Capítulo 2

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Eda estava aflita com a visita do tal advogado. Já havia imaginado mil cenários, todos ruins, sobre o porquê aquele pequeno homem engravatado viera até sua loja. Estava sentada nos fundos de sua loja de flores, ao lado de sua tia Ayfer e sua amiga/advogada Ceren. Como não podia perder clientela, não fechou a loja e pediu que sua amiga (e funcionária honorária da loja) Fifi cuidasse das vendas por algumas horas.

Com o advogado em seu encalço, Fifi adentrou a pequena "varanda" atrás da loja, que consistia em um espaço pequeno e aconchegante com uma mesa e cadeiras rodeado de flores e plantas, onde as garotas gostavam de se reunir para tomar chá e fofocar. O advogado cumprimenta as três mulheres e Ayfer oferece para que ele se sente em uma das cadeiras. Este espaço era separado da loja por apenas uma porta de correr de vidro com cortinas, que estavam abaixadas nesta hora para dar maior privacidade á elas.

Logo que se acomoda, o advogado se apresenta formalmente:
— Merhaba, meu nome é Demir Doǧan e estou aqui como representante da empresa ArtLife de arquitetura. Não sei se já ouviram falar, mas é bem conhecida e renomada não só aqui como no resto do mundo.
Desta vez, foi Ayfer quem se pôs á falar:
— Boa tarde, Demir bey. Eu sou Ayfer e esta é minha sobrinha Eda, dona da loja de flores. E essa é Ceren, nossa advogada. Estamos um tanto quanto curiosas para saber o motivo da visita do senhor.
O advogado, então, começa a explicar sobre o mais recente projeto da ArtLife no quarteirão, e que, para concluí-lo, precisariam de todos os terrenos, incluindo o da esquina. O da loja de flores.
— Ne?
Era só o que Eda pensava. Não acreditava que sua loja estava prestes á ser rondado pelos abutres gananciosos do negócio, mas ela não deixaria que seu valioso pedaço de terra fosse afetado.
O advogado continua a listar todos os benefícios para ambos lados caso ela vendesse este terreno. Até menciona a quantia generosa que a empresa está oferecendo pagar para que as mulheres desocupem o terreno até o fim do mês. A morena, no entanto, logo o corta:
— Não estamos á venda! – e se levanta.
— Mas senhora.. – o advogado começa, para ser interrompido por uma Eda furiosa.
— MAS nada! Eu disse que esse terreno não está a venda nem nunca vai estar! Se quiserem, que construam esse hotel ou sei lá o que sem precisar ocupar meu terreno!
A morena sai pisando fundo e bufando.
Ayfer, sabendo que a sobrinha precisava de ar e um tempo sozinha, trata de retomar a conversa:
— Mas porquê o senhor está tão interessado neste terreno?
O advogado explica que a empresa já adquiriu todos os terrenos vizinhos para a realização do projeto, e que para adquirir este seria apenas uma questão de tempo. Ele enfatiza que é inviável fazer a construção sem este terreno e que gostaria muito que ela pensasse na proposta. Ayfer diz que irá pensar e o contatará no dia seguinte, e o homem se retira.

Enquanto isso, vagando pelas ruas do bairro, Eda continua furiosa. A morena, se sentindo sufocada, saiu da loja e foi dar uma caminhada pelo quarteirão para acalmar os ânimos. Era inacreditável que aquilo estava acontecendo com ela. Além de ser a única fonte de renda dela e de sua tia, a loja de flores ainda tinha uma conexão emocional gigantesca com sua vida e ela simplesmente NÃO abriria mão de suas memórias.

Flashback
18 anos antes...
— Ah, eu não acredito! Que coisa mais linda, meu amor! – a mulher dizia ao seu marido.
Estava parada na frente de uma pequena construção, bem desgastada, mas estranhamente aconchegante.
— É sua! – o homem disse, com um sorriso, balançando as chaves do local na frente de sua mulher. Ele a gira no ar e logo vê sua pequena filha chegando para a comemoração. A pequena, que estava com um vestido florido e uma flor no cabelo, correu dos braços de sua tia para o abraço dos pais, e logo estava pulando de alegria gritando "CASA"!

