Capítulo 1

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Eda já estava atendendo seu último cliente do dia na loja de flores, e segurava um suspiro de alívio. Hoje foi um dia cheio de encomendas e clientes, mas longe dela reclamar dessa bênção pois só Deus sabe o quanto ela precisa desse lucro para poder continuar seus estudos.

Após terminar de empacotar o buquê de flores da Sra. Arslan, uma cliente antiga e fiél da loja, ela percebe que há mais alguém dentro do estabelecimento. Depois de se despedir da senhora, pergunta ao cliente o que deseja.
— Sra. Eda Yildiz? – pergunta o homem engravatado.
— Quem é o senhor? – Eda sai de trás do balcão e vai até o moço.
— Eu sou Demir Doǧan, gostaria de conversar com a sra. Eda Yildiz sobre essa propriedade. – diz ele quase de forma robótica.
— Eda sou eu, mas infelizmente a loja está pra fechar. Posso pedir que venha amanhã mais cedo? – Eda pergunta. Ela não iria ficar além de seu expediente na loja de flores, ainda mais por causa de um sujeito estranho como aquele homem engravatado.
— Claro que sim – diz o tal Demir e logo se vira para sair.
Antes que ele alcance a maçaneta da porta, Eda pergunta rapidamente:
— Posso saber do que se trata o assunto?
O homem faz uma explicação breve dizendo ser sobre o terreno onde fica a loja e algumas questões legais pendentes. Eda concorda com a cabeça, diz que o espera amanhã e se despede. Ela suspira. Depois do homem ter dito a pauta da conversa, a morena ficou ansiosa e nervosa, principalmente quando ouviu a palavra "questões legais". Tentou pensar se pode ter feito algo de errado ou deixado de pagar alguma conta, mas nada veio em sua mente. Teria que perguntar á tia também, mas ela estava certa que estava tudo em dia e não havia motivos para terem problemas legais. Ela é tirada de seus pensamentos com o barulho de uma buzina, e vê sua carona estacionar na frente da loja. Fifi, sua amiga e ajudante da loja, dirige uma moto daquelas super estilosas e estava com um capacete extra em sua mão, que joga pra Eda assim que ela sai. Fifi arranca com a moto e logo quebra o silêncio entre as meninas.
— Edacim, como foi seu dia? – a voz de Fifi sai abafada por conta do capacete. Eda diz que foi um dia bom para a loja e em seguida conta brevemente sobre a visita do tal homem engravatado.
— O que você acha que ele quer conversar?
— Não tenho ideia, Fifi. Mas estou um pouco preocupada com essa visita. Nunca tivemos problemas até agora, o que será que aconteceu?
— Não pense muito, Edacim. Provavelmente é apenas alguma coisa de rotina. Falou com sua tia?
— Ainda não, mas vou avisá-la assim que chegar em casa e perguntar também se tem alguma pendência sobre a qual eu não sei. – Eda responde, desanimada.
— Faça isso! E também fale com a Ceren, ela pode te ajudar e te acalmar com isso!
Eda concorda e as duas seguem em silêncio o caminho todo.






Logo elas chegam em frente ao loft onde Eda divide com Melo, sua outra amiga, e as duas descem da moto pra entrar. Enquanto entram, uma pensativa Fifi cutucou a amiga pra compartilhar sua preocupação:
— Eda, será que tem algum problema com a compra da loja? Você ainda tem os documentos que comprovam a compra?
— Não sei, espero que não. E se tivesse, porquê vieram bater em nossa porta só agora? – diz ela pensativa – Os documentos estão com a minha tia, vou pedir á ela. Será que preciso de algum advogado?
Fifi faz um gesto para que a amiga se acalme, e em seguida diz:
— Só sei de uma, eu acho bom você não estar sozinha pra essa conversa – disse desconfiada.







Assim que entram no apartamento, Fifi cutuca Eda e aponta pra Ceren, sua outra melhor amiga que estava sentada no sofá da sala. A loira, que coincidentemente era advogada, estava sentada com Melo conversando e logo perceberam a presença das duas meninas na sala. As quatro garotas se cumprimentam e conversam sobre como foi seus respectivos dias, e Eda conta do homem engravatado que foi até a loja mais cedo. Assim que termina de explicar, ela se vira pra loira e diz:
— Por isso Ceren, pensei que talvez você possa estar amanhã enquanto converso com ele! – Eda termina. Sem hesitar, Ceren responde que sim e pede para que a amiga mande uma mensagem avisando á que horas tem que estar lá. Eda pega a mão da amiga em um gesto carinhoso:
— Muito obrigada, Ceren! Estou tão nervosa, vocês sabem o quanto essa loja é especial pra mim!
Ceren logo trata de acalmar a amiga e elas, enfim, podem relaxar. Logo as quatro garotas engatam uma conversa aleatória regada á muito sorvete.

