Capítulo 4

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Eda havia batido o pé: ela não iria mesmo até aquela reunião que aquele presunçoso homem tinha praticamente demandado que ela fosse. Ela deu mais dois socos em uma das almofadas que estava em seu colo enquanto suas amigas apenas observavam a morena, que não parecia estar perto de se acalmar.
— Como pode? Se acha o fodão e quer vir botar banca em cima de mim? DE MIM, GENTE? – Eda estava de pé andando de um lado pro outro e gesticulando frenéticamente.
— Eda, se acalme. Vá até lá, nem que seja pra dizer mais uma vez na cara dele que você não vai vender o terreno. – Ceren disse, sensata.
— Dada, talvez podem chegar em um acordo.
— Que acordo, Melo? Eu nunca vou abrir mão da minha loja e vocês sabem bem disso!
— O que mais ele disse? – Fifi perguntou, pensativa.
— Ele disse que ia acabar conseguindo o terreno de qualquer jeito... – a morena relembra suas palavras, aflita – Meninas, será que ele pode mesmo fazer isso?
Eda se senta e as meninas formam um círculo em sua volta. Então escuta suas amigas falando uma em cima da outra:
— Claro que não, Eda! – Fifi diz.
— Nunca Dada, o lugar é seu! Relaxe! – Melo reforça.
— Não, claro que não... – Ceren diz mais baixo, um pouco incerta.
As outras meninas não perceberam o comportamento nervoso da loira, que logo inventa uma desculpa e diz que precisa ir embora. De acordo com os documentos que a tia de Eda havia entregado, está tudo muito confuso e aberto á brechas para que a empresa entre na justiça querendo tomar a posse das mãos de sua amiga. Só de pensar ficou triste e desanimada, Ceren viraria a noite se necessário, mas teria que resolver isso logo.









Istanbul amanheceu chuvosa, o que fez com que Eda não quisesse nem pensar em sair debaixo de suas cobertas. Do outro lado da cidade, um Serkan impaciente já havia começado seu dia com cafeína. Ele não aguentava mais esse impasse com o terreno e queria resolver o mais rápido possível para já começar o processo de demolição das construções. Não tinha tempo (nem dinheiro) á perder. Quando estava saindo de casa, ele recebe uma ligação e o visor indica que é Engin.
— Irmão!
— Engin! Já estou saindo de casa!
— Tudo bem, liguei pra avisar que Demir já tem todos os documentos prontos para mover uma ação na justiça pelo terreno. Ele acabou de sair daqui, disse que voltaria mais tarde.
— Ele deixou uma cópia dos documentos aí? – ele faz seu caminho até o carro e entra.
— Sim, na sua mesa.
— Tamam. Estou chegando. – ele desliga e dirige até sua empresa.


Passado das 10 da manhã, Serkan percebeu que a senhorita Yildiz realmente não viria para a reunião. Ele não se surpreendeu, era uma mulher muito teimosa e cabeça-dura pra isso. Seus olhos escaneiam sua mesa, pensativo, e pousam nos papéis que o advogado tinha passado deixar aqui mais cedo. Logo, ele está decidido: teria que fazer isso da maneira mais complicada. Melhor assim, não tinha tempo para infantilidades.










