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Eda terminava de atender o senhor Bariş quando percebeu uma outra pessoa dentro do estabelecimento. Era um homem alto e forte, sua postura era de um homem sério e imponente, mas não pôde ver seu rosto inteiro por causa do óculos de sol. Assim que ela termina de embalar o buquê, acompanha o senhor Bariş até a porta e eles se despedem. Era um senhor adorável, que viera buscar um buquê para sua esposa, Ayşe, com quem é casado há 30 anos. Mesmo casados há tanto tempo, a chama do amor do casal nunca se apagou, e toda semana o senhor Bariş aparece na loja, seja para comprar uma rosa ou um buquê todo para sua amada. Eda pensava se algum dia encontraria um amor assim, tão puro. Como o de seus pais. Afastando esses pensamentos melancólicos, ela se vira ao cliente perto da prateleira de incensos florais, e pergunta:
— E o senhor, o que vai querer?
Por um momento, ele parece confuso. Então ele tira o óculos, e Eda pôde ver seus hipnotizantes olhos verdes, olhando diretamente nos olhos dela e dizendo:
— Olá. Na verdade estou aqui pra falar com a proprietária desta loja.
— Com a proprietária? – Eda estava confusa.
— Sim. – ele pega um papel que estava em seu bolso e confere – Com... A sra. Eda Yildiz.
— Quem quer falar com ela? – Eda encara o homem á sua frente.
— Serkan Bolat. Garanto ser uma conversa rápida, temo que ela tenha deixado uma questão... pendente. – ele pigarreia, por alguma razão se sente meio desconfortável – Ela se encontra?
Ela se vira para voltar ao balcão da loja e ele a segue, mantendo uma distância.
— Pode falar.
Serkan fica confuso. Ele olha ao redor, procurando a tal senhora, e volta seu olhar pra moça. Ela, percebendo sua confusão, responde:
— Eu sou Eda Yildiz – ela diz, como se fosse óbvio – O senhor tem algo pra falar comigo, não é?
Ela era Eda Yildiz? A senhora furiosa e intimidante que seu advogado mencionou era aquela adorável moça? Ele não conseguia ligar a imagem á descrição. Mas logo iria, era só...
— Vim aqui conversar sobre sua propriedade. – ele menciona, apontando para a loja como um todo.
Ele vê a postura da moça mudar drasticamente para uma postura defensiva, e seus olhos estreitam, como se ela tivesse querendo intimidá-lo pra fora dali.
— O que há para conversar sobre a MINHA propriedade? – ela enfatiza o minha e coloca sua melhor cara presunçosa.
— Creio que um senhor veio aqui hoje mais cedo, Demir Doğan... – vendo que ela não falou nada, decidiu continuar – Ele fez uma proposta em nome da minha empresa e...
Ela o interrompe.
— Já disse o que tinha que dizer ao seu advogado. – ela diz irritada, e continua – Agora se me permite, tenho coisas á fazer. – diz, gesticulando para a porta, silenciosamente expulsando ele.
Serkan fica perplexo com a audácia da moça, e se recusa a sair. Ele cruza os braços e espera que ela termine o que é que esteja fazendo para dar continuidade á conversa. Eda, percebendo que o homem não se moveu um centímetro, levanta o olhar e o encontra a encarando.
— O que o senhor ainda faz aqui? – ela estava á ponto de perder a paciência.
— Eu vim aqui para conversar, e aqui ficarei até que eu faça o que eu vim fazer. – ele diz, forçando um sorriso presunçoso.
Ela bufa, sai detrás do balcão e marcha até onde o homem se encontra.
— O senhor quer comprar a minha propriedade, eu não quero vender minha propriedade, eu disse isso ao seu advogado e estou repetindo agora para o senhor. Pronto. Estamos conversados. – ela dá um sorriso forçado e se vira pra voltar ao balcão.
Ele a puxa pelo braço e, vendo a cara feia da morena, solta instantaneamente.
— Me dê cinco minutos, senhora.
— Não adianta nem 1 minuto, nada que o senhor diga ou oferte vai me fazer vender esse lugar. Portanto, desista! – ela diz, balançando a cabeça.
Ele rola os olhos e bufa.