Mais tarde, Eda se prepara para dormir mas se lembra de que ainda não havia falado com a tia sobre a visita do tal homem. Ela pega seu celular e manda uma mensagem para sua tia.
"Hala, poderia ir até a loja de flores amanhã de manhã? É urgente."
Tentou esperar por uma resposta mas minutos depois foi rendida pelo cansaço.








Serkan espiou o relógio de seu celular rapidamente e viu que ainda marcava 5h da manhã. Nem amanheceu e ele já estava totalmente desperto, e bem tenso. Não conseguia dormir fazia três noites por conta de um projeto muito importante que estava prestes á fechar com uma construtora europeia, e algumas questões ainda pendentes o incomodavam absurdamente.

Rolou na cama duas vezes e, percebendo que não conseguiria mais dormir, se levantou rumo á cozinha. Enquanto o café estava sendo feito na máquina de espresso, ele estava absorto em pensamentos. Óbvio, sobre o trabalho. Faltava um único terreno para completar o quarteirão onde seria construído o luxuoso hotel de um de seus clientes mais importantes, Fikret bey. Serkan havia dado sua palavra que conseguiria aquela área para seu fiél cliente e ele não gostava nadinha de saber que o proprietário do terreno da esquina vinha ignorando todos os seus esforços em contatá-lo. Ele é tirado de seus devaneios com o apito da máquina anunciando que seu café estava pronto. Assim que terminou de beber, deixou a xícara na pia e foi se arrumar para o trabalho.








Adentrou á grande porta de madeira marrom do escritório da ArtLife exatamente ás 8:00 da manhã em ponto e logo foi abordado por sua secretária, Leyla, lhe passando sua agenda do dia. Dentre seus compromissos haviam reuniões e inspeções de terrenos, mas o ruivo logo interrompeu a tagarela secretária com um pedido:
— Leyla, por favor poderia ligar para o Sr. Demir para que venha até o escritório? Diga que é urgente!
Serkan se recusava a seguir com seus afazeres do dia sem antes tirar aquele peso dos ombros. O advogado estava há semanas se esquivando de toda e qualquer tentativa de Serkan perguntar como estavam as negociações com o proprietário da loja de flores, e ele já estava ficando impaciente com tamanha demora para a conclusão de algo tão simples como a venda de um terreno velho e comum. Precisava daquela parte de terra, portanto conseguiria. Á qualquer custo.

O advogado chega ao escritório e rapidamente se dirige á sala do chefe, aflito. Quando entra, encontra Serkan com cara de poucos amigos.
— Demir, por quê INFERNOS ainda não tenho o documento de comprovação da venda do terreno comigo? – ele estava furioso. Se lembrava de ter escutado do advogado que a compra estava quase concluída.
— Serkan bey, lhe disse que era uma situação complicada. Estou negociando! Hoje mesmo, aliás, tenho uma reunião com a proprietária! – tentou acalmá-lo, sem sucesso.
O ruivo respirou fundo uma, duas, três vezes... Serkan não gostava de complicações, ele era prático, objetivo e direto. Portanto tudo em sua vida também era. Nunca tivera problema algum em adquirir terrenos para seus projetos, ainda mais os que ele oferecia uma quantia generosa para que seus proprietários cedessem. Era algo simples, mas que vinha se arrastando por meses, e faltavam apenas algumas semanas para que Fikret bey voltasse de viagem e pedisse um relatório sobre o andamento do projeto.
Serkan usou o resto de paciência que tinha e pediu, com ênfase no LÜTFEN, que Demir resolvesse essa questão logo. Antes de o dispensar, disse ao advogado:
— Demir, se não pode fazer seu trabalho eficientemente, vou ter que substituí-lo! Essa demora pra simplesmente contatar o proprietário e fazer a oferta é inadmissível! – Serkan disse com uma calma sobre-humana.
Demir, receoso de perder seu trabalho, logo tratou de acalmar o chefe:
— Serkan bey, houve uma pequena confusão com a identificação do proprietário, mas isso já foi resolvido e irei até lá hoje mesmo fazer a proposta, merak etme!
Assim que o advogado se retirou, Serkan bufou e se sentou em sua cadeira. Precisaria procurar outro representante legal para a ArtLife em breve. O homem escuta passos e logo sua assistente Leyla entra em seu campo de visão:
— Serkan bey. – diz ela em um sussurro e aponta o telefone ao chefe – Fikret bey está na linha!

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