"Apenas Um Grito"

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     Nos encaramos profundamente, eu estava nervoso, e ela totalmente espontânea. Nossa troca de olhares me fez perceber um sentimento novo, um sentimento que meu conciente jamais detectou. Como poderia chamar tal sentimento?
    Baixei a cabeça, e comecei a andar até a parada de ônibus, que ficava a poucos metros onde eu estava, exatamente onde a menina estava. Minhas mãos estavam minando suor, meu coração acelerado. Cheguei até o ponto de ônibus. Ela colocou a mochila no chão, e se sentou no banco, eu fiquei em pé, batendo as mãos na coxa, como se estivesse tocando bateria, mas era apenas nervosismo.
    Ela olhou para meu comportamento, e sem nenhum problema me perguntou.
   - Oi, soldado...
Eu voltei até meu subconsciente, aquelas lembranças embaçaram a minha visão, virei o rosto devagar até me encontrar com o rosto dela. Com uma voz trêmula, perguntei.
   - Com...Como... assim "Soldado" ?
   - Eu te conheço muito bem, meu rapaz - Disse ela enquanto pegava alguma coisa na mochila. - Você é o moço que eu resgatei na floresta.
  - Isso é impossível, aquilo tudo não existe, foi tudo minha mente, você não entende.
  - Eu te entendo, Eduard. Sou sua mente.
- Você não é minha mente, você não é minha mente, você não é minha mente, você não é minha mente!
  - Tudo bem, rapaz? - Disse a menina.
  Era tudo a minha mente, novamente, não sei o que é real, e o que é um colapso.
  - Sim!...Sim!...Eu estou bem.
  O ônibus logo chegou, parou, e imediatamente entrei, e cacei uma cadeira que ficasse rende com a janela. A garota veio até mim, e se sentou do meu lado.
   - Você está bem mesmo? - Perguntou ela, enquanto se sentava.
   - Sim, eu estou. Nada passa de um pensamento realista, criado por minha mente vazia.
  - Bem...Meu nome é Bianca, desculpa não ter me apresentado antes, mas, eu sinto que eu já te conhecesse, como se eu tivesse te visto em algum lugar diferente, nessa vida.
    Logo que ela falou seu nome, tive a maldita certeza, era como se tudo aquilo tivesse existido, mas ao mesmo tempo não. É como se a gente tivesse tido uma overdose coletiva.
   - Prazer, Eduard - Disse apertando as mãos dela.
   - Eduard?! Cara, eu sinto como se já houvesse te conhecido, não sei bem essa sensação, mas, eu não sei te explicar.
   - A gente sonha um com outro, algo que você chama de "Destino". - Disse enquanto pegava a pintura que havia feito na noite passada. - Bianca, eu preciso te mostrar essa pintura.
    Mostrei a pintura da floresta e dos lobos e alguns rabiscos do lugar.
   - Isso é muito louco, a gente não se conhece, isso é impossível de acontecer! Eduard. Não existe possibilidade de dois adolescentes sonharem um com o outro, e sentirem o local, não tem como nos sentirmos.
   - Tá, eu nunca pensei que diria isso, mas, tenta sonhar comigo essa noite você precisa, e eu tento sonhar com você, podemos nos encontrar.
   - Você é louco, acho que nunca nos conheceríamos, provavelmente você tem problemas. - Ela alevantou e sentou na cadeira no fundo do ônibus. Eu coloquei as mãos sobre a cabeça, e novamente disse.
    - O que eu estava pensando, agora ela vai achar que eu sou um um completo drogado.
    Voltei a encarar a janela do ônibus, como se nada tivesse acontecido, como se eu não sentisse nada, ou se quer falasse.
    O que meus sentimentos falam sobre mim? Um rapaz indeciso sobre a vida, com problemas, com dores psicológicas. Não é simplesmente viver, é ter forças para continuar, algo que eu já não estava tendo. Minha vida já estava uma fossa, e se eu morresse, minha mãe estaria feliz?