— Isso é para seu benefício. Irei adquirir essa terra de uma maneira ou de outra, mas a diferença é que agora posso lhe oferecer um preço excelente por ela.
Eda sente seu sangue ferver. Quem ele pensa que é pra entrar em seu estabelecimento e ser tão insolente? A cota de cordialidade dela havia acabado. A morena manda a compostura pro espaço e diz, em alto e bom tom:
— Escute aqui, senhor! Ninguém, eu repito, NINGUÉM vai me tirar desse lugar. Não tem dinheiro no mundo que compre esse lugar, não vou abrir mão dele e o senhor que se vire para fazer sua construção sem essa parte! – ela diz, gesticulando – Agora, não quero mais ver o senhor e nenhum de seus robôzinhos colocando os pés na minha loja!
Serkan estava furioso. Furioso com a audácia da moça, furioso com sua teimosia e furioso que agora teria que inventar outra desculpa á seu investidor para justificar a demora da aquisição do último pedaço de terra.
— Senhora, não vá pelo caminho mais difícil. – ele tenta ficar calmo – Garanto que podemos chegar á um consenso.
— QUE CONSENSO? Você quer comprar, eu não quero vender. Pra mim, isso é um impasse sem jeito de ser resolvido! – ela grita.
— Eu vou comprar esse terreno de qualquer maneira, senhora! – ele grita de volta.
— Aaaah, eu quero ver você tentar! – ela diz, em tom debochado.
Silêncio no estabelecimento. Ambos se encaram com ódio nos olhos.
— A senhora está sendo teimosa. – ele abaixa o tom e bufa – Portanto, te darei uma última chance. Te espero amanhã em meu escritório na ArtLife ás 10:00, com certeza podemos chegar em um consenso.
Ele se vira para sair, mas ela o impede, diminui a distância entre eles e diz em mesmo tom:
— Não. Vou. Vender. Meu. Terreno.
Ele a encara e, num sussurro, diz:
— Eu sempre consigo o que eu quero, senhora.
Ele coloca seus óculos e sai, como um furacão. Eda, em um impulso, tenta ir atrás dele, mas para na frente da porta enquanto ele já está entrando em seu carro conversível:
— QUEM VOCÊ PENSA QUE É? SEU ARROGANTE! – ela grita, enfurecida e bate os pés no chão.
Ela vê o homem acelerar com o carro pra longe de sua loja e bufa, irritada.
— Calma Eda, mantenha a calma. – diz ela a si mesma, enquanto fazia um exercício de respiração que sua mãe havia a ensinado quando pequena. Sem sucesso, ela bufa.
Então, vê sua amiga Fifi chegando para seu turno e elas se cumprimentam:
— Edacim, desculpe o atraso. Fiquei presa no meu outro compromisso, eu fecho a loja hoje tamam? – Fifi diz, guardando seus pertences e já assumindo seu posto com a chegada de um cliente.
— Tamam – Eda assente, tentando disfarçar sua irritação.
Fifi percebe e rapidamente a chama:
— Tudo bem, Eda?
— Te conto mais tarde.
Fifi assente e vai atender o cliente enquanto Eda se dirige até a pequena copa da loja. Ela se senta, se servindo de uma xícara de chá e de alguns dos biscoitos que sua tia havia assado. A cada mordida, Eda se sentia mais nostálgica e uma sensação agridoce tomava conta de seu ser, alimentando seu coração com lembranças que ela nunca queria apagar da memória.Não muito longe dali, Serkan chega na ArtLife de cara amarrada e, ao adentrar sua sala, grita por sua assistente Leyla.
— Efendim, Serkan bey?
Ele bufa, tentando se acalmar.
— Leyla, lütfen chame o sr. Demir e diga que preciso que venha aqui urgente.
A mulher miúda de cabelos curtos encaracolados assente, e sai da sala. Logo escuta alguém batendo na porta e vê seu amigo e parceiro, Engin:
— Efendim, Engin? – ele diz, com uma cara nada boa.
— Serkan, o que aconteceu, irmão? Chegou aqui bufando, batendo os pés, assustou até eu que te conheço de anos!
— Só algo que potencialmente pode atrasar o projeto do senhor Fikret. – ele ri sem humor – Sabe... eu fico perplexo. Quem ela pensa que é pra falar comigo daquele jeito? – ele gesticula pensativo, falando mais pra si.
