"Segredos da Floresta Cinza - Pt02"

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Nunca senti tal sentimento antes, aquilo tudo era novo pra mim, cada detalhe, cada sorriso, cada choro, cada palavra torta.
- Me desculpa, Bianca...Eu sou um estranho.
- Todos somos estranhos, Eduard, tudo é estranho. A vida em si, não faz nenhum sentido, porquê morremos? Porquê vivemos? Porquê nos sacrificamos tanto, por nada? Me responde? Consegue entender? - Disse Bianca, enquanto pensava, olhando para janela da sala.
- Eu não tenho fôlego para responder tantas perguntas - Respondi.
- Então, porquê você tem fôlego para perguntar, algo que já tá escrito em nossas vidas? - Indagou ela.
- Eu só queria saber o seu passado...Como chegou a esse ponto...Como tudo aconteceu.
Ela olhou para mim, um olhar melancólico. Desconfiada, estava pronta para contar sua vida.
- Quer mesmo saber?

"Bianca Del Woods"

- Nada foi fácil, racional, básico. Nunca entendi muito minha vida, nunca fui uma garota normal, dinâmica, social. Sempre fui fechada para qualquer tipo de assunto. Sempre que chegava a noite, chorava. Como se fosse um bebê, com fome, desesperado, pelo único componente que lhe deixa vivo; O leite materno.
O tempo passa devagar na minha cabeça, só não sei como fazê-lo acelerar. Não sou complexa, nem uma paixão para qualquer vida, apenas escolhi como viver! Me isolei de tudo quando tinha 15 anos, fugi de casa, para morar com uma "amiga" que por 3 dias eu pude chamar de "minha". A única pessoa que eu confiava.
- O que aconteceu com a amizade de vocês? - Perguntei imediatamente.
- Ela espalhou para todos na escola que eu era uma puta, desqualificada, indecente. E que eu estava fugindo de casa para me prostituir. Eu dei um tapa na cara dela uns dias depois. Ela me  apunhalou , acertando no meu coração, lealdade foi para o ralo, e  mandando ela ir se foder no pensamento. Desde então, eu me tornei o que todos já haviam descoberto; Uma prostituta.
- Você virou uma prostituta?! - Perguntei, enquanto esfregava o rosto, ansioso pelas suas próximas palavras.
- Sim! A primeira vez que isso aconteceu, eu estava na guerra, atirando em todos os soldados, que vinham me afrontar, dei vários tiros!
- Mas, Bianca?
- Eu não sou a Bianca? Eu sou o soldado Cristiano Del Woods! - Disse ela enquanto vinha em minha direção. - Cala a merda dessa boca! soldado incompetente!

Logo percebi que estava tudo errado com ela. Ela tinha transtorno de personalidade, acreditava que era um general que lutou na guerra.
- Você tem que morrer! Soldado incompetente! - Disse Bianca, enquanto corria até a lareira para pegar um espeto.
- Bianca! O que você tem?! - Disse enquanto me levantava para me proteger.
- Você é um completo imbecil, espião dos vermelhos! Você irá morrer pelas minhas mãos!

Corri desesperadamente até a porta, tentar escapar era o desafio.
Sai da casa, a neve cobria meus pés, dificultando minha corrida. Ela vinha lá de dentro com toda força, como se fosse caçar um urso grande.
Eu comecei a me cansar, a floresta dificultava minha visão, junto com o nevoeiro. Era um cenário de terror.
- Você pensa que vai fugir? Soldado Júlio Del Guerras?! - Falou Bianca, enquanto corria cada vez mais.

Como qualquer azar é bem construído, me deparei com um precipício, longo e alto. Ela já tinha me alcançado.
- Bianca, você não vai querer que eu pule e morra, não é? - Falei, enquanto ficava na beira do precipício, pensando em várias possibilidades de morrer.
- Eu vou matar você! Soldado, espião! - Bianca correu, e com um pulo, me derrubou no chão. Começamos uma batalha corpo a corpo.
Nós começamos a rolar, e a todo instante segurava a mão dela, onde se encontrava o espeto. Ela parecia estar possuída, nunca havia visto tamanha força.
Minha mão estava cansada, eu estava cansado, irei morrer pela segunda vez. Ela com um golpe, atingiu meu ombro duas vezes. Eu, com a outra mão, dei um soco na cara dela, ela caiu para o outro lado, desmaiada. Peguei o espeto.
Mas não tínhamos acabado, nunca é tarde para se foder na vida. Lobos começaram a aparecer, meu ombro fodido, minha força acabada e uma personalidade caída para proteger.
- É meu fim, ou apenas o começo de tudo? - Perguntei para mim mesmo, enquanto encarava a alcatéia.
Peguei, o espeto que estava no chão, olhei para ambos os lados, meu coração acelerado indicava uma nova narrativa, um novo desafio, um novo desafio cru, da nossa mais linda adolescência.








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