   O ônibus logo chegou a maldita escola, sentia raiva em pisar naquela calçada, sentia angústia. A Bianca desceu do ônibus e se sentou em uma cadeira, perto dos meninos populares, começou a abrir um sorriso, tão gratificante, que até os carros iriam reduzir a velocidade, só para apreciar o sorriso dela.
    Eu andei até a árvore que ficava atrás da escola, me sentei e me encostei no tronco, escorreguei até sentar, peguei meu caderno de desenho e comecei a desenhar meus pensamentos, o que não fazia tanto sentido pra mim. Logo, meus planos de paz, foram arruinados pelas pessoas mais filhas da puta.
   - Eduard, " O estranho!" Está desenhando vários pênis em seu caderninho? Boiola!
  - Me deixa em paz! Cristopher.
  - Deixa eu ver o que você está fazendo - Ele tomou o caderno das minhas mãos, e começou a passar as folhas rapidamente, quase amassando.
  - Pare! - Disse enquanto tentava pegar das mãos dele.
  - Ora!...Ora! Parece que temos um apaixonado pela Bianca Andrews!
  - Por favor! Não faz isso!
   Logo uma multidão se formou para ouvir as boas novas, meu olhar estava lento, parece que tudo estava desmoronando, e eu estava desmoronando junto.
   - "Bianca, você precisa acreditar em mim, estamos conectados nos nossos sonhos" Olha galera! Parece que ele não sabe nada sobre a Bianca Andrews!
   - Como assim? - Perguntei nervosamente.
  - Bianca é uma tremenda puta! Dá para todos da escola! Uma verdadeira rodada!
- Não fala assim dela! - Peguei uma pedra que estava no chão. Bianca, estava alí, assistindo tudo, com vergonha de si mesmo. Peguei a pedra, e fui para cima dele, estava cego de raiva.
    Comecei a atingir o rosto dele com a pedra, várias vezes, até quebrar o nariz. Enquanto gritava de ódio. Logo, os zeladores chegaram e me imobilizaram, minha visita foi escurecendo, desmaiei.
    Quando acordei, estava na enfermaria, minha mãe estava lá fora, iríamos para casa. No caminho, ela reclamava de tudo, como tudo deu errado, como tudo mudou desde que o papai morreu.
   - Passei por várias decepções na minha vida Eduard, várias! Mas nunca fiquei tão envergonhada, você só me trouxe vergonha todo esse tempo, sempre me deu trabalho, tudo por causa desse seu problema maldito, você foi amaldiçoado! Se continuar assim, nunca vai ser alguém na vida.
     Meus pensamentos bloquearam, me tornei um peso para mim mesmo, e parece que minha mãe concordava com tudo, até me culpava.
    Chegamos em casa, fui até o banheiro, tirei todo o uniforme, estava nú. Liguei o chuveiro, comecei a chorar, me sentia inútil, um peso, um atraso, uma razão de tudo ter dado errado agora. Talvez devesse tomar mais remédios, preciso me controlar. Logo, as ideias louças tomaram conta, não me controlava mais. Peguei meu vidro de remédios controlados, sem contar pílula por pílula, apenas coloquei tudo que sobrava na boca, enquanto minha mão tremia, engoli.
    Minha visão estava turva, eu estava me sentindo tonto, minha boca começou a sair bolhas, logo, meu peito prendeu, minhas pernas pararam de funcionar, cair no chão do banheiro, e comecei a me tremer. Estava morrendo de overdose.
   Enquanto meu corpo se debatia no chão molhado, minha mente vagava, e se a Bianca sonhasse comigo, e se nós nos reencontramos de novo, naquele mesmo sonho, naquele mesmo lugar, e se eu estivesse começando a amar? Seria um sentimento de "adeus" ou apenas um eterno "fica" ?

 
  
              
 
   
  

 

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