Eda estava parada na frente da pequena construção que abrigava sua loja de flores e a admirava enquanto lembranças inundavam sua mente. Aquele lugar era muito especial pra ela, talvez a coisa mais valiosa de sua vida. Logo ela escuta um barulho de carro e avista sua amiga Ceren chegando, a loira tinha pedido que Eda chegasse mais cedo á loja pois tinha assuntos á falar com ela sobre a documentação da loja. Ontem, ao chegar em casa, Ceren havia avisado Ayfer que precisaria contar á amiga sobre a situação da documentação, apenas por precaução.
— Edacim! Günaydın!
— Cer, günaydın! – elas se comprimentam com um sorriso e um abraço.
— Vamos entrando?
— Ceren, você parece nervosa. Algo aconteceu?
— Vamos entrar, Eda. – Ceren anda á sua frente e para, dando espaço para que a amiga abrisse a loja.
Assim que elas entram e acomodam seus pertences, Eda chama Ceren para sentar na pequena varanda atrás da loja para que elas pudessem conversar mais confortavelmente.
— Então... o que quer conversar?
— Eda, vou ser direta. – a loira respira fundo, e continua – Sua tia me entregou uns documentos da loja outro dia e, inicialmente, pediu sigilo. Eu avisei ontem que iria falar com você hoje pois há problemas com a documentação.
— Ne? Que problemas? – perguntou a morena, aflita.
— Calma. Eles seriam muito mesquinhos se realmente tentassem algo por uma brecha que eu encontrei, mas acho que eles provavelmente deixaram passar. Eu encontrei ela por acaso, mas gostaria de avisar mesmo assim. – ela completa.
— Tudo bem... – Eda diz, incerta. Mas incentiva a amiga á continuar.
— Vocês nunca fizeram uma documentação passando as terras para seu nome, a última estava no nome da sua mãe.
— Não achei que precisasse... – Eda logo diz – E eu nem sei mexer com isso. Nem minha tia. Nunca achei que teria problemas com isso, afinal sou uma Yildiz e a propriedade passou pra mim por direito. Não é assim que funciona?
— Sem a documentação dizendo que a propriedade foi passada pra você após a morte deles não é tão simples, Eda. Essa é a brecha. Eles podem entrar com um pedido judicial alegando que a escritura não é válida e tomar sua loja.
— Mas porquê? – Eda ficou irritada. Não fazia sentido. Essa propriedade era sua herança.
— Pois você é maior de idade agora. Podemos preparar a papelada para que você faça uma documentação com o seu nome, mas com certeza demoraria meses até tê-la em mãos.
Eda bufa, inquieta. Mais uma dor de cabeça.
— Tamam, e o que podemos fazer pra que isso não aconteça?
— Esperar que eles não entrem com esse pedido, e se entrarem a gente vai contra-atacar. – vendo a amiga afobada, Ceren segura suas mãos e diz: – Mas não se preocupe, farei o impossível para que nada aconteça com a loja, tamam?
Ela murmura um "tamam", mas as palavras de sua amiga não tiveram o efeito calmante desejado. Eda estava uma pilha de nervos e ainda não era nem metade do dia. Ceren se despede, precisando ir trabalhar, mas reafirma á amiga para não se preocupar:
— Cuidarei de tudo, Edacim. Apenas foque nas suas flores, tamam? – ela diz, com um sorriso.
Ambas se despedem e Eda se organiza para oficialmente iniciar o horário de expediente da loja, quando recebe uma mensagem de sua tia:
"Chegarei mais tarde hoje, querida. Mas Fifi estará aí para lhe ajudar!"
Eda pergunta se algo aconteceu, mas a tia diz que está tudo bem. Logo um cliente chega e a morena se distrai com seus afazeres.