A menina, que tinha 5 anos, estava toda animada em ter uma "casa de flores", como ela dizia, só pra ela. Ela havia puxado de sua mãe o dom de cuidar, apreciar e conviver com as flores. Por isso, quando o homem achou este pequeno terreno á venda por um preço acessível, logo pensou nas suas meninas, e comprou para que elas transformassem aquele cantinho em uma "casa de flores", uma linda loja de flores. Sempre foi um sonho de sua mulher e, quando sua filha crescesse, ela passaria á administrar a loja. Uma herança de família. Um símbolo de um recomeço.

Eda havia parado sua caminhada e sentado em um dos bancos do parque da praça. Com lágrimas nos olhos, ela avista sua amiga Melo vindo em sua direção.
— Melo? O que faz aqui? Como me achou? – pergunta Eda.
— Eu te segui! – Melo dá um sorriso brincalhão – Brincadeira, cheguei na loja e a Ayfer hanim me explicou o que aconteceu e me mandou procurá-la pela vizinhança. – ela percebe a cara de choro da amiga e senta ao seu lado – Por que está chorando, Dada?
Eda, limpando as lágrimas com as costas da mão, logo se apressa a dizer que não é nada e muda de assunto:
— O homem já foi embora? Como foi o resto da maldita conversa?
— Ela conversará com você mais tarde, Dada. Mas agora disse que é para nós voltarmos. Ela vai assar biscoitos! – Melo se anima.
Eda dá risada da amiga e a abraça. Era nítido o quanto Melo era uma luz em sua vida, tudo ficava mais leve com seu jeito alto astral. Então, as duas amigas, de braços dados, caminham de volta á pequena loja cor-de-rosa.








De volta á empresa, o advogado se dirige ao escritório de seu chefe para lhe dizer como foi a reunião com o proprietário do terreno.
— Serkan bey? – ele bate á porta.
Serkan manda o homem entrar e gesticula para que ele se sente.
— Então? – Serkan diz, impaciente.
— Irei receber uma resposta definitiva amanhã. Mas adianto que elas não estavam muito contentes de abrir mão do terreno. Creio que teremos dificuldades em persuadí-las.
Serkan se irrita. Qual era a necessidade para tamanha demora?
— Você disse que é apenas uma questão de tempo até eu conseguir o terreno? – ele tenta manter a calma – Que ninguém vai oferecer um valor tão bom por aquele mísero pedacinho de terra? – ele bate a mão com força na mesa.
— Sim, senhor.
— Quem não aceitaria essa quantia de primeira? – ele para e pensa – Demir, você fez a apresentação direito? Conversou os detalhes?
Demir assente.
Ele não conseguia entender o motivo de tanta dor de cabeça por aquele terreno. Serkan estava sem paciência, principalmente porquê havia recebido uma ligação de Fikret bey e soube que o homem voltaria antes do previsto á Istanbul.
— Uma das senhoras é particularmente muito intimidadora, e bateu o pé dizendo que não venderiam de jeito algum. – Demir tenta dar uma explicação razoável ao chefe, que estava prestes á explodir.
Serkan bufa.
— É isso. Eu vou até lá. – ele se levanta bruscamente e decidido á ir ter uma conversa cara a cara com essa senhora.
— Mas Serkan bey...
Serkan interrompe dizendo que o advogado está dispensado. Ele pega suas chaves, seu óculos de sol e checa o relógio. 16:10. Perfeito. O ruivo sai rumo á loja de flores, não muito longe da sua empresa.

Serkan estaciona e analisa o lugar minuciosamente. Era uma lojinha adorável, tinha que admitir. Ele, então, adentra o estabelecimento e se depara com uma moça, provavelmente atendente, finalizando um buquê de flores e entregando ao cliente. Ela o acompanha até a porta e se despede usando o nome do senhor. Então, se vira á ele e, com um sorriso, pergunta:
— E o senhor, o que vai querer?

Flowers on the FloorOnde histórias criam vida. Descubra agora