Capítulo cinco

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Luciana

Eu estava amarrando o cadarço do tênis quando a voz preocupada de Carolina chegou aos meus ouvidos.

— Você tem certeza de que quer mesmo fazer isso?

Pensei que a pergunta não tinha sido bem formulada. Porque querer... bem, era um fato que eu não queria. Eu havia mentido na entrevista feita pelo Thiago quando informei que tinha passado por uma gravidez. Na realidade, tinham sido duas. A de Lara, e outra, interrompida aos quatro meses na ocasião do acidente. Meu segundo filho era um menino, e tinha sido mais uma vítima daquela tragédia. Tive medo de que, se contasse que havia sofrido um aborto, o advogado pudesse ficar com a ideia de que meu útero pudesse ter sido prejudicado em algo e, com isso, sequer me deixasse realizar os exames. Estes também me deram um pouco de medo, mas tudo havia ocorrido bem, e eu estava completamente apta a voltar a engravidar. Mas eu sabia bem a quantidade de gatilhos emocionais que aquilo causaria em mim.

Eu não queria aquilo.

Mas queria que minha filha ficasse bem. E não era difícil colocar as duas vontades em uma balança para analisar qual delas tinha um peso maior.

— Eu preciso fazer, Carol. Outra oportunidade de ganhar um dinheiro assim não vai simplesmente cair do céu. Aliás, não é nada demais. Vou ajudar um homem que quer ter um filho, realizar o último desejo de uma mulher que morreu e conseguir um dinheiro que vai me ajudar a dar uma melhor qualidade de vida para a minha filha pelos próximos anos. Vou poder comprar as próteses e todos os acessórios para esse ano e provavelmente ainda garantir a troca para o ano que vem e ter a segurança de que terei como pagar o tratamento dela por algum tempo.

— E onde você entra nessa equação, Lu? Onde a sua saúde mental se encaixa nisso tudo?

— Isso eu recupero depois. Agora eu só preciso fazer o que precisa ser feito.

Fui até o espelho do quarto onde estávamos, dando uma rápida olhada no meu reflexo. Eu estava da forma mais básica que poderia: calça jeans, tênis brancos e uma camiseta preta. Usei o prendedor de cabelo preso em meu pulso para ajeitar meus fios loiros em um rabo de cavalo. Por mais que não deixasse de ser uma 'reunião de negócios', não era algo que exigisse uma maior formalidade, nem um evento social em que eu precisaria me preocupar com maquiagem, brincos ou acessórios. Eu sempre fui uma pessoa bem básica, mas quando mais jovem... na verdade, até antes do acidente, eu era uma menina-mulher que gostava de camisetas temáticas e acessórios coloridos para acompanhar os jeans e All Star. Agora eu já não via tanta graça nisso.

Voltei a ficar de frente para Carolina, que estava sentada na minha cama, e dei a ela as instruções necessárias:

— O transporte escolar que traz a Lara chega por volta de cinco e meia. A reunião está marcada para as cinco, então não devo chegar a tempo.

— Não se preocupe. Já disse que vou levá-la lá pra casa. E fique tranquila, sabe que ela adora brincar com o Mingau. — Mingau era o gatinho da Carol. Lara realmente era louca por ele. Ela queria muito ter um bichinho, e antes do acidente estávamos estudando a possibilidade de adotar um. Mas, agora, tudo havia se tornado mais difícil. Um animal de estimação demandava tempo e dinheiro. E eu não estava com fartura de nenhuma das duas coisas.

— Obrigada por mais essa, amiga — agradeci.

— Estarei aqui para isso, sempre. Mesmo quando você toma algumas decisões às quais eu não concordo. Eu te conheço o suficiente para saber que você não vai sair bem disso, Lu.

Ela realmente conhecia. E eu sabia bem que ela estava com toda a razão. Mas, agora, não haveria mais volta.

Minha decisão já estava tomada.

A Esperança do CEO [DEGUSTAÇÃO]Onde histórias criam vida. Descubra agora