Capítulo três

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Luciana

O que mais poderia ser cortado?

A tabela de gastos básicos que eu organizava já estava simplificada ao máximo. Não havia como ser mais básico que aquilo, a não ser que eu mandasse cortar a energia de casa e passasse a viver a luz de velas. Levando-se em consideração que eu precisava de um computador para montar as artes dos meus produtos, aquela definitivamente não era uma opção.

O que poderia fazer? Um emprego regular provavelmente ajudaria demais, porque eu poderia continuar com a minha loja, não importava se para isso tivesse que passar noites em claro trabalhando. Mas como eu poderia me comprometer com um emprego fixo com todos os cuidados que Lara necessitava?

Eu era Designer gráfica, trabalhava em uma empresa de marketing e tinha um salário bom, mas precisei largar tudo depois do acidente, já que passei a ser apenas eu para cuidar da minha filha. Tinha a fisioterapia três vezes por semana, as consultas médicas mensais, a psicóloga semanalmente... A agenda de Lara era relativamente lotada, e a minha, logicamente, a acompanhava. Isso sem contar as vezes que, no meio da tarde, eu era chamada às pressas na escola porque Lara havia se acidentado. Os tombos eram muito comuns no primeiro ano depois do acidente, enquanto ela ainda estava se adaptando ao uso da prótese. Atualmente, embora não fossem tão frequentes, eles ainda não eram tão raros assim.

O que eu poderia fazer para conseguir juntar mais dinheiro? Essa questão não parava de martelar a minha mente.

Fui arrancada dos devaneios quando ouvi a voz de Carolina, que entrava em minha varanda.

— Lu? Já está acordada? entrando!

Eu sabia que a pergunta era meio retórica. Eram pouco mais de sete da manhã, mas Carol sabia que eu acordava bem cedo. Quando ela chegou à minha porta, sorriu, me cumprimentando.

— Bom dia!

— Bom dia — respondi. E assobiei, em uma referência ao modo formal como estava vestida. — Tem trabalho agora cedo? Gata desse jeito, o cliente não vai resistir.

— A intenção é essa. — Ela piscou um dos olhos, entrando na brincadeira. — Estou há quase um ano tentando vender esse apartamento, agora tenho que conseguir!

Carol era corretora de imóveis. Das melhores. Acho que ela seria capaz de convencer um urso polar a comprar uma cabana no Deserto do Saara. Mas o tal apartamento era um elefante branco do qual ela não conseguia se livrar.

Ela colocou a mão dentro da bolsa e apanhou uma nota de envio dos correios, entregando-a para mim, juntamente a uma sacola com as bananas que eu tinha pedido no dia anterior.

— Larinha ainda está dormindo? Achei que fosse poder dar um beijinho nela.

— É, hoje não tem fisioterapia, nem médico, nem psicóloga... É o dia que ela pode dormir até um pouco mais tarde.

— Você também deveria. Mas já está aí no trabalho.

— Na verdade, estou fazendo contas. Ontem a Lara voltou a falar sobre correr.

— Ela não pode mesmo com a prótese atual dela, amiga?

— Não é apropriada para atividade de grande impacto, pode machucá-la e causar lesões. Na verdade, a que ela usa agora menos ainda. Já está pequena para ela, logo vai começar a machucar até no dia a dia se não for trocada logo. Mas se tudo der certo e não surgir nenhuma despesa extra, no mês que vem eu conseguirei trocar. Apesar de cara, é mais barata do que a de corrida.

A Esperança do CEO [DEGUSTAÇÃO]Onde histórias criam vida. Descubra agora