Ayfer estava na porta da ArtLife, não havia conseguido dormir a noite inteira pensando sobre a situação da loja e, não aguentando ficar de braços cruzados, resolveu tentar a sorte e vir fazer um apelo pessoal aos responsáveis por pressionar a sobrinha á vender seu imóvel. A mulher sabia que Eda ficaria devastada se perdesse aquela propriedade, mais que isso até, ela ficaria sem chão. Então com apenas a cara e a coragem, entrou no edifício minimalista e pediu á recepcionista para falar com o chefe.
— A senhora marcou horário?
— Não... – ela diz, desanimada – Mas esperava poder falar com ele rapidamente, é um assunto urgente e de seu interesse. Não teria como?
A moça, vendo a mulher aflita á sua frente, apenas diz para que ela se sente enquanto some portas adentro. Uns minutos depois, a recepcionista volta com um homem sério em seu encalço. Ela aponta á mulher sentada e ele vai até ela:
— Merhaba!
— Merhaba, meu nome é Ayfer. Você é o chefe disso?
— Um deles... – ele abre um sorriso – Meu nome é Engin!
— Senhor Engin, tenho um... apelo pessoal á fazer. Sei que pode achar bobo e talvez não possa fazer nada, mas é minha única chance.
Engin gesticula para que Ayfer se sente e ele se senta no sofá á sua frente.
— Senhora Ayfer, farei o possível para atendê-la. — ele espera para que ela continue.
— Vocês tem um projeto... de um hotel, se não me engano. Sua empresa já foi em nossa propriedade duas vezes pedir que a vendemos, mas simplesmente não podemos. Minha sobrinha é irredutível e muito teimosa para vir falar sobre isso de forma civilizada, pois o local é muito precioso pra ela.
— Espere... – ele interrompe, pensativo – É sobre a loja de flores?
— Sim, sim!
— Você é a dona?
— Não exatamente, quem comanda tudo é minha sobrinha, Eda. Vim lhe pedir se não há algum jeito de que possam continuar com este projeto sem que percamos nossa terra.
— Olha, senhora...
— É nossa única fonte de renda, e tem uma conexão emocional imensa com minha sobrinha.
— Eu irei conversar com meu sócio e vamos analisar a situação. Sinto muito que este impasse esteja acontecendo. – ele pausa, e continua – Não posso lhe prometer nada, mas poderia deixar seu contato comigo?
— Muito obrigada, só por ter me atendido já é alguma coisa. Espero que tenhamos uma solução pra isso.
— Eu que agradeço por ter vindo até nós tão honestamente. Eu também espero.
Ambos apertam as mãos e, depois de Ayfer deixar seu contato com a recepcionista, eles se despedem.











Eda estava empacotando um arranjo de flores quando um homem engravatado adentra sua loja. Não era o mesmo homem que viera antes, mas por alguma razão essa constatação não a acalmou. Ela terminou de embalar a encomenda que estava fazendo e deu á Fifi, que prontamente saiu em sua moto fazer a entrega. Enquanto organizava rapidamente seu balcão bagunçado com fitas e papéis de embalagem, o homem se aproxima:
— Sra. Eda Yildiz?
— Sim? – ela interrompe o que está fazendo e anda até o homem. O balcão teria que esperar.
— Esta é uma intimação judicial. – ele entrega o papel à ela e continua: – Sua presença é requerida para uma audiência na segunda-feira. Tenha uma boa tarde.
E assim se vai o homem, a deixando zonza com a informação que acabou de receber. O que? Intimação? Audiência? Ela logo tratou de ligar para Ceren, tentou uma, duas vezes, mas seu telefone estava ocupado. Eda leu o papel em sua mão e sentiu seu sangue ferver.
— CRETINO!
Hoje aquele homem ia ouvir. Ela sai pisando fundo e tranca a loja antes de sair, pronta pra armar o maior barraco naquela empresa.









Eda estava soltando fumaça pelas ventas, é seguro dizer que ela estava fora de si. Não acreditava que o homem insuportável e insolente realmente havia ido na justiça para tentar tomar sua pequena terra. Ela se sentiu triste por um momento, como pensava que um homem egoísta e influente como ele não iria fazer de tudo pra conseguir o que quer? Mas logo a fúria voltou, e ela não deixaria barato. Mandou uma mensagem pra Ceren avisando da intimação e adentrou as portas de madeira da ArtLife. Ela até se controlou nos primeiros momentos, tentando não descontar sua raiva na pobre recepcionista que estava apenas trabalhando. Porém assim que a moça avisou que seu chefe estava ocupado e não atenderia a senhorita Yildiz, ela explodiu e levantou seu tom. Quando percebeu, já estava gritando com uma mulher miúda que dizia ser a secretária do patrão e entrando na área restrita aos funcionários da empresa.

— SERKAN BOLAT! APAREÇA AQUI AGORA, SEU CRETINO!

Flowers on the FloorOnde histórias criam vida. Descubra agora