Capítulo 16

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               Após a longa confusão, apesar da insistência de Iero, Ray o mandou de volta para casa, para que descansasse. O jovem tatuador desejava continuar o trabalho, mas estava ciente da dificuldade que seria permanecer ali, visto que não mais se sentia tranquilo o suficiente para tatuar pessoas. Nem plenamente seguro.

             Exceto pelo ponto de sempre saber que Gerard estava por perto.

             "Gerard?"

              Silêncio.

              Talvez nem sempre ele estivesse por perto. Frank suspirou, continuando a caminhada. Estava de cabeça baixa, encapuzado e olhando para o chão, evitando que o sol de fim de manhã invadisse sua visão. Pensativo, notou que sempre se apaixonava por qualquer pessoa que lhe desse o mínimo de atenção e possibilidade de futuro. Sim, mais uma vez sentia saudade de Gerald. Ou de ter alguém que não fosse um mero amigo para conversar, como Bert. Sentia saudade de se sentir plenamente parte da vida de alguém, como uma prioridade.

             Frank deu um primeiro passo rumo ao asfalto, visando atravessar a rua sobre a faixa de pedestres, e logo sentiu duas mãos em seus ombros o puxando para trás. Caindo na calçada, sentiu o vento quente gerado pela rápida passagem de um carro, que passou de raspão. Confuso pelo acontecimento, olhou ao seu redor – e, de fato, estava sozinho. Chamou por Gerard novamente e não ouviu ou sentiu nada. Bem, talvez estivesse ficando louco. Pelo menos estava vivo, mesmo que não tivesse certeza do quão bom aquilo era.

            Retirou o capuz e passou a mão no cabelo, bagunçando-o antes de atravessar a rua. Caminhou até em casa. Estranhava a profunda necessidade de conversar com Gerard e se sentia como um adolescente que, quando descobre algo minimamente razoável, decide que precisa daquilo diariamente como fonte de prazer. Saber que raramente estava sozinho era desconcertante e um pouco bizarro, mas saber que quem o observava era aquele demônio tão amigável acalmava seu próprio coração. Mesmo que estivesse ansioso pela possibilidade de terem descoberto onde ele estava e o destruído, porque nesse caso, ele estaria preso com outro demônio chato.

             Entrou em seu apartamento e retirou a própria roupa, feliz por estar em um lugar realmente quente. Deitou-se no chão em seguida, justamente onde estavam os desenhos que fizera na noite anterior, para que tentasse invocar Gerard.

            "Gerard, aparece. Estou sozinho agora.", pensou. Apesar do medo de perdê-lo, Frank sentia que voltaria. Em geral, aquele cristão em crise de fé possuía uma ótima intuição e isso costumava vir a calhar na maioria dos casos. Contudo, o silêncio que fazia em sua própria casa era ensurdecedor devido à enorme barulheira em que sua cabeça se encontrava.

             Frank se remexeu no assoalho, tentando encontrar uma posição mais confortável para permanecer e fechou os olhos, tentando imaginar qualquer coisa que pudesse fazer com que ele parasse de pensar em Gerard. E acabou pensando na própria mãe. Sentiu-se, pela primeira vez, egoísta por não ter pensado nela em nenhum momento e estava triste por notar que talvez não a amasse de fato. O que era provavelmente injusto. Ela também não devia amá-lo tanto quanto dizia.

             – Espero que ela fique bem. – Disse, consigo mesmo. – Ou, foda-se. – Tentou mentir para si mesmo, como se não se importasse nem um pouco com o bem estar de sua mãe. Pegou o celular no bolso da calça que jazia ao seu lado e mandou uma mensagem.

             "Me diz se tá tudo bem quando puder. E, relaxa, sou seu contato de emergência. Melhoras. Deus te abençoe, mãe."

             Desligou a tela e se largou novamente no chão.

All the Demons [FRERARD]Onde histórias criam vida. Descubra agora