CONTO 4- ONDE ESTÃO?
Havia, na cidade de Lauro de Freitas, na Bahia, um asilo-convento. Este local abrigava idosos declarados católicos, que estavam desamparados pela família, ou, até mesmo, que nem parentes tinham.
Era um lugar onde havia rezas todos os dias, freiras e padres passavam pelo lugar para dar sermões, conselhos, ajudar em algo de seus alcances.
Certa vez, uma senhora baixinha, de cabelos brancos, olhos castanhos e rosto assustado, chegou à portaria e perguntou ao porteiro se ele poderia deixá-la dormir uns dias em algum quarto ou qualquer canto do lugar, pois estava sendo perseguida por algo, e sabia que dentro do asilo-convento, estaria protegida, pois ali haviam muitas pessoas religiosas.
-O que está havendo contigo, senhora? Algum parente está perturbando-te?
-Eu nem tenho mais parentes, meu querido- respondeu a senhora, com olhos suplicantes.
-Oh, então queres inscrever-se para morar aqui? Não se preocupe, minha querida. Vamos tentar colocar-te aqui, ainda hoje. Qual é o teu nome?
-Meu nome é Ângela. –respondeu ela.
-Ok, dona. Vamos ver o que podemos fazer.
O homem levou a velha senhora para dentro, deu-lhe um copo de água e pediu-lhe que aguardasse, enquanto ele ia tentar por ela na lista de novos moradores do asilo-convento, já que haviam duas vagas para aquela semana, pois um senhor que era morador do asilo, falecera, e uma senhora foi levada para casa por sua família, de volta.
A senhora ficou feliz em saber que ali havia uma vaga para ficar, pelo menos por uns dias.
* * *Horas depois, a senhora foi chamada pelo porteiro para dentro, recebendo a notícia de que sua inscrição fora feita, e que poderia ficar ali por algumas semanas.
-Que Deus te abençoe por isso, meu querido! Você acabou de me salvar! –exclamou ela.
-Oh, não foi apenas eu. O conjunto de pessoas que trabalham nesta ala foi quem decidiu. Mas obrigado pelo gesto de gratidão- respondeu o porteiro.
A doce senhora começou a se adaptar no ambiente, conhecendo outras senhoras e alguns senhores, também. Fez amizade com Márcia, Ellen, Augusta e Caio. Aos demais, apenas apresentou-se.
Caio disse, naquela noite, numa roda de conversa que os citados fizeram, que a família dele o abandonou porque estavam sendo influenciados pelo mal. Depois dessa citação, os demais resolveram contar algo do tipo sobre si ou sua família.
Augusta contou que tivera uma certa vez, uma experiência sombria. Ela contou que viu algo muito estranho na casa de sua cunhada, numa festa em família. Ela percebera algo na varanda, onde alguns homens estavam fazendo churrasco. Quando se aproximara, perdeu aquilo de vista rapidamente. Rezou e deixou de ver com freqüência;
Márcia, por sua vez, disse que saiu de uma casa que morara por dois anos há cinco anos atrás, e que o asilo-convento para ela era até legal, uma vez que não precisaria mais se preocupar com rezas em casa toda semana com várias freiras e padres, para conseguir dormir, pois ali já havia isso, mas sem precisar incomodar ninguém.
Quando chegou a vez de Ellen, ela se recusou, dizendo que ninguém ali deveria expor aquelas coisas àquela hora, pois suas vidas estariam em risco, fazendo isso. Quando todos perguntaram o motivo de ela ter dito aquilo, ela não soube responder. Disse apenas que sentia isso.
Todos ficaram por uns bons minutos tensos, mas depois eles começaram a falar de outras coisas, coisas mais divertidas, até dar a hora de dormir, que era às 22h.* * *
Quando todos estavam subindo as escadas para irem aos seus quartos, uma lâmpada, que ficava no meio do segundo andar, onde dividiam-se os quartos dos homens e das mulheres, estourou, causando um baita susto em todos eles.
Segundos depois, Augusta puxou uma risadinha, tentando fazer com que a tensão do momento diminuísse. Os demais também riram e foram para seus aposentos.
Depois de meia hora, mais ou menos, sem conseguir dormir, Caio levantou-se para ir beber água num bebedouro que ficava na mesma direção da lâmpada que estourou, minutos atrás. Ele viu que Augusta também estava lá, e perguntou:
-Também tendo sede inesperada a essa hora?
Então ela se virou e respondeu:
-Sim e não. Eu nem preguei os olhos.
-Eu também não consegui dormir.
Eles se entreolharam e beberam a água. Estavam com cara de quem pensava bastante sobre algo recente.
-Bom, acho que teremos de voltar para nossos quartos. –disse Augusta.
-Sim, verdade. Se alguma irmã nos ver aqui a essa hora, decerto reclamará.
