Capítulo dez

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Luciana

Como era de costume, o motorista de Marcos já estava na saída do hospital, me esperando para me levar até em casa. No entanto, pedi que ele me deixasse em outro destino. Lara estava precisando de algumas roupas novas – era incrível o quanto crescia rápido. Ela usava sempre calças compridas, por mais que eu tentasse convencê-la a, nos meses mais quentes, aceitar usar bermudas, shorts, saias, vestidos... ou qualquer outra peça de roupa mais fresca. As calças do uniforme do colégio eram muito quentes, por isso tinha conseguido junto à direção, autorização para que minha filha pudesse usar outras, de tecidos mais finos, com a condição de que fossem de cores neutras para não ter conflito com o restante do uniforme.

E eu também queria aproveitar para comprar algumas calças mais confortáveis para mim. Embora de forma ainda imperceptível sob as camisetas soltinhas que eu usava, minha barriga já começava a crescer e muito em breve não se ajustaria mais tão bem nos meus jeans. Portanto, solicitei ao James – sim, esse era mesmo o nome dele – que me deixasse no shopping e informei que dali eu seguiria sozinha para casa. Era uma distância curta, de pouco mais de dez minutos, e eu poderia pedir um Uber.

Assim foi feito. Acabei levando no shopping mais tempo do que previa, não por me distrair olhando vitrines nem nada parecido, mas por estar tão absorta em pensamentos e sentimentos que isso naturalmente me deixava um pouco lenta, tanto nos movimentos quanto nas decisões.

Quando enfim cheguei em casa já passava das cinco da tarde. Carol estava lá, esparramada no sofá da sala e concentrada digitando algo no celular. Eu poderia apostar que estava conversando com o tal Thiago, com quem eu ainda não simpatizava nem um pouco. Mas ela parou o que fazia logo que me viu chegar.

— E aí, Lu? Como foi tudo lá? — Ela fez uma pausa ao me olhar melhor e pude perceber que havia notado o desânimo em meu rosto. — Como você está?

— Está tudo perfeito com a saúde do feto — respondi simplesmente, tentando ser o mais prática e fria possível, enquanto me sentava no sofá ao lado da minha amiga.

— E com a da gestante?

— Também. Fiz o último hemograma no mês passado, lembra? Estava tudo perfeito. Inclusive a glicose está em uma taxa ótima, não precisa se preocupar com o vício em paçocas. Aliás, onde está o que sobrou daquela caixa?

— Não é dessa saúde que estou falando, Lu. Mas dessa daqui. — Ela apontou o indicador em direção à minha cabeça.

Era sério que ela queria entrar novamente naquele papo de saúde mental? Isso já era quase um luxo para mim.

Decidi, então, contar uma coisa boa.

— Sabe o que eu descobri hoje? Que meu contratante não parece ser um sujeito tão ruim quanto eu julguei de início. Bem, ele prefere Marvel, mas... ainda assim é um cara legal. Pode parecer bobagem, mas... Saber que o bebê terá um bom pai faz com que eu me sinta melhor com tudo isso.

— Vocês conversaram?

— Um pouco.

— Sobre... quadrinhos?

— Dentre outras coisas.

— E foi alguma dessas outras coisas que te deixou assim?

— Assim como, Carol? Eu estou bem.

— É claro que não está.

— Aff... adianta eu insistir que estou?

— Não. Você sabe que não. Eu te conheço mais do que ninguém. Você quer conversar sobre o que está te fazendo mal?

A Esperança do CEO [DEGUSTAÇÃO]Onde histórias criam vida. Descubra agora