingava do meu braço e que entendi que a vida era mais que aqueles sentimentos todos. Eu estava viva e viver era sentir tudo, de forma louca, triste, dolorosa e principalmente entender que tudo no fim daria meio certo.
Um momento de lucidez salvou a minha vida!
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(Des)esperança
Non-FictionPerdida no meio de um caos adulto, sou apenas uma garota que enxerga um mundo melhor ou ao menos tenta. Não quero perder a esperança em viver, mas parece impossível, por esse motivo escrevo. Sou o trauma de uma adolescente perdida com 13 anos, sou o...