-E nós, com certeza não queremos isso.
Então foram para seus quartos.
* * *Augusta chegou ao seu quarto, que era compartilhado com Ellen, Márcia e Ângela, e viu que Márcia não estava ali. Intrigou-se, pois quando havia ido beber água, ela estava lá, aparentemente dormindo, de costas para a direção de sua cama, e se tivesse saído, a teria visto.
Chamou as demais senhoras e as perguntou onde poderia estar sua parceira de quarto, mas nenhuma soube dizer. Acharam que ela poderia estar no banheiro, mas não estava. Nem no bebedouro, nem debaixo da cama, de brincadeira; nem no lugar onde estavam conversando há mais ou menos quarenta minutos atrás.
Onde estaria Márcia?
* * *Elas conversaram e decidiram que Márcia poderia estar com alguma freira, conversando, pedindo conselhos, dizendo que não conseguia dormir ou algo do tipo. Então resolveram deitar-se para tentar dormir.
Depois de uns dez minutos, elas começaram a cochilar. Ângela, até dormiu.
Augusta sentiu alguém chamá-la, como se fosse a Márcia, e então, lentamente foi acordando. Quando olhou, não viu ninguém além de suas colegas de quarto. Muito pelo contrário: faltava uma.
O grito que Augusta deu acordou todas as colegas de quarto e mais algumas do outro quarto feminino, o que ficava ao lado do delas. Uma senhora do quarto feminino ao lado, foi ver o que havia acontecido, mas Augusta estava muito apavorada para explicar.
Minutos depois, Augusta disse a uma freira, que tinha ido ver qual foi o motivo do seu grito, que havia algo de errado ali, pois duas colegas de quarto sumiram repentinamente, sem que ninguém pudesse testemunhar para onde foram, e quando procuravam por elas, não encontravam nenhum rastro. Primeiro Márcia, e agora, Ellen.
-Nós vamos achá-las, minha querida. Tenham calma. –disse a freira, tentando acalmar Augusta.
-Eu não estou tão segura disso, irmã. Mas vamos tentar. –respondeu Augusta, em voz melancólica.
Então começaram a procurar, indo em todos os cantos que os abrigados tinham permissão para ir, mas não encontraram elas.
-Teremos de ir em lugares que vocês não têm permissão para ir, então prometam que vão se comportar e não mexerão em nada. –disse a freira, ao grupo que agora a acompanhava, na procura incansável por Márcia e Ellen. Concordaram e partiram para um lugar mais escuro, que continha um porão.
* * *Quando todos estavam dentro do porão, dividiram-se em grupos de duas pessoas, com o intuito de achar as desaparecidas. Caio ficou com Ângela; a freira ficou na frente, sozinha, e havia mais dois grupos de duas pessoas.
Enquanto eles andavam por caminhos diferentes no grande porão, Caio acabou se distanciando de Ângela, e quando percebeu tal fato, já havia andado bastante, estando agora numa parte de barro, cheia de túneis. Gritou por sua parceira de dupla, e em resposta, ouviu sua voz num dos túneis de barro.
-Você está aí, Ângela? –perguntou Caio.
Mas nenhum novo sinal se manifestou. Caio resolveu chamar a freira e os demais para contar sobre o sumiço de sua parceira de dupla.
Chegando ao lugar onde ele havia se separado da freira, Caio encontrou um senhor, que estava sem dupla e perguntou:
-Onde estão todos?
E o senhor, virando-se mais para Caio, respondeu:
-Sumiram todos! Não viu nenhum por aí, também?
-Não, achei que estivessem aqui. Para que lado eles foram? –quis saber Caio.
-Eu nem faço idéia. Quer ir procurar comigo? –propôs.
-Sim, vamos. –concordou Caio.
E foram andando, adentrando ainda mais no porão.
-Onde estão?-quis saber Caio.
E, virando-se, percebeu que o senhor que o acompanhava também desapareceu. Ao ver isso, Caio começou a se desesperar ainda mais, atirou-se dentro de um dos túneis, e chegando lá, viu todos os desaparecidos mortos, com seus olhos arrancados e suas línguas expostas.
Caio gritou desesperado, e viu a freira, mas de forma diferente. Ela estava com os olhos pretos, lábios largos, como os do Coringa e garras escuras. Caio só teve tempo para ouvir:-ONDE ESTÃO? ONDE ESTÃO? ESTÃO AQUI, E VOCÊ, TAMBÉM!
E tudo se acabou.
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Vidas Marcadas: Contos de Terror e Suspense
HororE-BOOK COMPLETO Obra autoral de Raiy Amoriym (Raissa Amorim), de gênero misto (conto, terror e suspense). Esta obra é completamente instigante. Expõe as experiências sobrenaturais das personagens e mostra uma visão sobre a curiosidade extrema e seu...