"Não Preciso de Ajuda"

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Vários meses se passaram desde o sequestro seguido de ameaças. Além de eu não sofrer nada, tive um trauma absurdo depois daquilo tudo. O tempo passou, vários momentos passaram, lágrimas, gritos, desesperos, fraquezas. Não me sentia mais o mesmo.
Estava desgastado, deitado em uma cama dura e fria, a janela que antes brilhava com a luz do sol, estava novamente apagada, com a chegada do inverno. O vento soprava na janela deixando ela embaçada, impossível de olhar a rua do outro lado, o quarto escuro e melancólico, meus olhos estavam vermelhos, pensamentos rudes, sol da meia noite.
Eu tentava explicar para mim mesmo, o que estava acontecendo dentro da minha cabeça. Tentava explicar o porque de ela estar daquela maneira, tentava explicar a maneira de ver as coisas, um mundo claro, sendo apagado pelas cinzas, pelo inverno. - Porque não chega o verão? - perguntei para o quadro que eu observava na parede do meu quarto.
Como em um piscar de olhos, minha mãe entra no quarto, logo, enxugo as minhas lágrimas.
- Posso ajudar mãe? - Perguntei.
- Você está chorando de novo? Mas, não me disse que tinha melhorado?
- Não mãe....
- Se arruma! vamos no psicólogo, agora.
- Não!
- Como é que é?
- A senhora nunca entenderia o que eu sinto, aqui dentro - Disse, apontando os dedos contra a cabeça.
- Eu quero te entender, mas você precisa colaborar. Nem tudo na vida são rosas, muitas das vezes, ganhamos espinhos, e enfiamos em um jarro, um jarro que poderíamos levar para a vida inteira. Agora arrumasse, temos que ir.

Passei meus únicos 7 dias trancafiado em um quarto cinza. Nós saímos em meia rua, minha mãe saiu com um vestido longo, apertado de uma cor chamativa, azul. Eu, saí simples.
A rua não estava movimentada, não tinha muita circulação de pessoas, estava calmo e sereno. A única coisa se nos fazia companhia era um guarda-chuva. Casas vazias, cidade vazia, prédios sem cor, tempo sem cor, melhor cenário, nunca irá existir.
Começamos a apressar os passos, não queríamos perder o horário da consulta.
Eu estava nervoso, o tempo passava bem mais devagar na minha cabeça, meu rosto pálido pedia ajuda. Nunca pensei que depois daquele acontecimento daria crises de pânico.
Minha mente esvaziava a cada instante, por um motivo, minha mãe fazia eu me sentir seguro, então agarrei as mãos dela, estávamos de mãos dadas.
- Nunca mais havíamos andados de mãos dadas, desde que completei 17 anos, não é? Mãe. - Minha mãe, totalmente surpresa deu um leve sorriso e olhou para o meu rosto, com um suspiro, falou.
- Você nunca deixará de ser o meu bebê, mesmo que vá para a faculdade ano que vem.
- Eu só acho injusto tudo isso ter acontecido comigo, logo comigo! Um rapaz tão alegre e educado... Injusto.
- Querido, ninguém pode parar ou adivinhar nosso futuro. O futuro é algo inexplicável, imprevisível. Você simplesmente está sujeito a viver cada momento da sua vida, mesmo que não queira.
Me senti totalmente confortável com as palavras doces que saia da sua boca sabia, como se estivesse toda certeza no que estava me falando.
- Claro, mãe.- Respondi.

Estava ficando com um pouco de tédio e cansaço. Minha mãe estava bem, como se nunca estivesse andado na vida.
- Você vai desistir agora? Sério? Parece que trocamos de corpo - Falou minha mãe dando leves passos.
- Mãe, não tenho mais essa energia...Acho que estou no corpo errado.
- Isso é resultado da sua anemia pós traumática. - Indagou minha mãe.
- Isso não tem nada ha.... - Logo minha boca paralisou, vi o que eu nunca queria ter visto novamente, um táxi. - Mã... Mãe...Precisamos ir! - Falei me levantando.
- Qual é o problema? - Perguntou ela.
- Me diz, a senhora pediu algum táxi?
- How! Você estava cansado e eu...

- A senhora sabe que eu estou desse jeito, por causa de uma experiência traumática! Eu vi um homem levar um tiro, um tiro!

- Desculpe-me! - Pediu ela, agoniada.
- Deixe-me! - Disse eu, correndo dos meus próprios problemas.

Nunca pensei que chegaria a esse ponto, meu transtorno psicológico tomava conta do meu ser, afastando todo mundo que eu amava, por uma experiência de vida, tola.
Minha mãe ficou parada sozinha em meio a estrada, logo, a chuva fechou o clímax, caindo sobre nós. Enquanto a mim, corria sem direção, em busca de algo, que eu nem mesmo sabia o que era.





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