Engin, que continuava na sala, logo pergunta:
— De quem você tá falando, irmão?
Serkan cai na realidade e se lembra que seu parceiro continua ali. Antes que ele pudesse dizer algo, se ouve uma batida na porta e logo o advogado da ArtLife estava parado á disposição de Serkan.
— Engin, depois a gente continua! – ele diz e Engin assente, os deixando sozinhos.
Serkan se vira á Demir e diz:
— Fui no estabelecimento como havia dito. – ele faz uma pausa, pensativo – Acho que precisaremos tomar medidas legais.
Silêncio na sala. O advogado mexe em sua pasta procurando os documentos que vinha juntando há semanas sobre o tal terreno. Ele pega e os entrega á Serkan.
— Essa é a razão pela qual tive tanta dificuldade em contatar os donos. No papel da escritura diz uma coisa, mas na documentação diz outra.
Serkan analisa os documentos em suas mãos.
— Que confusão, alguns estão bem desatualizados. – ele diz, levantando uma sobrancelha – Deixe uma cópia desses papéis comigo e amanhã resolverei isso.
O advogado assente e logo se retira, deixando um Serkan pensativo em sua mesa. Ele levaria esses papéis para analisar melhor em casa, portanto logo retornou ao seu trabalho diário.Á noite, Eda chega emocionalmente exausta do trabalho. Ao adentrar seu pequeno apartamento, vê que sua tia está com as meninas a esperando.
— Edacim! – Ayfer levanta, indo abraçar sua sobrinha.
— Hala, está tudo bem? O que faz aqui? – ela diz, largando seus pertences na mesinha e indo até a cozinha beber água.
— Fiquei preocupada quando Fifi disse que não iria te buscar hoje – ela hesita por um instante – ...E também pela reunião, você está bem aşkım?
Eda se vira pra tia com um sorriso sincero.
— Estou bem hala, de verdade. Foi algo momentâneo. E pedi que Fifi não me buscasse pois queria caminhar um pouco! – ela coloca a mão no ombro da tia num gesto terno, e completa – Merak etme!
— Tamam... – Ayfer diz – Mas não hesite em contar nada pra mim!
Eda assente com um "tamam" e sua tia pergunta como foi o dia na loja de flores. Elas conversam e, assim que Eda termina de beber água, voltam pra sala com as meninas. Enquanto elas se distraíam fofocando entre si, Ayfer puxa Ceren para o canto e a pergunta:
— Ceren, poderia revisar alguns documentos pra mim o mais rápido possível? Eu não entendo muito dessas coisas...
— Claro que sim, Ayfer hanim — Ceren acena com a cabeça, preocupada – Algum problema?
— Tomara que não! – ela entrega discretamente uma pasta á loira – Só lhe peço que por favor não comente nada com Eda, tamam?
Ceren concorda. Logo Ayfer diz ás meninas que precisa ir pra casa e elas se despedem.Era quase meia-noite, e Serkan continuava estudando os documentos do terreno onde se localizava a tal loja de flores. Haviam documentos faltando, e era uma confusão de passa-repassa que o ruivo não se surpreendeu com a demora de seu pobre advogado para contatar o dono. Segundo a escritura, o terreno estava no nome de uma pessoa que já havia falecido e, aparentemente, a moça de língua afiada Sra. Eda Yildiz era a herdeira do pedaço de terra. O que ele estranhou foi que não havia nenhuma escritura alegando que a propriedade pertencia á ela, e nem á tia mencionada por Demir, Ayfer. Ainda pensativo, começou a sentir seus olhos pesarem e sua cabeça doer. Portanto, guardou seus papeis, fechou seu laptop e resolveu ir descansar. Resolveria esse assunto pela manhã na reunião que havia marcado com aquela senhora desbocada, ele pensou.
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Flowers on the Floor
FanfictionEda Yildiz é a destemida dona de uma aconchegante loja de flores em uma quarteirão popular de Istambul. Serkan Bolat é um renomado arquiteto ambicioso que está pra fechar um dos maiores projetos sua carreira. Tudo o que lhe falta é um pequeno terren...